27/01/2012

Milagrário Pessoal de José Eduardo Agualusa


 

Milagrário Pessoal
de José Eduardo Agualusa
Edição/reimpressão: 2010
Páginas: 192
Editor: Dom Quixote
ISBN: 9789722041706
Coleção: Autores de Língua Portuguesa

"As palavras, como os seres vivos, nascem de vocábulos anteriores, desenvolvem-se e fatalmente morrem. As mais afortunadas reproduzem-se. As mais afortunadas reproduzem-se. Há as de índole agreste, cuja simples presença fere e degrada, e outras que de tão amoráveis tudo à sua volta suavizam. Estas iluminam, aquelas confundem. Umas são selvagens, irascíveis, cheiram mal dos pés, fungam e cospem no chão. Outras, logo ao lado, parecem altivas e delicadas orquídeas."

Iara (foi este o "momento" essencial para eu comprar livro, o nome de uma das personagens centrais) interessa-se pelas palavras recém-nascidas através de um programa informático, o neotrack, recolhe palavras de jornais (internet) palavras não dicionarizadas. Um velho professor de Iara vê neste entusiasmo da jovem uma oportunidade para estar com ela pois o seu coração já foi encarcerado por esta jovem, a jovem Iara. Partindo deste amor Agualusa conduz-nos por uma floresta tropical de neologismos, um tema que pessoalmente adoro num livro e que por si só me torna imparcial para opinar sobre o livro. Claro que para se entender a plenitude deste romance tive que andar com um dicionário colado na contracapa.

Nessa procura, nesse entusiasmo, pelos neologismos Iara e o seu professor tentam encontrar o manuscrito repleto de palavras, palavras roubadas aos pássaros; um manuscrito com os neologismos perfeitos escrito pelos pássaros doutores.

Sente-se um vibrar de Agualusa, uma espécie de diapasão, em relação ao novo acordo ortográfico, não se chega a entender se o acolhe ou rejeita, parece mais um alerta uma chamada de atenção para algo que esta a acontecer e que pode ser algo de muito relevante para o nosso futuro.

Uma referência a Camilo Castelo Branco fabulosa, um despertar de consciência para o passado para certas personagens que de tempos a tempos devemos ressuscitar, um tema que Agualusa por norma recorre e introduz, e muito bem, nos seus romances. No capítulo "Breve Refutação da Morte" sente-se mais uma achega de Agualusa, ténue, para com o estado da nação Angolana, a sua veia crítica sempre presente.




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