02/05/2011

Como Água Para Chocolate - Laura Esquível

Quando se mistura um livro de culinária com uma história de amores desencontrados, só pode sair daí uma enorme caldeirada. Foi o que este livro, embora pequeno, me fez lembrar - uma grande caldeirada, fabricada com ingredientes peculiares: um dramalhão de amor, um livro de receitas culinárias, uns quantos terroristas da guerrilha mexicana de Pancho Villa e uns toques da fantasia literária sul-americana, encaixadas à força no romance.
Mas nem por isso se trata de um mau livro; se o fosse não teria, certamente, vendido tantos exemplares. Na verdade, o enredo é bastante imaginativo e o final é interessante pela criatividade e originalidade. Pena é que, pelo meio, os personagens vão morrendo em catadupa, pelos motivos mais variados que se possa imaginar, desde o vulgar envenenamento a um ataque fulminante de flatulência passando por uma ingestão massiva de fósforos.
Pedro ama Tita, mas casa com Rosaura. Tita ama Pedro mas acha que gosta de John e não casa com nenhum deles; refugia-se na cozinha. Gertrudis não ama ninguém mas tem um ataque de uns calores “esquisitos” e foge com os revolucionários. A mãe delas tinha um desgosto de amor (para não fugir à regra) e por isso era uma mãe malvada. Uma verdadeira Cruella. Rosaura, desgostosa por Pedro continuar apaixonado por Tita engorda até rebentar (literalmente). Como se vê, não faltam motivos de interesse para despertar a imaginação de quem lê.
O contexto histórico foi pouco explorado, o que é uma pena porque se trata de uma época interessantíssima: no México de inícios do século XX, quando os bandos armados de Pancho Villa e Emílio Zapata, lutando contra a ditadura de Vitoriano Huerta, espalharam o terror pelas propriedades agrícolas da região.
Em suma, parece-me um livro interessante mas que fica muito aquém dos grandes romances sul-americanos, em que a fantasia e o misticismo encantam quem lê. Neste caso, a culinária desvia-nos (a meu ver, é claro) desse encanto fantástico que a tradição literária da América latina tão bem soube explorar com escritores como Garcia Marquez ou Isabel Allende.

1 comentários:

Tiago M. Franco disse...

Concordo plenamente, não é um mau livro e até me deu bastante prazer quando o li, mas esta muito longe de livros como Cem Anos de Solidão. Tem certas partes que mais parece uma novela mexicana, mas tem outras muito interessantes.
Não podemos esquecer que quando foi escrito já foi a pensar numa adaptação ao cinema.