29/01/2014

A Conspiração dos Fidalgos (opinião)


"A Conspiração dos Fidalgos", Alexandre Rocha (Ésquilo)

Opinião (Ana Nunes):
Escrever uma opinião sobre este romance é uma tarefa um pouco difícil, já que o li em duas partes, com um intervalo bastante grande pelo meio, Mas vou tentar ser o mais objectiva possível.
"A Conspiração dos Fidalgos" foi sugerido como leitura para o Clube de Leitura de Braga, pelo próprio autor que esteve presente no dia da discussão, juntamente com os membros do clube.
Não é segredo nenhum que o romance histórico está longe de ser o meu género literário favorito, mas como gosto sempre de experimentar novos terrenos, foi com curiosidade que iniciei esta leitura.

O livro, por si só, está praticamente dividido em duas partes, uma no Brasil, e outra em Portugal. As duas têm tons narrativos bastante distintos, que acompanham, de certa forma, a evolução da personagem e, claro, as diferenças sociais e culturais de cada local.
O que mais gostei na primeira parte foi da descrição da vida na fazenda e depois, na segunda parte, o contraste com a vida na corte. No entanto achei a primeira parte um pouco fantasiosa demais, especialmente quando o protagonista ficou preso numa ilha. Toda a situação me fez lembrar o "Vida de Pi" e falhou em ser tão profundo quanto este. Também não apreciei o facto de o autor, deliberadamente, nos esconder acontecimentos que mais tarde foram revelados do nada, e que, segundo a narrativa, deveriam ter sido mostrados anteriormente (*spoiler* refiro-me ao facto de o protagonista ter trazido uma fortuna imensa da ilha; muito conveniente *fim de spoiler*).
Outra coisa que me incomodou na primeira parte foi o desfecho do romance. Aquele desenlace surgiu do nada. pois nada fazia prever que a rapariga fosse fazer algo semelhante ao protagonista. Felizmente na segunda parte isto foi resolvido (*spoiler* com outro interesse amoroso *fim de spoiler*) mas ainda assim ficou o amargo do antigo romance cujo término não me convenceu.
Por outro lado gostei muito de como o autor retratou a família e o relacionamento familiar do protagonista.

Passando à segunda parte, já em território português, a história tornou-se mais dinâmica mas também um pouco mais sombria, mais cheia de intrigas, como convinha à vida na corte. Aqui o romance foi muito melhor conseguido e a história fluiu bem, apesar de em momentos os acontecimentos serem muito convenientes, Gostei da visão do autor sobre a Conspiração. Só me fez um pouco de confusão a quantidade de personagens que surgiram e que acabaram por se atropelar, já que não havia possibilidade de dar protagonismo a todas.
Só não achei muito credível a forma como o protagonista falava com os monarcas, como se fossem amigos. Parece-me um pouco fantasioso demais, mesmo depois de toda a Conspiração ter acontecido.
O fim dado à família do protagonista foi bem conseguido e até inesperado, o que acabou por ser bom para a trama. Já a cena da vingança me pareceu excessivamente longa e preenchida de personagens e acontecimentos sem grande relevância.

Do que não gostei menos neste livro, foi da situação das 'vidas passadas' e 'vidas futuras'. Achei toda a trama irrelevante, inconsequente e sem grande interesse. A história teria tido o mesmo (ou ainda mais) impacto sem a história paralela no tempo presente. Afinal de contas o leitor, a determinada altura, já nem se recordava que existia essa 'vida paralela'.

A prosa do autor é bastante atractiva e as suas descrições, na maioria das vezes, não são exageradas, dando vida aos locais e situações. No entanto tem um tom um pouco romântico de mais para o meu gosto e perdia-se demasiado com filosofias, em situações que as faziam soar forçadas.  Também achei que certos diálogos soavam demasiado modernos, com palavras que não se encaixavam no tempo, e atitudes pouco convencionais.
Tenho é de deixar uma nota de apreço pelo facto de o texto do autor ser português de Portugal. Não tenho nada contra o português do Brasil, mas foi uma surpresa agradável ler assim e ver todas as palavras pouco conhecidas explicadas em pequenas notas de rodapé (serei eu a única a gostar de notas de rodapé, quando estas auxiliam o texto?).

Resumindo, este livro foi uma leitura interessante e onde se vê a paixão do autor pelo romance histórico; onde é possível visitar um Brasil ainda colonial, e um Portugal ainda governado pela monarquia, de forma corriqueira e sem grandes pretensões. Não foi um livro excepcional, mas satisfez-me, e teve cenas marcantes, com personagens interessantes.

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