Rita
Constantino Cara-linda ou Cuco, é um rapaz de
doze anos que vive em Freixial. Constantino que guarda vacas como todos os
outros rapazes de Freixial, sonha. Sonha como todos os outros, mas o seu sonho
não é nada de extravagante. Ele sonha em ser serralheiro de barcos e um dia,
poder construir o seu próprio barco e ir rumo a Lisboa com ele. Constantino
junta o real ao desejo sem abdicar de nenhum deles e guarda-os sempre consigo.
Esta história faz-nos perceber como os sonhos
são muito importantes, podem até tornar-se reais com o poder da imaginação.
Muitas pessoas diriam: “No meu tempo era assim…”. É verdade, mas no meu tempo,
o de hoje, mesmo que não guarde vacas nem seja do campo ou tenha crescido num,
tenho sonhos, todos temos. Sonhar é intemporal. Todos guardamos sonhos e poder
viver uma vida no “mundo real” e outra nos nossos sonhos, num mundo que é só
nosso, é um privilégio. Privilégio esse que temos conservado por milénios e que
iremos conservar por muitos mais ainda.
Boas leituras! J
Paula T.
Constantino, uma criança
de doze anos, vive numa terra pequena e humilde, onde todos se conhecem e
inevitavelmente opinam mesmo quando não lhes é solicitado.
O seu nome é único na
aldeia para orgulho dos pais e desgosto da Tia-Elvira que sonhava dar ao seu
primeiro neto o nome do pai dela. Desejo este que a nora não lhe concedeu. O
choque entre gerações havia sempre de se afirmar. Até as vindimas já eram
escassas, pois os terrenos haviam sido comprados por gente rica com o objectivo
de mostrar ostentosas casas (o mundo, sem dúvida, estava perdido, na opinião da
Tia-Elvira).
Constantino, uma criança
como tantas outras preferia brincar a ir à escola ou mesmo ajudar a guardar o
rebanho. Os pássaros eram a sua distracção e alegria, porque também ele sonhava
em voar e viajar até outras paragens, quem sabe até Lisboa.
E como o sonho comanda a
vida e com Constantino, não havia de ser diferente, este constrói um bote feito
de canas que o levará rumo aos seus sonhos, ou melhor, a Lisboa. Enquanto lá
não chega, guarda o seu barco no estaleiro do seu coração.
Alves Redol mostra-nos
uma aldeia pobre, onde as gentes são simpáticas e humildes, mas iguais a tantas
outras nos seus usos e costumes. Usos e costumes que ainda permanecem por estas
aldeias e cidades nos dias de hoje.
O sonho é uma constante
ao longo de toda a narrativa. O sonho de uma criança, o sonho de tantos homens
que outrora foram crianças e que também sonharam e conquistaram, mais não fosse
nas noites de luar. Afinal a vida não vale de muito sem os nossos sonhos!
Gostei!
Luís Miguel Rodrigues
Este livro de Alves
Redol parece reunir uma série de contos, sendo as personagens as mesmas em
todos eles e em que o autor nos apresenta um retrato de uma pequena aldeia
rural, do seu dia-a-dia, dos seus momentos mais importantes ao longo das
estações do ano, tudo isto centrado num pequeno, o Constantino, o guardador de
sonhos e de vacas. Esse retrato, nos olhos de uma criança assume outra dimensão
pois a infância é muitas vezes sinónimo de pureza, verdade e simplicidade.
Constantino é um menino pequeno, com pouco corpo para a idade mas comparado a
um homem dada a sua maturidade precoce, querido por todos na aldeia. Como é
natural nestas aldeias rurais, as crianças começam logo de tenra idade a ajudar
a família nas tarefas domésticas. A vida agrícola não é fácil, o trabalho árduo
nos campos e a criação de gado pouco mais dá do que para sustentar parcamente
uma família. Constantino consegue, porém, conciliar as suas tarefas com as
brincadeiras típicas das crianças da sua idade. Tem uma série de ninhos para
cuidar, ele que se gaba de ter perto de cinquenta só dele. Também joga ao pião,
fazendo torneios com os amigos, vai pescar ou tomar banho em pelota no rio, o
Trancão, tão importante para a aldeia. No que diz respeito à escola,
Constantino não gosta muito, considera um desperdício ter de decorar tanta
ladainha, já para não falar nas reguadas da professora, com quem mantém uma
relação tensa.
