CRÓNICAS
DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS
GRAÇA
– PARTE VII
(Nota: qualquer semelhança entre o conteúdo deste texto e a realidade é, claro, pura coincidência, à excepção do Eusébio, do Batatinha e do outro senhor cujo nome desconheço)
Uma
vez ouvi uma querida amiga - bem, ex-amiga porque ela seguiu um
caminho incompatível com a vida política conhecida pelo público -
dizendo que as laranjas eram uma espécie de força vital no seu
dia-a-dia. Não sei se a conhecem. Trata-se da Rosalina. Não tenho
estado com ela ultimamente, mas basta ligar o pc e esperar que aquela
publicidade chata sobre sexo me invada a navegação da Internet para
perceber que ela se encontra de boa saúde. Além do mais, aprendeu
novas posições e parece-me bem mais elástica do que anteriormente,
levando-me a crer que tenha optado por praticar um pouco de yoga.
Mas
vamos ao que interessa.
A
Rosalina, que conheci no clube bimby,
defendia que espremer laranjas e beber o seu sumo se revelara numa
sensação única e revitalizadora. Sempre achei que exagerara, mas o
raio da mulher era viciada em laranjas! Não podia viver sem elas.
Assim, supus que talvez houvesse - e provavelmente ainda haja porque
ainda ontem vi um filme dela no qual esmagava laranjas com os seios -
um fundo de verdade nessa sua fixação.
E
porque falo disto? Pois bem. A minha vida enquanto ministra não tem
corrido bem. O povo defende que não sou a pessoa indicada para o
cargo. Mas o que sabem eles? Nada, não é? Se o primeirinho
ministrinho diz que sou competente e a personalidade indicada para
tornar o ensino deste país no melhor da Europa, quem sou eu para o
contrariar? Ele é o representante de Portugal, por isso é
impossível que esteja errado. Mesmo que o chefe do governo fosse o
Batatinha, o Eusébio ou aquele a quem chamam de Emplastro, nós,
povo, teríamos de os escutar e seguir cegamente as suas doutrinas.
Mas
eu vou mais além. Pelo menos tenciono fazê-lo.
Eu
quero mostrar aos cidadãos que sou a pessoa certa para ocupar este
cargo.
E
como conseguirei isso?
Aí
está! Sou ou não sou a ministra da educação? Logo educo, certo?
Educando, farei com que as pessoas acreditem que sou perfeita, não
podendo dessa forma ser contestada.
Pois
bem. Eu sei que a ideia é um bocadinho transcendente, mas sou a
ministra da educação. Eu ensino! Por isso, e tendo eu medo que um
cocktail Molotov
incendeie o meu cabelo quando for passear para a praia do Meco nas
próximas férias, decidi mudar a cabeça das pessoas.
Ora,
se as laranjas são anti-stressantes para a Rosalina, deve haver
algum fruto que diga a toda a gente que 'a ministra Graça tem razão
por isso não deve ser desrespeitada'.
E
o que fiz eu? Deixei a coca e as festas no fim de semana, fui à FNAC
comprar um kit de
experiências para putos e passei pela frutaria, trazendo toda e
qualquer espécie de frutos lá existente - na verdade voltei atrás
e trouxe a coca porque achei que talvez pudesse fazer falta.
Depois enfiei-me na cave e pedi para não ser incomodada nem que um
avião caísse na escola mais populosa da capital. Arrumei a bancada
de madeira onde o meu marido costumava olear as correntes das
bicicletas e colar os cacos dos mamarrachos e, na sua superfície,
dispus o kit e uma peça de cada fruta. Também trouxe comigo
o Croquete, o meu rafeirinho de 11 anos.
Arregacei
as mangas e lancei-me ao trabalho. Peguei numa pipeta plástica e
suguei uns mililitros de corante vermelho. Coloquei duas gotas numa
maçã partida a meio e aguardei meio minuto. Após a espera dei um
pedaço ao Croquete - não se preocupem com os testes em animais
porque o kit é para putos, logo inofensivo segundo as leis
comunitárias. Ele comeu e aguardei a sua reacção.
Rosnou
fortemente. Rotulei a maçã de 'produto a dar ao povo quando a
oposição chegar ao governo'.
A
seguir coloquei corante azul num morango bem madurinho e dei a provar
ao meu amigo de quatro patas. Esperei.
Ganiu
tristemente. Rotulei o morango de 'produto a dar ao povo quando for
necessário que seja solidário'.
Tangerina
com corante amarelo.
Pinchou
alegremente. 'Produto a dar ao povo quando se adoptarem novas medidas
de austeridade'.
Melão
com corante verde.
Adormeceu
imediatamente. 'Produto a dar ao povo quando se tomarem medidas de
austeridade após as outras medidas de austeridade'.
Amoras
com corante roxo.
Agarrou-se
à minha perna gesticulando o quadril violentamente. 'Produto a dar
ao político que se fez a mim quando emagrecer uma série de quilos'.
Já
agarrava um pedaço de uma banana quando percebi que não possuía
mais nenhum corante. Arreliei-me porque ainda não tinha conseguido o
resultado desejado. Mas não desesperei. Saquei um bocado de coca e
coloquei uma gota de água em cima.
Última
experiência: banana com corante branco.
E
aguardei. Como o resultado tardava, não resisti ao resto da coca que
sobrava.
Snifei.
E
depois rejubilei.
O
croquete tirou um cigarro de algures, acendeu-o e disse-me
semicerrando os olhos: 'Ó ministra, faz de mim o que quiseres, pois
sou toda tua'.
Sorri
ao encontrar a solução para que a contestação terminasse. E então
adormeci, mas ainda liguei ao meu ministério, ordenando que
comprassem todas as bananeiras do país o mais rapidamente possível
para plantá-las em todas as escolas existentes.
http://www.facebook.com/pages/Vasco-Ricardo/439622106051031?ref=hl
1 comentários:
Ora aqui temos a Ministra Graça para nos rirmos mais um bocadinho e ,assim, começarmos bem a semana...
Quem vai enriquecer é o João Jardim com as bananas...
Está Crónica está fabulosa !
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