"Arroz de Palma", de Francisco Azevedo (Porto Editora)
Opinião (Ana Nunes):
Sendo uma pessoa muito ligada à família, este foi um livro que me tocou
bastante. Passado numa outra época, os seus relacionamentos não são
menos intensos pela separação do tempo. Se soubessem a quantidade de
passagens que marquei com post-its até se riam.
A história não podia ser mais simples e a sinopse diz tudo. É curioso
como não existem grandes reviravoltas na história desta família. Existem
alguns momentos marcantes, mas não é daqueles enredos cheios de cenas
com impacto. Simplesmente é a história de uma família e de como as
pessoas mudam ao longo do tempo, como se separam, se zangam pelas coisas
mais ridículas, fazem as pazes com uma facilidade arrepiante, e se
juntam nos momentos de dor, mais depressa que nos momentos de alegria.
Triste? Nem por isso! É a vida e esta família é suficientemente
interessante, suficientemente humana para que até os momentos de
tristeza sejam familiares para o leitor.
Confesso que não gostei, nem entendi, certas escolhas que o autor fez
para a história e as suas personagens. Nomeadamente o facto de o António
trair a mulher, numa noite, sem razão nenhuma, nem qualquer antecedente
que levasse a justificar tal coisa. Isto irritou-me, confesso. Outra
coisa que não entendi totalmente foi o facto de ser referido que, para o
funeral da Tia Palma todos compareceram, mas para o funeral dos Pais
não. A sério? Os pais! Todos que lêem o livro sabem que a Tia Palma é o
pilar da família mas os pais foram bons para os filhos e não havia razão
para eles não comparecerem todos à cerimónia. Enfim, eu isso não
compreendi.
Em termos de personagens, confesso que não amei nenhuma, à excepção da
Tia Palma (Já era de esperar, não), mas também não odiei nenhuma.
Consegui foi relacionar-me com todas. Impressionante!
Simplesmente há algo de muito humano nestas pessoas, nesta família, e é fácil entrar neste 'prato'.
A escrita do autor é muito bela. Não me aborreceu nunca e, como já
referi, foram dezenas as passagens que eu marquei ao longo do livro.
Frases belíssimas que sussurraram ao meu íntimo e fizeram eco na minha
consciência.No entanto também notei algumas frases mal conseguidas, que
queriam ser poéticas mas acabaram por ser inconvenientes. Foram poucas,
felizmente. Também não apreciei a descrição pormenorizada dos encontros
sexuais do António. O primeiro, com a Isabel, fazia sentido, mas todos
os outros, coma Isabel, foram 'palha' e nada mais.
Em suma, Arroz de Palma não é um livro perfeito mas é um belo
livro, que merece ser saboreado devagarinho e, acredito que, todos os
que valorizam a família conseguirão apreciar.
1 comentários:
Amigo, li esse livro agora e justamente fiquei incomodado com a traição de Antônio, com a cunhada, como você disse, sem nenhum motivo dentro da teia narrativa, sem nenhuma coerência com o personagem ou com o restante da história; muito bizarro. Cheguei a seu blog em busca justamente de alguma análise que justificasse essa passagem no contexto da obra. Abraços do Brasil! Guilherme Lentz
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