Embora vivendo com
dificuldades, o Constantino não deixa de ser feliz, não deixa de sonhar. Vive
em contacto com a natureza, com a sua família, com os seus amigos. O tempo que
passa com o gado faz com que possa pensar em novos projetos, novas aventuras,
os seus sonhos vão tomando forma. O Constantino gostava de ser serralheiro, não
um serralheiro qualquer, um serralheiro de barcos. Um dia decide construir um
barco com canas, um barco que lhe permita chegar a Lisboa. Constantino tem tudo
programado, ele e o seu amigo Manel decidem que precisam de mais um braçado de
canas para tornar o barco mais seguro. Na noite que precede a partida,
Constantino tem um sonho fantástico, ele e o amigo já estão de viagem num barco
mágico, a grande velocidade, o barco torna-se cada vez maior, a vela também
cresce e esconde-os um do outro. Mal conseguem descortinar por onde passam ou
onde estão, devem ter passado Lisboa há muito, ”eles devem estar, mais ou
menos, ao pé do fim do mundo”.
O sonho derradeiro de
Constantino personifica, quanto a mim, a luta inglória das gentes da terra em
conseguir melhores condições de vida e que se vêm obrigadas a partir, a deixar
tudo para trás pois é nas cidades que se consegue viver melhor. Os pobres e as
pessoas que vivem com mais dificuldades não deixam de ser felizes, isso o autor
deixa bem claro, porém, a realidade é dura e a fuga para as cidades é o único
caminho para quem quer melhorar a sua vida. Este livro, cuja ação se passa nos
anos setenta, não deixa de ser atual e as diferenças entre o litoral e o
interior, o campo e a cidade são cada vez maiores.
Odete
Já li este livro há mais
de 30 anos, pois onde morava na altura existia uma biblioteca ambulante que
passava todas as semanas na aldeia, e que eu tanto ansiava o dia da sua chegada
para entregar e levantar mais livros.Mas vejo agora que não soube apreciar a
sua leitura como o fiz presentemente, teve outro impacto em mim sem dúvida
alguma, o personagem principal fez-me recordar histórias que o meu próprio pai
contava que tinha vivido em criança, as sua aventuras e peripécias de andar aos
ninhos. Mas também trás-me recordações das minhas próprias brincadeiras.
O menino ingénuo, puro,
sonhador que Constantino tão bem transparece cativou-me, sendo uma criança como
as outras, na escola tem as suas dificuldades na aprendizagem, porque gostava
mais de brincar a contar ninhos do que aprender o nome dos rios e dos reis. É
num único rio que ele manifesta o seu interesse, pois sabe que o poderá levar
ao "mar" em Lisboa.
Vamos acompanhando as
suas aventuras, além de brincar ele tem responsabilidades é guardador de vacas,
mas também vive com o sonho de ver o mar que gostaria de realizar, e é esse
sonho que lhe transmite a sua vivacidade e o interesse pelas coisas e quem sabe
um dia o consiga concretizar.
Recorda-nos também
tempos de pobreza, gente simples, que pouco tinham no dia a dia para
viver, os "ditos" dos mais antigos que cheguei a ouvir da boca
da minha avó tantas vezes como por exemplo: "Esta a chover e a fazer sol:
Estão as bruxas a fazer pão mole" e tantos outros que ouvia, também as
vizinhas "cuscas" que ralhavam por tudo e por nada e contavam logo às
mães quando se portavam mal.
Mas mesmo neste meio de
miséria a lição que tiro daqui é que no fundo eram crianças felizes.
