14/04/2011

A Sonata de Kreutzer - Lev Tolstói

Opinião:
Quando abrimos este livro e começamos a leitura, embarcamos logo num comboio com os personagens que nos irão contar esta magnífica história que oscilará entre as tradições e os “modernismos” a que o tempo leva inevitavelmente.
Assim, temos um diálogo no qual o personagem, pela voz de Tolstói relata-nos alguns dos seus pensamentos acerca da juventude russa, como vive, como sobrevive e como se mantém na sociedade.
Temos então, uma conversa entre dois homens, em que um limita-se a ouvir pacificamente, e o outro a contar (um diálogo que acaba por ser um monólogo). O que faz o relato, fala sobre a sua vida e o que lhe aconteceu por amar intensamente a esposa.
Ao falar da sua juventude, nota-se crítica e até alguma repugnância na vida que levou e na vida que levam os jovens russos. Pois, desde muito cedo têm experiências sexuais, chega a considerar os homens uns devassos pelos actos que praticam e posteriormente, nos grandes salões, passam por senhores e santos ao fazerem a corte às meninas da alta sociedade. Porém, as mães destas meninas não são menos devassas que eles porque sabem muito bem das atitudes desta juventude. Contudo, interessa-lhes o dinheiro. Assim, também elas não são superiores às prostitutas, só há uma coisa que as distingue, é que as senhoras da alta sociedade, na opinião do personagem e quiçá de Tolstói, são prostitutas respeitáveis e a longo prazo, pois têm por objectivo “vender” as filhas e usufruir, de alguma forma, da riqueza do genro.
Nota-se que algumas das ideias constantes nesta história, são também defendidas pelo próprio autor, pois na primeira fase da sua vida, Lev Tolstói viveu como vivem todos os jovens russos ricos: bebendo e divertindo-se. A partir de uma certa idade e depois de casar, Lev Tolstói vive um período angustiante na sua vida, na medida em que defende viver sob alguma modéstia e mais perto dos necessitados, no entanto continua rodeado de luxos (que a sua mulher não abdica) e esta situação atormenta-o. Daí eu ter sentido que toda a crítica à juventude russa expressa na narrativa, era uma crítica explícita e muito pessoal.
Mas voltemos ao livro e ao dialogo…
Ficamos então a saber que o nosso personagem cometeu um crime, matou a mulher porque julgou-a traidora (no livro não ficamos com a certeza de que tenha havido infidelidade). Magoado com a vida e até com a sociedade, critica a sociedade, o casamento, o divórcio (dizendo tratar-se de uma moda e de um mal europeu. O homem tem de subjugar desde cedo a mulher para que esta lhe seja sempre submissa). A sua crítica chega até aos grandes centros, na medida em que, na cidade “uma pessoa pode viver cem anos e não reparar que já morreu há muito e apodreceu” portanto, a dor da convivência sente-se menos.
O fim do diálogo é relatado com alguma dor, arrependimento, nostalgia e saudade.
Mais um excelente livro de Lev Tolstói, com um cunho muito pessoal ao longo de toda a narrativa.
Aconselho!

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