Milagrário Pessoal
de José Eduardo Agualusa
Edição/reimpressão: 2010
Páginas: 192
Editor: Dom Quixote
ISBN: 9789722041706
Coleção: Autores de Língua
Portuguesa
"As palavras, como os
seres vivos, nascem de vocábulos anteriores, desenvolvem-se e fatalmente
morrem. As mais afortunadas reproduzem-se. As mais afortunadas reproduzem-se.
Há as de índole agreste, cuja simples presença fere e degrada, e outras que de
tão amoráveis tudo à sua volta suavizam. Estas iluminam, aquelas confundem.
Umas são selvagens, irascíveis, cheiram mal dos pés, fungam e cospem no chão.
Outras, logo ao lado, parecem altivas e delicadas orquídeas."
Iara (foi este o
"momento" essencial para eu comprar livro, o nome de uma das
personagens centrais) interessa-se pelas palavras recém-nascidas através de um
programa informático, o neotrack, recolhe palavras de jornais (internet)
palavras não dicionarizadas. Um velho professor de Iara vê neste entusiasmo da
jovem uma oportunidade para estar com ela pois o seu coração já foi encarcerado
por esta jovem, a jovem Iara. Partindo deste amor Agualusa conduz-nos por uma
floresta tropical de neologismos, um tema que pessoalmente adoro num livro e
que por si só me torna imparcial para opinar sobre o livro. Claro que para se
entender a plenitude deste romance tive que andar com um dicionário colado na
contracapa.
Nessa procura, nesse
entusiasmo, pelos neologismos Iara e o seu professor tentam encontrar o
manuscrito repleto de palavras, palavras roubadas aos pássaros; um manuscrito
com os neologismos perfeitos escrito pelos pássaros doutores.
Sente-se um vibrar de
Agualusa, uma espécie de diapasão, em relação ao novo acordo ortográfico, não
se chega a entender se o acolhe ou rejeita, parece mais um alerta uma chamada
de atenção para algo que esta a acontecer e que pode ser algo de muito
relevante para o nosso futuro.
Uma referência a Camilo
Castelo Branco fabulosa, um despertar de consciência para o passado para certas
personagens que de tempos a tempos devemos ressuscitar, um tema que Agualusa
por norma recorre e introduz, e muito bem, nos seus romances. No capítulo
"Breve Refutação da Morte" sente-se mais uma achega de Agualusa,
ténue, para com o estado da nação Angolana, a sua veia crítica sempre presente.
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