28/02/2014

O Jardim das Torres Invisíveis, de Qais Akbar Omar (opinião)



Opinião:
Gosto imenso de saber e tentar compreender sobre cultura de outros povos, de outros países e este género de livro agrada-me sempre muito, pois tiramos lições de vida e conhecimentos que de outra maneira só viajando fisicamente o poderíamos fazer. Quando termino fico sempre com uma sensação de que me soube a pouco, são culturas tão diferentes da nossa, que me deixam a reflectir muito tempo após ter terminado a sua leitura.
Esta autobiografia vem mais uma vez demonstrar que em todo o lado e em qualquer  lugar no mundo existem pessoas boas e más, e nesta cultura afegã, apesar de muitas coisas serem muito más e o tratamento desumano que infligem nas pessoas, as  imposições que aplicam, também se encontram pessoas de uma bondade e beleza única.
Trata-se de um livro de memórias riquíssimo sobre a cultura Afegã, contado do ponto de vista de uma criança Qais Akbar Omar que teve tudo, uma infância rica em amor, bens materiais, rodeado por uma família enorme, nunca lhe faltou nada, vivia uma vida feliz, tranquila até ser  ser  colocado à prova quando de repente tudo isso é lhe retirado, e começa com os pais e irmãos uma odisseia que parece nunca ter fim.
Quando surge a guerra vêem-se obrigados a fugir e a separar-se da restante família que tanto amam, principalmente do avô que é uma referência para Qais, com os seus ensinamentos e o seu amor, de uma vida de abundância passam para uma vida de nómadas, em que ficam sem dinheiro, sem casa, e sem comer, começam por acampar, a viver em casa de familiares, de desconhecidos que lhes dão tecto, dormem em cavernas, para conseguirem sobreviver.
Qais conta-nos as tentativas que a sua  família Omar fez para fugir e sobreviver à guerra, travam uma luta diária, passam fome, frio, vivem na pobreza, demonstram a enorme capacidade que um ser humano tem de resistir às maiores intempéries que lhe possam surgir na vida, mas continuam acreditar que viver e amar é importante acima de tudo.
Mas Qais ao longo do livro mostra-nos que soube tirar lições de vida e aprendizagens durante esses anos de sofrimento e manteve-se integro nas suas crenças e valores que o avô lhe inculcou durante a sua vida. Também durante estas fugas da família conheceu pessoas que o marcam para sempre e que nunca as esquecerá.
Quando resolvem voltar de novo para o Afeganistão e depois da guerra que pensavam que não podia haver nada pior, estavam longe de imaginar que iriam passar por provações ainda maiores, com a chegada dos Talibãs, (que significa «estudantes de Deus»!), com regras  e imposições diárias, são capazes de actos do mais cruel que possa haver, que não passam pela cabeça de uma pessoa comum, e mais uma vez este povo é colocado à prova e tem que aguentar barbaridades inimagináveis, a mulher deixa de ser uma pessoa, para passar de um momento para o outro a ser um ser insignificante sem valor, que não pode sair à rua sem estar tapada, usando a burca, não pode trabalhar, não pode sair sozinha, enfim imposições  que nunca mais acabam. Também Qais e o pai sofrem atrocidades nas mãos dos Talibãs.
Uns anos mais tarde começam os bombardeamentos dos americanos para expulsar os Talibãs, destruindo mais uma vez este país.  
Mas no meio disto tudo é gratificante ver o amor que une esta família, e daquilo que são capazes de fazer uns pelos outros, nada os demove, nada destrói a sua união.
Uma história de vida comovente e fascinante, um livro magnifico que me deu vontade de chorar muitas vezes e noutras me fez sorrir, vai ficar guardado na minha memória, é realmente muito bom, adorei.  

"Se a dor se alojar no teu coração, onde será então o lar da alegria?
As tristezas e as alegrias da vida estão todas misturadas.
Ninguém pode separá-las, exceto Aquele que as criou". (Avô Omar)

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui
Para mais informações sobre o livro O Jardim das Torres Invisíveis 

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