13/11/2012

Comentários leitura conjunta "A Ilha de Caribou" de David Vann


A Ilha de Caribou

de David Vann
Edição/reimpressão: 2012
Páginas: 305
Editor: Ahab
ISBN: 9789899722859



Fica aqui o desafio de comentarem as nossas opiniões.



Manuel Cardoso
A Ilha de Caribou, para quem lê o livro sem conhecimento prévio do contexto literário ou do enredo, parece, às primeiras páginas, um tradicional livro de aventuras, numa paisagem mais ou menos idílica onde um casal decide aproveitar a aposentação para tentar remendar um casamento que perdera há muito o seu encanto. No entanto, à medida que o enredo avança, depressa nos apercebemos que o idílio é apenas aparente. Irene vira a sua mãe pela última vez quando, ainda criança, deparara com o seu cadáver pendurado numa trave. O suicídio da mãe dá o tom para o destino trágico da maioria das personagens.

Sim, é um livro negro. O pessimismo do autor perante a vida humana, perante o destino individual torna-se nítido. A paisagem idílica vai sendo substituída por toda a aridez do Alasca, que vai invadindo a alma dos personagens e de quem lê.

As imensas e intensas descrições com que o autor nos presenteia constituem o aspeto menos positivo do livro; muitas delas absolutamente desnecessárias e enfáticas conduzem a uma certa saturação, contrastando com a deficiente caraterização física e psicológica dos personagens; pelo contrário, o estilo e a linguagem do autor são excelentes, reforçados por uma excelente tradução.

Não é um livro empolgante nem sequer é um livro que surpreenda. Mas é um livro inovador em alguns aspetos: há um crescendo de emoção que culmina com um desfecho trágico mas plausível e há uma abordagem interessante da alma humana; tudo se passa como se o destino comandasse as vidas; como se a vontade individual estivesse sempre condenada. Todos os sonhos dos personagens estão condenados sem remissão. Nada há a fazer perante o devir.

Em suma, é um livro cinzento no conteúdo mas agradável na forma. Houve quem o comparasse ao livro A Estrada, de Cormac McCarthy. Com alguma razão; se A Estrada nos fala do destino negro da humanidade, A Ilha de Caribou apresenta-nos o destino negro do ser individual.


Ana Nunes
Este foi um daqueles livros que me agarrou desde a primeira página. A escrita do autor cativou-me de imediato e mesmo quando comecei a achar que as descrições eram exaustivas demais, as palavras mantiveram-me agarrada ao livro. 
A história deste livro gira em torno de uma família, como tantas outras. Apesar de as personagens serem o extremo daquilo a que uma pessoa pode chegar (este livro é feito de extremos, afinal), acredito que quase todos reconheçam em algumas personagens (ou mesmo em todas) algo familiar, algo real, talvez até pessoal.
Além da família, que é o foco central, temos outras personagens que aparecem, por vezes, apenas com o intuito de desestabilizar ou alterar ainda mais o seio da família, muitas vezes sem que eles próprios se apercebam disso.

A nível de personagens, tenho a confessar que as achei quase todas muito bem exploradas, embora em certos casos tivesse gostado de saber mais. no entanto é uma daquelas histórias em que é quase impossível simpatizar com quem quer que seja. Todas, sem excepção, são imperfeitas, mas de tal forma, que sentimos que não podemos mesmo sentir empatia com eles. Não que não pareçam reais (porque parecem, apesar de ser um real exagerado), mas porque são tão imperfeitas que parece que não há nenhuma ponta por onde se lhes pegue. e quando acontece de vermos algo a que nos agarrara, logo algo bem pior aparece e lá se vai a empatia.
No entanto, acredito que foi também isso que me vez ter vontade de saber o que aconteceria a esta gente e, embora o final seja previsível a partir do meio do livro, confesso que esperei que não se concretizasse. Não que o desfecho seja satisfatório, apenas é tão ... deprimente, que o livro inteiro parece um balde de água gelada.

A prosa do escritor (tendo em conta que li no original, inglês) é belíssima. Rica em descrições e focada. No entanto o autor perde-se em devaneios, por vezes, e com isso acaba por perder alguns leitores (quase me perdeu, ali mais para o fim). Algo que achei verdadeiramente curioso, é o facto de nunca o autor nos dar descrições físicas das personagens, como cor de cabelo, olhos, estatura, etc.

No geral, foi um livro que me agradou imenso ler, em cujas páginas me perdi e que me tocou de várias formas. Apesar de não me ter agradado o final, sei também que era o único possível, ou pelo menos aquele para que toda a narrativa apontava.
Fica a vontade de ler a sequela (não oficial, ao que parece) "A Ilha de Sukkwan". 




Ângelo Marques

"Assim, ela nunca fora real para ele, apenas uma ideia." Pág. 156

Irene e Gary um casal de reformados a viver na aridez do Alasca, Gary irá investir o resto do seu tempo, e levará Irene consigo, num sonho seu, num empreendimento pessoal, os dois iram construir uma cabana numa ilha desabitada, na ilha de Caribou no Alasca, um projecto na vida de Gary. O isolamento, o realismo imposto nos sentimentos nas situações são do melhor que se encontra por ai, no mercado. 
Irene irá entrar numa em espiral, ela o vórtice desse furacão arrastará consigo a quem dela se aproximar.
Rhoda filha de Irene tudo fará para ajudar sua mãe, mas sem o suporte de JIm, seu namorado, encontrará no irmão Mark o refúgio para levar a cabo os seus intentos.

Descrições demoradas, coisa que gosto, mas David Vann levou estas descrições ao extremo tornando o livro muito pesado, chato mesmo, por isto e por esperar mais por parte do autor fiquei desiludido.
Neste livro David Vann conta-nos a história antecedente ao seu primeiro livro "A ilha de Sukwan", coloca o leitor num melhor entendimento dos seus livros de uma forma inversa (obrigado à Andreia F. por me despertar para este indicio). 

Gosto de como ele esconde as características das personagens, delas sabemos os seus nomes e pouco mais, é contra natura mas fica bem enquadrado no estilo literário.

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