09/09/2013

CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS


CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS
 
GRAÇA – PARTE VII

(Nota: qualquer semelhança entre o conteúdo deste texto e a realidade é, claro, pura coincidência, à excepção do Eusébio, do Batatinha e do outro senhor cujo nome desconheço)
 
Uma vez ouvi uma querida amiga - bem, ex-amiga porque ela seguiu um caminho incompatível com a vida política conhecida pelo público - dizendo que as laranjas eram uma espécie de força vital no seu dia-a-dia. Não sei se a conhecem. Trata-se da Rosalina. Não tenho estado com ela ultimamente, mas basta ligar o pc e esperar que aquela publicidade chata sobre sexo me invada a navegação da Internet para perceber que ela se encontra de boa saúde. Além do mais, aprendeu novas posições e parece-me bem mais elástica do que anteriormente, levando-me a crer que tenha optado por praticar um pouco de yoga.
Mas vamos ao que interessa.
A Rosalina, que conheci no clube bimby, defendia que espremer laranjas e beber o seu sumo se revelara numa sensação única e revitalizadora. Sempre achei que exagerara, mas o raio da mulher era viciada em laranjas! Não podia viver sem elas. Assim, supus que talvez houvesse - e provavelmente ainda haja porque ainda ontem vi um filme dela no qual esmagava laranjas com os seios - um fundo de verdade nessa sua fixação.
E porque falo disto? Pois bem. A minha vida enquanto ministra não tem corrido bem. O povo defende que não sou a pessoa indicada para o cargo. Mas o que sabem eles? Nada, não é? Se o primeirinho ministrinho diz que sou competente e a personalidade indicada para tornar o ensino deste país no melhor da Europa, quem sou eu para o contrariar? Ele é o representante de Portugal, por isso é impossível que esteja errado. Mesmo que o chefe do governo fosse o Batatinha, o Eusébio ou aquele a quem chamam de Emplastro, nós, povo, teríamos de os escutar e seguir cegamente as suas doutrinas.
Mas eu vou mais além. Pelo menos tenciono fazê-lo.
Eu quero mostrar aos cidadãos que sou a pessoa certa para ocupar este cargo.
E como conseguirei isso?
Aí está! Sou ou não sou a ministra da educação? Logo educo, certo? Educando, farei com que as pessoas acreditem que sou perfeita, não podendo dessa forma ser contestada.
Pois bem. Eu sei que a ideia é um bocadinho transcendente, mas sou a ministra da educação. Eu ensino! Por isso, e tendo eu medo que um cocktail Molotov incendeie o meu cabelo quando for passear para a praia do Meco nas próximas férias, decidi mudar a cabeça das pessoas.
Ora, se as laranjas são anti-stressantes para a Rosalina, deve haver algum fruto que diga a toda a gente que 'a ministra Graça tem razão por isso não deve ser desrespeitada'.
E o que fiz eu? Deixei a coca e as festas no fim de semana, fui à FNAC comprar um kit de experiências para putos e passei pela frutaria, trazendo toda e qualquer espécie de frutos lá existente - na verdade voltei atrás e trouxe a coca porque achei que talvez pudesse fazer falta.
Depois enfiei-me na cave e pedi para não ser incomodada nem que um avião caísse na escola mais populosa da capital. Arrumei a bancada de madeira onde o meu marido costumava olear as correntes das bicicletas e colar os cacos dos mamarrachos e, na sua superfície, dispus o kit e uma peça de cada fruta. Também trouxe comigo o Croquete, o meu rafeirinho de 11 anos.
Arregacei as mangas e lancei-me ao trabalho. Peguei numa pipeta plástica e suguei uns mililitros de corante vermelho. Coloquei duas gotas numa maçã partida a meio e aguardei meio minuto. Após a espera dei um pedaço ao Croquete - não se preocupem com os testes em animais porque o kit é para putos, logo inofensivo segundo as leis comunitárias. Ele comeu e aguardei a sua reacção.
Rosnou fortemente. Rotulei a maçã de 'produto a dar ao povo quando a oposição chegar ao governo'.
A seguir coloquei corante azul num morango bem madurinho e dei a provar ao meu amigo de quatro patas. Esperei.
Ganiu tristemente. Rotulei o morango de 'produto a dar ao povo quando for necessário que seja solidário'.
Tangerina com corante amarelo.
Pinchou alegremente. 'Produto a dar ao povo quando se adoptarem novas medidas de austeridade'.
Melão com corante verde.
Adormeceu imediatamente. 'Produto a dar ao povo quando se tomarem medidas de austeridade após as outras medidas de austeridade'.
Amoras com corante roxo.
Agarrou-se à minha perna gesticulando o quadril violentamente. 'Produto a dar ao político que se fez a mim quando emagrecer uma série de quilos'.
Já agarrava um pedaço de uma banana quando percebi que não possuía mais nenhum corante. Arreliei-me porque ainda não tinha conseguido o resultado desejado. Mas não desesperei. Saquei um bocado de coca e coloquei uma gota de água em cima.
Última experiência: banana com corante branco.
E aguardei. Como o resultado tardava, não resisti ao resto da coca que sobrava.
Snifei.
E depois rejubilei.
O croquete tirou um cigarro de algures, acendeu-o e disse-me semicerrando os olhos: 'Ó ministra, faz de mim o que quiseres, pois sou toda tua'.
Sorri ao encontrar a solução para que a contestação terminasse. E então adormeci, mas ainda liguei ao meu ministério, ordenando que comprassem todas as bananeiras do país o mais rapidamente possível para plantá-las em todas as escolas existentes.


http://www.facebook.com/pages/Vasco-Ricardo/439622106051031?ref=hl


1 comentários:

Guiomar Ricardo disse...

Ora aqui temos a Ministra Graça para nos rirmos mais um bocadinho e ,assim, começarmos bem a semana...
Quem vai enriquecer é o João Jardim com as bananas...

Está Crónica está fabulosa !