Em suma um livrinho que
todos devíamos ler, gostei sem dúvida de recordar esta leitura.
Ângelo
Constantino um rapaz do campo tem um sonho
mas por enquanto não deixa de ser um guardador de vacas que sonha em
concretizar esse sonho, sonho que lhe comanda a vida.
Um livrinho muito simples que nos coloca numa
infância perdida nestes tempo de modernidade, numa infância de
"liberdade", embora pense que hoje em dia os nossos jovens tenham
mais liberdade (para isso hão lutado os nossos ascendentes) "física"
também é verdade que conseguimos encurrala-los nos nossos medos
"psíquicos" (alguns com razão), já Constantino o nosso guardador de
vacas tal como alguns de nós, tinham uma enorme pressão sobre si, recaia em si
uma responsabilidade que hoje é amputada aos jovens, mas aqueles momentos de
liberdade, de despreocupação, longe de tudo sozinho com o mundo, esses momentos
valem ouro nos dias de hoje.
É este fascínio pela liberdade, pela amizade,
pela fantasia que torna este livrinho num marco de referência nacional, está
aqui a vivência da puberdade dos nossos ascendentes a vida como ela era, na sua
forma mais bonita, mais prazenteira, mas ninguém pense que era este constante
mar de rosas que se vivia pela altura, falta neste conto o lado negro desses tempos
para tornar este livro num grande romance.
Com uma linguagem simples, bela, erudita,
Alves Redol cativa-nos num conto roubado às nossas memórias.
Manuel
Constantino Guardador de Vacas e de Sonhos é um
livrinho ingénuo, puro, transparente, apaixonado. Alves Redol, um dos maiores
vultos da literatura portuguesa do século XX apresenta-nos aqui um dos
exemplares mais puros do neo-realismo português, no seu estado mais puro e
naif.
Constantino é um menino
como qualquer outro. Frequenta a escola primária, é inteligente mas prefere
contar ninhos em vez de saber de cor os afluentes do Mondego ou do Guadiana. O
único afluente que lhe interessa é o Trancão, que no seu sonho o levará ao Tejo
e ao grande Mar. Constantino guarda vacas como quem guarda sonhos,
transportando-os numa alma risonha que encara o futuro com aquela nuvem de
sonhos que só a infância nos pode oferecer.
Para quem, como eu, cresceu
no campo, ler este livrinho é uma bela viagem à infância; ou melhor, ao que de
mais belo tem a infância no campo: os ninhos que se contam e cujo segredo se
guarda como tesouro, o trepar às árvores como quem do alto vê o futuro, as
aventuras no rio onde se aprende a nadar à custa de sustos e goladas de água,
as travessuras nos quintais e, acima de tudo, aquele viver irmanado com a
natureza, com os pássaros, as plantas, os animais domésticos, etc.
Nem a impiedosa palmatória,
nem as más condições da vida no campo, impediam Constantino de ser feliz.
Porquê? Porque ele tinha um sonho. Não interessa se o realizou; não interessa
sequer se era realizável; o importante é que o guardou. Assim, por detrás de
uma narrativa aparentemente ingénua, Alves Redol transmite-nos uma mensagem que
devemos reter e recordar sempre: o sonho é que nos guia; o sonho é que nos faz
viver.
Em resumo, um livrinho
imperdível, de leitura muito agradável, numa linguagem simples do povo que
somos nós; um testemunho cristalino das raízes mais profundas de onde todos
nascemos: da terra-mãe.
3 comentários:
Gostei muito de todos os comentários, interessante ler o ponto de vista de cada um em relação ao livro!
Gostaria muito de adquirir a edição deste livro que tem fotografias. Penso que é apenas a primeira edição (de 1962); as seguintes já não têm fotografias. Alguem sabe onde posso compra-lo?
Olá David,
Lamento mas não sei dizer,
o melhor é perguntar numa livraria da Bertrand
obrigada
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