15/06/2010

As Três Vidas - João Tordo

Um romance narrado na primeira pessoa, todo o paradigma deste romance gira em volta deste jovem narrador que nunca chegaremos a saber o seu nome (rapaz pobre que após a morte do pai se vê na angústia de sustentar a família, aceitando um trabalho de contornos pouco lúcidos); a sua misteriosa relação (mistério e suspense é disto que este livro é feito e digamos até à última página) com o seu patrão, António Augusto Milhouse Pacal (Ex. espião e dono da misteriosa agencia MP, situada na quinta do tempo no Alentejo), com o jardineiro Artur, e os netos do patrão Nina, Gustavo e muito especial com Camila. O jovem apaixona-se pela bela Camila (neta mais velha de Milhouse), turvo por esse romance desleixa o seu cuidado a familiar e penetra num mundo sombrio que o acompanhará para os restos dos seus negros dias. Essa paixão "obriga-o" a acompanhar o patrão numa missão de resgate/salvação a Camila. Missão essa que têm um final trágico ele fica preso em Nova Iorque e inicia a sua travessia pelo estado de desgraça imensurável, o patrão regressa a Portugal sozinho e fisicamente débil. Este estado deplorável proporciona-lhe o seu futuro, sem que lhe seja deslumbrado nesse mesmo instante, aos poucos a sua recuperação é notória, partindo de Nova Iorque, para o seu regresso à vida (Portugal), a sua procura por respostas mantém-se inevitavelmente a cada página. O que se passou durante a sua ausência? Como estaria Milhouse, Artur, Camila, Gustavo, Nina a Irmã? Numa constante escrita fluida, o autor, agarra-se, aos acontecimentos 9/11/2001 para fechar uma boa parte do livro, e criar nesse mesmo instante uma mudança na atitude do jovem narrador, passando de uma destruição total para uma vida "regular" de criação profunda. Três vidas mas que poderiam ser muitas mais, ou então somente uma, aqui está um romance com uma escrita simples, directa, crua mas que nos prende à sua leitura. João Tordo está realmente num bom caminho para alcançar um lugar de distinção no Romance/Ficção da literatura portuguesa, já em Setembro seremos presenteados como um novo livro deste autor (Bom Inverno), assim para os interessados assinalem já no vosso calendário a data pois valerá a pena, uma autor a seguir cuidadosamente. Um futuro auspicioso tem este João Tordo, que apesar de benfiquista (para pena minha), tem um talento invejável entre os escritores portugueses. Este é um bom livro para se acompanhar com um Esporão Reserva 2007 (Alentejano e não da quinta do tempo), cor de intenso rubi, aroma frutado, suave como a planície com um final longo aromático.

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