Este romance tem como pano de
fundo Teerão, capital do Irão e decorre entre 1973 e 1974. É um período de
transição entre o regime opressivo do Xá Reza Pahlevi e a revolução islâmica
liderada pelo aiatola Komeini. O Xá é derrubado em 1979, ao que se segue a
invasão do Irão pelo Iraque numa guerra que durou mais de oito anos e resultou
na morte de um milhão de pessoas.
É neste contexto de incerteza,
de insegurança e medo, em que as pessoas anseiam pela mudança pois estão fartas
de sofrer, que o autor nos dá a conhecer um pouco da cultura do seu país, um
país muitas vezes incompreendido mas com uma cultura muito rica e secular,
sendo o povo iraniano descendente dos persas. Para esse fim, Mahbod Seraji
recorre a uma história onde podemos encontrar uma série de valores universais
tais como o amor, a amizade, a lealdade, a esperança, o idealismo, a liberdade,
mas onde encontramos também anseios, o medo, a dor e o sofrimento. É uma
história de vida e de experiências humanas comuns a qualquer povo,
independentemente da sua religião, cultura ou raça. Os personagens principais
são dois adolescentes e melhores amigos, o Pasha e o Ahmed que, durante as
férias de verão, adoram passar o tempo nos terraços da sua rua onde conversam,
trocam confidências, sonham com um futuro risonho, falam dos seus primeiros
amores mas, principalmente, na frescura da noite, estão em contacto directo com
as estrelas nesse espaço infinito onde conseguem identificar “as suas” estrelas
e as dos seus familiares e amigos mais próximos. Em tempo de férias não existem
preocupações, pelo que os dois amigos passam o tempo a jogar à bola, a
conversar sobre raparigas, a pregar partidas, enfim, aproveitar ao máximo antes
de começarem as aulas. Entretanto, Pasha conhece o Doutor (alcunha dado este ter formação universitária), que se tornará seu
mentor, um jovem culto e idealista, com uma visão progressista e que defende o
desenvolvimento e a criação de melhores condições de vida para todo o povo e
não só para uma minoria no poder. Ambos se tornam grandes amigos pois partilham
não só certas ideias como também o gosto pela leitura num país onde ainda havia
livros proibidos. Pasha apaixona-se por Zari, uma rapariga que está
prometida ao Doutor, o que o coloca numa situação embaraçosa. Por um lado, a
sua amizade e lealdade pelo Doutor estão acima de tudo, mas, por outro, não
consegue deixar de pensar em Zari nem controlar os seus sentimentos por ela,
que crescem a cada dia.
O Doutor defende que o futuro
do Irão só pode melhorar se o Xá for deposto pois não passa de um fantoche
colocado no poder pelos americanos. Estes, através da CIA, ajudaram o regime a
criar a sua própria polícia secreta, a SAVAK. O regime insiste em fazer passar
a mensagem de que a SAVAK não existe e que não passa de uma mera fantasia
popular. Porém, as buscas, as penas de prisão injustificadas e sem qualquer julgamento,
o desaparecimento de pessoas que são levadas para a cadeia onde são torturadas
e mortas provam o contrário. O medo e a desconfiança imperam nas ruas, qualquer
denúncia, mesmo falsa, pode levar ao qualquer um para a cadeia, onde horror das
torturas é sobejamente conhecido. Apesar disto, a vida de Pasha e dos seus
amigos decorre com normalidade e sem grandes preocupações. O verão vai passando
até que algo de inesperado acontece e deixa toda a gente perplexa: o Doutor foi
preso pela SAVAK, que tem conhecimento das suas actividades, que considera
subversivas. Os acontecimentos precipitam-se e nada mais será igual na vida destes
adolescentes. São novos demais para o sofrimento a que vão estar sujeitos, são
como que obrigados a amadurecer e a tornarem-se adultos precocemente, mas os laços
de amizade que os unem fortalecem-se e a esperança num futuro melhor, para além
de todas as provações, dá-lhes alento para a vida.
Penso que o autor nos quer
demonstrar, através deste seu romance, que qualquer cultura, raça ou religião,
por muito diferentes que sejam, não devem ser julgadas sem as conhecermos, pois
isso não passaria de preconceito. Um país, neste caso o Irão, não pode ser
associado só ao mal pois em todos os países há pessoas boas e pessoas más. Não
deixa de merecer uma reflexão o papel e a influência que os Estados Unidos têm
no mundo, nem sempre agindo de acordo com a grandeza de uma nação que deveria
liderar pelo exemplo.
Neste romance, facilmente nos
identificamos com as suas personagens, quem não se recorda da sua adolescência, dos seus primeiros amores, de um professor mais excêntrico? Através
dele ficamos a conhecer um povo caloroso e sofrido assim como a sua cultura
muito particular. E o autor fá-lo através de uma escrita poética e nós somos
levados com ele na sua narração fluida e poderosa. Para além do dramatismo
inerente às circunstâncias vividas pelas personagens, nunca é demais realçar o
humor, aqui personificado em Ahmed, através do qual o autor nos consegue
arrancar umas boas gargalhadas.
Nesta história de amor, numa
época em que um povo anseia e luta pela liberdade e por um futuro melhor, a sua
mensagem é forte e universal, pelo que não resisto a resumi-la com uma frase do
autor (se tal é possível…): “… a vida é
um pequeno preço a pagar por aquilo em que acreditamos”.
TRADUZIDO
EM 11 LÍNGUAS: Chinês, Russo, Sérvio, Coreano, Turco, Espanhol, português,
Islandês, Italiano, Hebraico e Croata.
CITAÇÕES
DE IMPRENSA ESTRANGEIRA
«Terraços
de Teerão combina uma história de amor em plena adolescência com a exaltante
narração da luta contra a ditadura. Uma obra que nos dá a conhecer a cultura iraniana,
com personagens em que universalmente nos reconhecemos. Um romance que daria um
excelente filme.» - Reese Erlich
MENÇÕES
HONROSAS ATRIBUÍDAS A TERRAÇOS DE TEERÃO:
•
Livro do Ano 2009-10 seleccionado pela Universidade Villanova.
•
Seleccionado para o Festival Literário Escrita de Primavera.
•
Associação Dos Livreiros Americanos escolhe-o como excelente estreia literária.
•
Reading Group Guides elege-o para o seu Top 25 de 2009.
•
Bay Area Books considera-o como um dos 50 livros notáveis de 2009.
5 comentários:
Olá Luís.
Gostei de ler o teu comentário a este livro do autor Seraji.
Li-o também muito recentemente e achei fabuloso. É uma lufada de ar fresco na maneira de escrever e fazer suspense ao leitor, que não é muito comum.
http://silenciosquefalam.blogspot.com/2011/10/terracos-de-teerao-mahbod-seraji.html
Boas leituras
Parece bastante interessante :) depois vais emprestar-me :D
Quando a minha pilha baixar...
Miguel,
É realmente um livro que se lê com prazer, está muito bem escrito, num estilo poético e com personagens com as quais facilmente nos revemos. Por outro lado, a maneira como nos vai revelando pormenores da sua cultura ao longo da história, achei muito interessante.
Paula,
Quando quiseres, é só dizeres, é um livro de estreia já com diversos prémios.
Estou mais ou menos a meio da leitura do livro e estou a acha-lo interessante. Nada que nos tire o fôlego (pelo menos até agora, já vou adiante da parte em que mataram o Doutor) mas tenho ideia que o mesmo vale sobretudo pelas pontinhas de cultura Iraniana que o autor nos vai oferecendo.
Gabrielle, espero pela sua opinião global quando acabar de o ler, ate lá.
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