CRÓNICAS
DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS
JEREMIAS
– PARTE VI
Uns tempos antes de ter
trabalhado na noite fui pirata informático. Essa acabou por ser uma
das minhas profissões favoritas. Não tinha horários, pagavam bem e
tinha tantos clientes que me sentia obrigado a recusar alguns
trabalhos. O único contra era que não conhecia gajas novas.
Sempre fui bom com os
computadores, quase tão bom como sou na arte de mexer os músculos.
E então aproveitei quando tive a
primeira oportunidade de me transformar naquilo que acabei por ser
nos meses seguintes.
Certo dia, um amigo de longa data
apareceu diante de mim, lixado, dizendo que os filhos do patrão o
haviam tramado e que ia ser despedido por causa deles. Eu
aconselhei-o que fizesse o mesmo, que os lixasse como vingança. Ele
concordou mas assumiu que não conhecia os seus podres, embora
achasse que no computador deles haveria provas desses mesmos podres.
Num ápice surgiu a ideia.
Comprei
kits
de espionagem pela net, descobri passwords
e encontrei uma forma de aceder ao pc de cada um deles.
Rapidamente descobri a careca dos
filhos do seu patrão. Eram três, dois homens e uma mulher. No
computador do mais velho encontrei fotografias dele posando nu junto
de carros da polícia, do parlamento, de um turista dormindo na
praia, de uma árvore centenária em pleno parque da cidade e até
mesmo dentro de um táxi conduzido para um gajo parecido com uma gaja
que faz comédia para a televisão. Abona em favor do filho o facto
de não ter motivos para se envergonhar dos seus atributos. Em
seguida, vasculhei à distância o computador da filha e achei filmes
pornográficos caseiros em que ela aparecia com uma série de homens
fardados com os fatos da entidade bancária para a qual o meu amigo
trabalhara e usando bonés onde se podia ler 'who's the boss,
bitch?'. Também consegui encontrar material que pudesse entalar o
filho mais novo, pois tinha digitalizado no pc imagens da sua
colecção de selos, algo que lhe arruinaria por certo a sua
reputação.
O meu amigo abraçou-me com
força. Disse-me que os filhos estavam tramados e que um futuro
risinho se seguiria: ou seria promovido a chefe ou receberia uma
excelente indemnização; caso contrário, eles estavam mesmo
tramados. Depois comentou que eu era genial, que fotos e vídeos
depravados toda a gente os tem, mas uma colecção daquelas era
brilhante para chantagear a família. Até porque o mais novo, o gajo
selos, era o mais implicativo deles todos.
E resultou na perfeição.
Não só se tornou
vice-presidente da empresa, como se transformou numa espécie de
filho adoptivo do patrão, passando inclusivamente a constar no seu
testamento. Hoje penso que o velho teria uma série de segredos mais
negros do que os filhos. Talvez preferisse jogar snooker em
vez de golfe ou não abdicasse de conduzir o seu próprio veículo em
vez de requerer os serviços de um motorista. Só escândalos dos
grandes, portanto. Todavia nunca cheguei a vasculhar, pois daí em
diante eu passaria a ser um profissional no ramo e um gajo, para
ganhar nome no mercado, necessita de sigilo e de um rigoroso sentido
ético.
Ética é tudo, que o digam as
gajas que me passaram pelas mãos. Nunca mencionei o nome delas. Que
o diga a Sónia Marmeladas.
Rapidamente a palavra se
espalhou. Tornei-me num dos melhores piratas informáticos do mundo.
Armas químicas na Síria? Há
décadas que sei disso. Até sei que se encontram no meio do deserto
e tudo.
A informação obtida por Julian
Assange? Passei metade do que ele expôs em troca de uma gaja sueca,
que são difíceis de encontrar.
O espião Edward Snowden? Apenas
ficou famoso depois de eu me ter saturado de descobrir os segredos
dos outros e me ter reformado de vez.
A pedofilia no Vaticano? Teria
imprimido e enviado para os jornais a lista de padres e cardeais
implicados, só que não tinha tinteiro que chegasse na altura, e,
para ser sincero, sou um homem religioso.
A
roupa interior do José Castelo Branco? Bem, isso deixou de ser
segredo quando os media
decidiram dar-lhe tempo de antena.
A verdadeira identidade do
Batman? O Batman não existe, seus tolos, mas já comi a Catwoman.
Mia que se farta.
Como disse, fartei-me desta vida
e mais ainda quando me sentia perseguido pelos serviços secretos de
todo o mundo. Falhados, se ao menos tivessem vida própria não
andariam atrás de mim.
1 comentários:
kkkkkkkkkkkkkkkkk.................
Falhados!
Jeremias só há um,este e mais nenhum!
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