CRÓNICAS
DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS
GRAÇA
– PARTE VI
(Nota: qualquer semelhança entre o conteúdo deste texto e a realidade continua sendo pura coincidência)
Hoje
estou muito deprimida.
Resolveram
fazer uma manifestação contra as medidas que adoptei. Há duas
semanas fizeram outra alusiva à minha inoperância. Primeiro pensei
que fosse uma festa e preparava-me para me juntar. Só depois me
disseram que era um ajuntamento de indivíduos que contestavam as
minhas linhas orientativas - é mais chique que manifestação. Hoje
regressarão às ruas por causa daquilo que julgam ser o melhor para
os nossos filhos, alunos e jovens.
Não
percebo esta gente, este país e estes pais.
Pois
bem, o governo tem recolhido dados que julgamos contribuir para que o
ensino em Portugal esteja fraquinho. Por isso eu anunciei uma série
de medidas para combater os nossos problemas, as quais o primeirinho
ministrinho se mostrou totalmente de acordo - afinal somos um governo
unidinho. Podeis ler e verificar como tenho razão.
1
– Elevada taxa de reprovação no ensino secundário.
O
que defendia Darwin? Selecção natural, meus caros. Selecção
natural. Restringir a entrada para o ensino secundário apenas a
alunos com um QI superior a 120 e impedir o ingresso de adolescentes
que vivam a mais do que 2 km das suas escolas, porque também há
chumbos por faltas - que deverão ser devidas, na sua maioria, aos
atrasos provocados pelo trânsito existente nas nossas cidades.
2
– Bullying no interior das instalações escolares.
Construir
uma prisão nas próprias escolas e enjaular os alunos que apresentem
um mau comportamento à vista de todos, para que, nos intervalos, os
colegas possam atirar amendoins e oferecer copos de água. Assim,
promovemos o sentido de responsabilidade aos que alimentam e
humilhamos os detidos.
3
– Desigualdade entre o ensino público e o ensino privado.
Acabar
com o ensino público. Dessa forma, tudo fica mais barato e ninguém
se queixará dentro de um par de anos.
4
– Preço excessivo dos manuais.
Impedir
a entrada no ensino público de alunos provenientes de famílias de
baixos rendimentos para que todos possam pagar os livros e ter as
mesmas condições de aprendizagem. Para que não haja desigualdade,
permitir que os alunos impedidos de frequentar a escola possam voltar
a ingressar passados dois anos de trabalho, podendo, portanto, pagar
os respectivos manuais.
5
– Instalações de ensino deficientes.
Provocar
um terramoto na região - ouvi dizer que os americanos possuem armas
que produzem tremores de terra - para que os lares dos alunos tenham
as mesmas condições das escolas, e, assim, não estranharem o
ambiente escolar.
6
– Professores que não conseguem impor ordem nas salas de aulas.
Em
cada ano lectivo, colocar o aluno mais popular da escola a dar aulas
e despedir o professor menos respeitado.
7
– Roubo de material escolar.
Cortar
a mão aos acusados e o braço aos condenados.
8
– Impreparação dos alunos quando da entrada para a faculdade.
Enviar
os alunos para o grupo de escuteiros de cada região, ensinando-lhes
como sobreviver um fim de semana sem água nem alimentos em Castro
d'Aire, a caçar um veado com um fio de pesca com 27 cm - faço anos
a 27 de Novembro - e arrotar o abecedário em 27 segundos sem
recorrer a um refrigerante gaseificado.
9
– Perigo nas estradas que acedem às escolas.
Remover
passadeiras, desactivar semáforos e eliminar passeios num raio de
500 m das escolas para que os alunos não caiam na tentação de
atravessar as ruas em locais indevidos.
10
– Elevado número de queixas por parte dos alunos relativamente ao
ensino em geral.
Cortar
línguas que possam falar e dedos capazes de escrever. Caso seja
insuficiente, cegar os alunos com um ácido não muito forte para que
não possam ver defeitos e furar os tímpanos com brocas finas -
iguais às dos dentistas - de modo a não escutam os disparates que
ouvem diariamente.
Como
vêem, não é assim nada de especial a minha lista de medidas. Podia
ser pior. Ouvi dizer que no Irão se apedreja até à morte - é um
caso a pensar no ponto 10, caso os alunos continuem a queixar-se - ou
que em certos locais se aplicam choques eléctricos nos genitais -
hm, tenho de pesquisar e averiguar se a voltagem dá para ser
regulada.
Bem,
mas de qualquer forma vou tirar uns dias de férias. Isto de ser
contestada dá uma imensa dor de cabeça. Não que seja devida ao
esforço de procurar soluções que acabam por não acudir o povo,
mas porque eles gritam mesmo alto. Coitados.
1 comentários:
Estas medidas programáticas para a Educação são mesmo geniais...qual Finlândia,qual carapuça!Isto é que é falar...até dá gosto andar na escola,porque que é que nenhuma das nossas cabecinhas pensadoras "botou" isto cá para fora?!
KKKKKKKKK...........
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