22/10/2011

Terraços de Teerão, de Mahbod Seraji


Este romance tem como pano de fundo Teerão, capital do Irão e decorre entre 1973 e 1974. É um período de transição entre o regime opressivo do Xá Reza Pahlevi e a revolução islâmica liderada pelo aiatola Komeini. O Xá é derrubado em 1979, ao que se segue a invasão do Irão pelo Iraque numa guerra que durou mais de oito anos e resultou na morte de um milhão de pessoas.

É neste contexto de incerteza, de insegurança e medo, em que as pessoas anseiam pela mudança pois estão fartas de sofrer, que o autor nos dá a conhecer um pouco da cultura do seu país, um país muitas vezes incompreendido mas com uma cultura muito rica e secular, sendo o povo iraniano descendente dos persas. Para esse fim, Mahbod Seraji recorre a uma história onde podemos encontrar uma série de valores universais tais como o amor, a amizade, a lealdade, a esperança, o idealismo, a liberdade, mas onde encontramos também anseios, o medo, a dor e o sofrimento. É uma história de vida e de experiências humanas comuns a qualquer povo, independentemente da sua religião, cultura ou raça. Os personagens principais são dois adolescentes e melhores amigos, o Pasha e o Ahmed que, durante as férias de verão, adoram passar o tempo nos terraços da sua rua onde conversam, trocam confidências, sonham com um futuro risonho, falam dos seus primeiros amores mas, principalmente, na frescura da noite, estão em contacto directo com as estrelas nesse espaço infinito onde conseguem identificar “as suas” estrelas e as dos seus familiares e amigos mais próximos. Em tempo de férias não existem preocupações, pelo que os dois amigos passam o tempo a jogar à bola, a conversar sobre raparigas, a pregar partidas, enfim, aproveitar ao máximo antes de começarem as aulas. Entretanto, Pasha conhece o Doutor (alcunha dado este ter formação universitária), que se tornará seu mentor, um jovem culto e idealista, com uma visão progressista e que defende o desenvolvimento e a criação de melhores condições de vida para todo o povo e não só para uma minoria no poder. Ambos se tornam grandes amigos pois partilham não só certas ideias como também o gosto pela leitura num país onde ainda havia livros proibidos. Pasha apaixona-se por Zari, uma rapariga que está prometida ao Doutor, o que o coloca numa situação embaraçosa. Por um lado, a sua amizade e lealdade pelo Doutor estão acima de tudo, mas, por outro, não consegue deixar de pensar em Zari nem controlar os seus sentimentos por ela, que crescem a cada dia.
O Doutor defende que o futuro do Irão só pode melhorar se o Xá for deposto pois não passa de um fantoche colocado no poder pelos americanos. Estes, através da CIA, ajudaram o regime a criar a sua própria polícia secreta, a SAVAK. O regime insiste em fazer passar a mensagem de que a SAVAK não existe e que não passa de uma mera fantasia popular. Porém, as buscas, as penas de prisão injustificadas e sem qualquer julgamento, o desaparecimento de pessoas que são levadas para a cadeia onde são torturadas e mortas provam o contrário. O medo e a desconfiança imperam nas ruas, qualquer denúncia, mesmo falsa, pode levar ao qualquer um para a cadeia, onde horror das torturas é sobejamente conhecido. Apesar disto, a vida de Pasha e dos seus amigos decorre com normalidade e sem grandes preocupações. O verão vai passando até que algo de inesperado acontece e deixa toda a gente perplexa: o Doutor foi preso pela SAVAK, que tem conhecimento das suas actividades, que considera subversivas. Os acontecimentos precipitam-se e nada mais será igual na vida destes adolescentes. São novos demais para o sofrimento a que vão estar sujeitos, são como que obrigados a amadurecer e a tornarem-se adultos precocemente, mas os laços de amizade que os unem fortalecem-se e a esperança num futuro melhor, para além de todas as provações, dá-lhes alento para a vida.

