O Meu Nome é Lucy Barton
Elizabeth Strout
Páginas: 176
Lucy Barton está numa
cama de hospital, a recuperar lentamente de uma cirurgia que deveria ter sido
simples. As visitas do marido e das filhas são escasssas e pouco aproveitadas
por Lucy. A monotonia dos dias de hospital é quebrada pela inesperada visita da
mãe, que fica cinco dias sentada à sua cabeceira. Mãe e filha já não se falavam
há anos, tantos quantos os que Lucy passou sem visitar a casa onde cresceu e os
que a mãe passou sem a visitar em Nova Iorque, nem sequer para conhecer as
netas. Reunidas, as duas trocam novidades e cochichos sobre os vizinhos de
infância de Lucy, mas por baixo da superfícies plácida da conversa de
circunstância pulsam a tensão e a carência que marcaram a vida de Lucy: a
infância de pobreza e privação no Illinois, a vontade de ser escritora e a
desconfortável sensação de não pertencer a lado nenhum, a fuga para Nova Iorque
e a desintegração silenciosa do casamento, apesar da presença luminosa das
filhas. Com um passado que ainda a atormenta e o presente em risco iminente de
implosão, Lucy Barton tem de focar para ver mais longe e para voltar a pôr-se
de pé. Mais do que uma história de mãe e filha, este é um romance sobre as
distâncias por vezes insuperáveis entre pessoas que deveriam estar próximas,
sobre o peso dos não-ditos no seio das relações mais íntimas e sobre a solidão
que todos sentimos alguma vez na vida. A entrelaçar esta narrativa está a voz
da própria Lucy: tão observadora, sábia e profundamente humana como a da
escritora que lhe dá forma.
A Denúncia
Bandi
Páginas: 144
A grande fome da Coreia
do Norte, na década de 1990, acordou em Bandi, escritor oficial do regime
norte-coreano, um crítico feroz e um resistente inabalável. A publicação deste
livro - que terá saído da Coreio do Norte disfarçado de propaganda comunista - é
prova do triunfo da humanidade e da resiliência da literatura num mundo
dominado pelo absurdo. Nestes sete contos, Bando denunciona e responsabiliza o
regime norte-americano mas, mais ainda, retrata as vidas dos cidadãos que dele
são vítimas: o dia-a-dia dilacerado pela fome, pelo medo, pela repressão. Neles
lemos o sofrimento quotidiano e atroz de todo um povo e tememos por um futuro
que nunca o será enquanto os destinos do país estiverem nas mãos de um líder
delirante, megalómano e cobarde, de proporções kafkianas. "A
Denúncia" não deve ser lida apenas pela seu inegável valor literário, mas
sobretudo pelo realismo e humanidade com que retrata um povo a quem, geração
após geração, é sonegado o mais importante dos direitos: uma voz.
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