12/06/2013

Leitura conjunta do livro Crónica dos Bons Malandros de Mário Zambujal

Crónica dos Bons Malandros de Mário Zambujal

Manuel 
A Crónica dos Bons Malandros é a mais divertida comédia que li nos últimos tempos.
Jornalista de profissão e boémio por natureza, Mário Zambujal demonstra neste clássico da malandragem um conhecimento profundo do meio em que evoluem os personagens. 

Este livro, na verdade, é um clássico da malandragem; no entanto, há um pressuposto que deve estar bem presente na mente de todos os que decidirem ler o livro: malandros não são criminosos. Malandros têm sentido de humor e agem sempre em função de um certo código de honra que coloca a camaradagem entre os membros do grupo acima de todos os outros interesses. Aliás, quando as coisas correram mal nesta deliciosa história foi na sequência de um ato de traição em que um dos personagens tentou ser criminoso em vez de malandro.

Mas, mais do que defensor de qualquer catálogo de ética, este livro é uma divina comédia. Grande parte do sentido de humor do livro advém dos contrastes delineados logo no início do livro: um malandro que até conhece o museu Gulbenkian e os artistas lá representados; um outro malandro que até detesta armas. E um conjunto de malandros que até se comovem com as desgraças dos camaradas.

Ao longo do livro, Mário Zambujal vai fazendo também uma espécie de psicanálise do malandro nos seus diversos tipos: o malandro de raiz, cleptomaníaco, que hoje seria cliente de qualquer psiquiatra; o malandro tiranizado por uma infância desgraçada; o malandro que foi levado para a “má vida” por causa dos males de amores, enfim, um verdadeiro catálogo da malandragem…

Um dos aspetos que mais cativa o leitor é a linguagem super-objetiva de Zambujal; ali não há nada em excesso nem repetições; se o leitor se distrai um pouco, só tem um remédio: recuar até ao ponto onde começou a distração, porque aqui tudo é sintético e objetivo. Isto dá ao livro um ritmo narrativo muito interessante, que agarra o leitor até à última página. O final do livro é o culminar de uma grande odisseia; é um final dramático e épico onde não falta o sentimento de levar à lágrima as almas mais sensíveis.

Enfim, um livro genial que devia ser de leitura obrigatória para todos aqueles que amam a literatura portuguesa.

Ana
Há cerca de um ano atrás, li um excerto deste livro e achei imensa graça. Na altura decidi que, assim que pudesse, o iria ler.
Infelizmente, com o tempo, passou também algum do fascínio que o excerto tinha criado em mim.
Ao ler este livro, apesar das ocasionais risadas, achei que não foi tão engraçado como me lembrava. 

O ponto forte deste livro são as personagens e a comédia de situação. O autor tem um humor muito próprio. Sarcástico, mas não ao ponto de ser exagerado. Além disso a escrita do autor está perfeitamente adaptada ao estilo da história.
No entanto, também é verdade que a história central, a intriga, é praticamente inexistente. Do assalto lemos cerca de 30/40 páginas, se tanto. O resto são relatos mais ou menos bem conseguidos das vida passadas dos elementos da quadrilha. E aqui o autor consegue trabalhar bem as histórias, excepto do caso do Renato e da Marlene.
Durante todo o livro o autor fala-nos como o Renato e a Marlene são unha com carne, como ela é uma parte indissociável dele, e como ele é pacífico mas tem ocasionais ataques de fúria incontroláveis. Até aqui tudo bem. Mas quando fui ler o capítulo dedicado ao passado dos dois, eu esperava descobrir porque Renato tinha esses ataques de fúria (pois da sua aversão a armas já sabíamos o que havia para saber) e porque ele a Marlene eram 'unha com carne' e ela nada mais era que uma perna extra dele. Ora, nenhuma destas duas coisas foi explicada. Não de maneira satisfatória, pelo menos.
Em quase todas as restantes personagens isto não aconteceu, excepto com o Flávio, cuja motivação para as falcatruas, permanece um mistério.

Ainda assim, tenho de confessar que este foi um livro divertido, que me fez boa companhia nos poucos minutos que conseguia roubar para ler. Ri-me várias vezes, especialmente na parte final. E por falar no final, achei-o muito bom e algo inesperado, ou pelo menos foi uma boa jogada do autor.
Mas, no geral, não fiquei encantada com este livro. Não foi uma leitura que me marcasse, nem sequer foi tão satisfatória como esperava.
Percebo porque é tão conhecido, mas podia ter algo mais. 

Ângelo
Um líder mais meia dúzia de infortunadas vidas que se irão entrelaçar cumprem o desígnio deste livro.

Renato (o pacifico) é o líder desta quadrilha de malandros composta por:

Pedro (o justiceiro), um fugitivo por ter um desentendimento com a sua professora, encaixilhou-lhe um quadro na cabeça, os colegas apelidaram-no de justiceiro e assim ficou. Pedro após este incidente foge para a capital onde passado algum tempo está a trabalhar para um “repara tudo” especializando-se assim em fechaduras...

Flávio (o doutor), no último ano do seu curso de advocacia e já estando a trabalhar para sustentar a sua família Flávio é preso por desfalque, a mulher, Zinita, não lhe perdoa e divorcia-se levando-lhe a filha, na prisão Lúcio é a sua tormenta e Renato a sua salvação.

Arnaldo (o figurante) incapaz de manter um emprego Arnaldo vê no boxe uma fuga para um resto de vida, após um combate perdido ele desiste de ser boxeador, tenta o cinema mas não passa de um mero figurante.

Adelaide (a magrinha) casada com carlos que a quando da sua prisão a deixou sem nada, Adelaide vê-se amparada por Lina a puta ou melhor a meretriz. Procura nos amigos de carlos algum conforto ou amizade que só consegue ter com Renato e Marlene.

Silvino () gémeo o seu irmão sofreu o seu sadismo, com tanta traquinice é obrigado a frequentar um colégio interno em Lisboa, aqui forma um gang com o objectivo de assaltar automóveis, um assalto correu mal e foge segundo rezam as histórias para os Palma de Maiorca e Estados Unidos da América do Norte, volta passados alguns anos e encontra Renato no bar do Japonês.

Marlene e Renato, saltimbancos; Marlene trapezista voadora, encontra Renato num dia triste para este, no dia em que seu pai morre, Marlene ajuda-o. Oito anos passados o reencontro e os dois ficam a trabalhar no circo, até que os pais de Marlene adoecem, está fica com a promessa do director do circo que irá ter um novo companheiro, assim Renato e Marlene decidem fugir, para ganhar a vida passam a assaltar casas, são presos.

Apresentadas as personagens desta quadrilha muito peculiar, muito portuguesa, estes decidem fazer o assalto das suas vidas, o assalto final a pedido de um Italiano, como se processará o assalto algo irá correr mal, porquê?

Numa linguagem acessível e muito divertida, Mário Zambujal, faz uma crítica pitoresca da sociedade dos anos 70, onde a predominaria de afectos é encontrada naqueles que a sociedade mais despreza. Não se pense que nesta aventura fácil é tudo seco, Zambujal com o seu olhar jornalístico explorou muito bem esta divertida aventura, onde preciosidades destas também podem ser encontradas:

“e exarou, ao ouvido de Renato, o seu voto de desconfiança”

“...gente era briga, medo, sangue, gente podia chamar a morte ou a polícia”

Um livro que recomendo.

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