06/09/2013

CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS


CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS

GRAÇA – PARTE VI
 
(Nota: qualquer semelhança entre o conteúdo deste texto e a realidade continua sendo pura coincidência)
 
Hoje estou muito deprimida.
Resolveram fazer uma manifestação contra as medidas que adoptei. Há duas semanas fizeram outra alusiva à minha inoperância. Primeiro pensei que fosse uma festa e preparava-me para me juntar. Só depois me disseram que era um ajuntamento de indivíduos que contestavam as minhas linhas orientativas - é mais chique que manifestação. Hoje regressarão às ruas por causa daquilo que julgam ser o melhor para os nossos filhos, alunos e jovens.
Não percebo esta gente, este país e estes pais.
Pois bem, o governo tem recolhido dados que julgamos contribuir para que o ensino em Portugal esteja fraquinho. Por isso eu anunciei uma série de medidas para combater os nossos problemas, as quais o primeirinho ministrinho se mostrou totalmente de acordo - afinal somos um governo unidinho. Podeis ler e verificar como tenho razão.
1 – Elevada taxa de reprovação no ensino secundário.
O que defendia Darwin? Selecção natural, meus caros. Selecção natural. Restringir a entrada para o ensino secundário apenas a alunos com um QI superior a 120 e impedir o ingresso de adolescentes que vivam a mais do que 2 km das suas escolas, porque também há chumbos por faltas - que deverão ser devidas, na sua maioria, aos atrasos provocados pelo trânsito existente nas nossas cidades.
2 – Bullying no interior das instalações escolares.
Construir uma prisão nas próprias escolas e enjaular os alunos que apresentem um mau comportamento à vista de todos, para que, nos intervalos, os colegas possam atirar amendoins e oferecer copos de água. Assim, promovemos o sentido de responsabilidade aos que alimentam e humilhamos os detidos.
3 – Desigualdade entre o ensino público e o ensino privado.
Acabar com o ensino público. Dessa forma, tudo fica mais barato e ninguém se queixará dentro de um par de anos.
4 – Preço excessivo dos manuais.
Impedir a entrada no ensino público de alunos provenientes de famílias de baixos rendimentos para que todos possam pagar os livros e ter as mesmas condições de aprendizagem. Para que não haja desigualdade, permitir que os alunos impedidos de frequentar a escola possam voltar a ingressar passados dois anos de trabalho, podendo, portanto, pagar os respectivos manuais.
5 – Instalações de ensino deficientes.
Provocar um terramoto na região - ouvi dizer que os americanos possuem armas que produzem tremores de terra - para que os lares dos alunos tenham as mesmas condições das escolas, e, assim, não estranharem o ambiente escolar.
6 – Professores que não conseguem impor ordem nas salas de aulas.
Em cada ano lectivo, colocar o aluno mais popular da escola a dar aulas e despedir o professor menos respeitado.
7 – Roubo de material escolar.
Cortar a mão aos acusados e o braço aos condenados.
8 – Impreparação dos alunos quando da entrada para a faculdade.
Enviar os alunos para o grupo de escuteiros de cada região, ensinando-lhes como sobreviver um fim de semana sem água nem alimentos em Castro d'Aire, a caçar um veado com um fio de pesca com 27 cm - faço anos a 27 de Novembro - e arrotar o abecedário em 27 segundos sem recorrer a um refrigerante gaseificado.
9 – Perigo nas estradas que acedem às escolas.
Remover passadeiras, desactivar semáforos e eliminar passeios num raio de 500 m das escolas para que os alunos não caiam na tentação de atravessar as ruas em locais indevidos.
10 – Elevado número de queixas por parte dos alunos relativamente ao ensino em geral.
Cortar línguas que possam falar e dedos capazes de escrever. Caso seja insuficiente, cegar os alunos com um ácido não muito forte para que não possam ver defeitos e furar os tímpanos com brocas finas - iguais às dos dentistas - de modo a não escutam os disparates que ouvem diariamente.
Como vêem, não é assim nada de especial a minha lista de medidas. Podia ser pior. Ouvi dizer que no Irão se apedreja até à morte - é um caso a pensar no ponto 10, caso os alunos continuem a queixar-se - ou que em certos locais se aplicam choques eléctricos nos genitais - hm, tenho de pesquisar e averiguar se a voltagem dá para ser regulada.
Bem, mas de qualquer forma vou tirar uns dias de férias. Isto de ser contestada dá uma imensa dor de cabeça. Não que seja devida ao esforço de procurar soluções que acabam por não acudir o povo, mas porque eles gritam mesmo alto. Coitados.


1 comentários:

Guiomar Ricardo disse...

Estas medidas programáticas para a Educação são mesmo geniais...qual Finlândia,qual carapuça!Isto é que é falar...até dá gosto andar na escola,porque que é que nenhuma das nossas cabecinhas pensadoras "botou" isto cá para fora?!
KKKKKKKKK...........