Penso que o autor nos quer demonstrar, através deste seu romance, que qualquer cultura, raça ou religião, por muito diferentes que sejam, não devem ser julgadas sem as conhecermos, pois isso não passaria de preconceito. Um país, neste caso o Irão, não pode ser associado só ao mal pois em todos os países há pessoas boas e pessoas más. Não deixa de merecer uma reflexão o papel e a influência que os Estados Unidos têm no mundo, nem sempre agindo de acordo com a grandeza de uma nação que deveria liderar pelo exemplo.
Neste romance, facilmente nos identificamos com as suas personagens, quem não se recorda da sua adolescência, dos seus primeiros amores, de um professor mais excêntrico? Através dele ficamos a conhecer um povo caloroso e sofrido assim como a sua cultura muito particular. E o autor fá-lo através de uma escrita poética e nós somos levados com ele na sua narração fluida e poderosa. Para além do dramatismo inerente às circunstâncias vividas pelas personagens, nunca é demais realçar o humor, aqui personificado em Ahmed, através do qual o autor nos consegue arrancar umas boas gargalhadas.

Nesta história de amor, numa época em que um povo anseia e luta pela liberdade e por um futuro melhor, a sua mensagem é forte e universal, pelo que não resisto a resumi-la com uma frase do autor (se tal é possível…): “… a vida é um pequeno preço a pagar por aquilo em que acreditamos”.
 MAHBOD SERAJI veio para os EUA em Maio de 1976, com o objectivo de obter o grau de bacharel em Engenharia Civil. Mas não muito depois da sua chegada, a reviravolta e a agitação tomaram conta do seu país – o Xá foi derrubado em 1979, ao que se seguiu a chegada dos aiatolas ao poder sob o comando de Komeini e a invasão da zona ocidental do Irão pelo Iraque, dando início a uma guerra que durou mais de oito anos e ceifou um milhão de vidas. Mahbod foi forçado a mudar de planos, ficando na Universidade de Iowa até 1989, onde completou o doutoramento. 

TRADUZIDO EM 11 LÍNGUAS: Chinês, Russo, Sérvio, Coreano, Turco, Espanhol, português, Islandês, Italiano, Hebraico e Croata.


CITAÇÕES DE IMPRENSA ESTRANGEIRA

«Terraços de Teerão combina uma história de amor em plena adolescência com a exaltante narração da luta contra a ditadura. Uma obra que nos dá a conhecer a cultura iraniana, com personagens em que universalmente nos reconhecemos. Um romance que daria um excelente filme.» - Reese Erlich

MENÇÕES HONROSAS ATRIBUÍDAS A TERRAÇOS DE TEERÃO:
 
• Livro do Ano 2009-10 seleccionado pela Universidade Villanova.
 
• Seleccionado para o Festival Literário Escrita de Primavera.

• Associação Dos Livreiros Americanos escolhe-o como excelente estreia literária.

• Reading Group Guides elege-o para o seu Top 25 de 2009.

• Bay Area Books considera-o como um dos 50 livros notáveis de 2009.

5 comentários:

Miguel Pestana disse...

Olá Luís.

Gostei de ler o teu comentário a este livro do autor Seraji.

Li-o também muito recentemente e achei fabuloso. É uma lufada de ar fresco na maneira de escrever e fazer suspense ao leitor, que não é muito comum.

http://silenciosquefalam.blogspot.com/2011/10/terracos-de-teerao-mahbod-seraji.html

Boas leituras

Paula disse...

Parece bastante interessante :) depois vais emprestar-me :D
Quando a minha pilha baixar...

Luís Miguel disse...

Miguel,
É realmente um livro que se lê com prazer, está muito bem escrito, num estilo poético e com personagens com as quais facilmente nos revemos. Por outro lado, a maneira como nos vai revelando pormenores da sua cultura ao longo da história, achei muito interessante.

Paula,
Quando quiseres, é só dizeres, é um livro de estreia já com diversos prémios.

Gabrielle disse...

Estou mais ou menos a meio da leitura do livro e estou a acha-lo interessante. Nada que nos tire o fôlego (pelo menos até agora, já vou adiante da parte em que mataram o Doutor) mas tenho ideia que o mesmo vale sobretudo pelas pontinhas de cultura Iraniana que o autor nos vai oferecendo.

Luís Miguel disse...

Gabrielle, espero pela sua opinião global quando acabar de o ler, ate lá.