20/06/2010

livros e sons - nº 4

A última mensagem de Saramago no seu blog, (http://caderno.josesaramago.org/)
publicada em 18 de Junho, na véspera da sua morte:
“Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma.”
Trata-se do excerto de um entrevista publicada há dois anos no “Expresso”. Palavras que se mantêm bem actuais: para a maior parte de nós, pensar é uma espécie de castigo a que tentamos fugir. E mais fácil acreditar. É mais fácil seguir ideias pré-fabricadas, colocar carimbos nas pessoas e nas coisas. Decidir. Julgar. Sentenciar.
“Era um comunista”. “Era um ateu”. “Materialista histórico”. “Desprezava Portugal”. “Iberista anti-patriótico”.
Mas então e a pessoa? E os seus sentimentos, as suas angústias, a sua solidariedade e a sua generosidade? Não interessa, era ateu.
Mas então e a promoção da nossa literatura, a voz de Portugal que levou ao mundo, o prémio Nobel? Não interessa, era comunista!
Mas então e o génio literário, as traduções feitas para todo o mundo, o reconhecimento do planeta inteiro? Não interessa, era contra a Santa Madre Igreja!
Além disso estou de férias.
Para Saramago, para todos quantos, como eu sentiram profundamente a sua morte, aqui vos deixo um dos trechos mais comoventes de um grande compositor, Offenbach, que fez parte da banda sonora de um grande filme, um filme que certamente Saramago viu e gostou: “A Vida é Bela”. Sim, porque a vida é bela como a obra de Saramago.

0 comentários: