Afirmação “A priori”, incontornável: nunca cultivei o gosto
pela narrativa curta, pelo conto ou pela crónica. Ironia capital: escrevo
crónicas num jornal. Mas não as leio; às vezes nem para rever o texto.
Feita a confissão, vem a revelação: Pedro de Sá publica
neste livrinho um belo punhado de crónicas e de curtas narrativas, num conjunto
diversificado, compondo uma obra bem diferente dos seus romances já publicados
na mesma editora: “Olhei Para Trás e Sorri” e “Queria Rever o Teu Rosto ao
Entardecer”.
Centrados no amor e na amizade, esses romances tinham como
grande mérito a viagem profunda à mente e aos sentimentos das personagens.
Aqui, neste livro, o propósito não é fazer esses grandes “mergulhos” no âmago
das personagens. Um espelho do mundo através da alma; impressões e sensações, mais
do que reflexões. Trata-se, apenas, de recolher e relatar impressões; coisas à
flor da pele que o comum dos mortais sente todos os dias; coisas por vezes
insignificantes mas que nos marcam indelevelmente, de tal forma que se gravam
nas profundezas da memória individual. É dessas coisas que nos fala Pedro de Sá
neste livro: coisas (apenas) aparentemente triviais…
Exemplo maior de tudo o que escrevi acima é aquela que
constitui, a meu ver, a melhor crónica desde livro: “Por favor, diga-me que sim”.
Trata-se de uma pequena narrativa em que se relata um episódio capaz de
ilustrar bem essa sensibilidade que carateriza o autor e que ele já tinha
revelado nas obras anteriores: um casal daquilo a que se convencionou chamar
classe média baixa entra num banco para tentar obter um pequeno crédito, que
lhes é recusado… o drama de quem nada tem, mas de pouco precisa para ser feliz…
este sentido de humanidade, esta sensibilidade, são o valor maior de Pedro de Sá
enquanto escritor, associado a um estilo muito eficaz: com clareza na
linguagem, sem adereços desnecessários mas sem nunca perder a sensibilidade e a
capacidade de apelar à reflexão.
Em resumo, trata-se de um conjunto de pequenos textos que
certamente agradarão imenso a quem gosta de narrativas curtas. Pessoalmente,
não sendo este o meu género literário preferido, gostei, essencialmente pela
forma fácil como Pedro de Sá nos desperta determinadas sensações, lendo-se como
quem ouve uma música, talvez dos Led Zeppelin ou de Yann Tiersen e com um
interessante toque de Milan Kundera pelo meio…
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