05/09/2013

CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS

CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS
 
GRAÇA – PARTE V
 
(Nota: qualquer semelhança entre o conteúdo deste texto e a realidade é, obviamente, pura coincidência, à excepção dos artistas e  dos ditadores mencionados)
 
Ontem à noite foi um estrondo, ou falando em politiquez: 'Somos uma nação em claro crescimento'.
Fui com umas amigas assistir a um concerto protagonizado por um pedaço de mau caminho ao Parque das Nações. E, por falar nisso, percebi que também existem mais linguagens secretas que não o politiquez. Como é o caso do empresarialez. Isto porque me dirigi ao Meo Arena e como o espaço parecia um tanto ou quanto abandonado, decifrei parte deste enigma. Pavilhão Atlântico significa 'temos eventos', enquanto Meo Arena 'espectáculos esporádicos'. O que uma pessoa aprende se mantiver os olhos bem abertos!
Vai daí, fomos ao concerto do mês no Meo Arena assistir a um espanholito que canta como o caraças e que tem o dom de me transformar num forno capaz de atingir 250ºC internos. Aliás, se eu fosse um instrumento musical nas mãos dele certamente seria uma castanhola.
Nesse concerto acabei também por entender que existia o musicalez e tornou-se deveras evidente quando entrou aquela fadista portuguesa que canta dez vezes melhor do que o espanhol, mas que receberá cerca de dez vezes menos do que ele por cada actuação - afinal ela canta fado, logo não pode ter um destino feliz. E então, quando eles cantaram num magnífico dueto aquela música que entope as rádios deste país, eu decifrei parte do musicalez ao avaliar a reacção das pessoas à mensagem entoada.
E fiquei aterrada!
Percebi que o musicalez é atroz. É pior do que as políticas praticadas por Hilter e Estaline juntos! Eles cantavam e o pessoal reagia estranhamente. Contudo, as pessoas presentes na plateia não eram músicos, logo não podiam conhecer os códigos encriptados.
O que é que isto significa?!
Pois! Quer dizer que estes músicos enviam mensagens subliminares para os nossos cérebros, sendo que nós as recebemos sem ter percepção disso mesmo. Pois é, caros eleitores, meu povo! Eles entram na nossa cabeça sem darmos por isso! Como os peritos americanos de marketing das maiores multi-nacionais, os comunicados militares norte-coreanos ou a intervenção das inúmeras seitas religiosas brasileiras capazes de melhorar substancialmente a vida dos fiéis em troca de 10% dos rendimentos - bem, aqui não existe mensagem subliminar, apenas idiotice receptora, mas os gajos pagam impostos, por isso, tudo corre às mil maravilhas.
Passemos ao que descobri.
Quando o Pablo - Pablito para mim porque o conheci no camarim - e a Carminho cantaram aquela música famosa eu reconheci aquilo que transmitiam pela forma como as mulheres, e alguns homens, reagiam às suas palavras. Percebi, então que 'perdonome' quer dizer 'histerismo'; si alguna vez 'grito muito agudo'; sinto volverte loca 'fazer cara sexy'; e laralalalaralalarala não corresponde a uma palavra mas sim a um movimento, obrigando as pessoas a mexerem-se como se da cintura para baixo fossem, na verdade, constituídas por gelatina.
Depois de o concerto ter acabado eu e as minhas amigas fomos passear pelas docas. Bebemos um copito e divertimo-nos um pouco. Uma ou outra pessoa reconheceu-me como sendo a ministra da educação. Distribuí beijinhos e sorrisos por toda a gente, mesmo antes de ter snifado coca numa casa de banho.
Era já tarde quando decidi que para exercer decentemente a minha profissão eu tinha de fazer algo que nunca antes um ministro fizera. Se eu trabalhava com e para os jovens, eu tinha primeiro de conhecê-los!
Genial, ah?!
Nem sei como é que ninguém se lembrara disto antes! Um ministro da educação tem de conhecer os alunos! Senti-me tão bem que liguei ao ministro da saúde explicando-lhe que ele tinha de conhecer os doentes - que contrapôs assumindo que eu nada sabia e que ele é que era um homem experiente. Depois telefonei ao ministro da defesa a dizer que ele precisava de conhecer o exército, ao que ele me disse 'exército? O que é isso? Uma ilha desabitada no Pacífico ou uma marca israelita de pás e enxadas?'. Por fim, pensando que se revelasse numa pessoa mais sensível, contactei o primeirinho ministrinho, questionando-o se não achava que era melhor conhecer os cidadãos; ele respondeu com uma gargalhada antes de desligar sem nada dizer.
Frustrada, mas querendo mostrar a diferença, desatei a falar com os jovens, enquanto cambaleava pelos bares. Concluí pois que também usavam uma linguagem envolta de mistério e ainda mais complicada do que as restantes. Diziam coisas estranhas como 'tá-se ou quê?' (mas quem é se está e qual quê?), 'lol' (diminutivo de lolita?), 'bué de cenas' (tocar oboé numa cena musical?), 'tipo ya' (que ya será esse que existe mais do que um tipo?), 'top' (mas isso não é uma peça de roupa feminina?), 'como é que é?' (mas o que é que é que não é?) ou 'hei mano' (mas mano não é irmão?). Percebi que eles eram muito mais avançados do que nós, governantes, e que talvez as minhas políticas se devessem orientar no sentido de lhes lixar as vidas, caso contrário ainda nos superariam a todos.
Mas, poça, estes miúdos são mesmo bons em não se fazerem entender! Como poderei eu liderá-los?


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