Primeira Leitura Conjunta do Blogue
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Livro: Olhai os Lírios do Campo
Autor: Erico Veríssimo
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E como estamos na segunda semana de Julho, a leitura conjunta do livro "Olhai os Lírios do Campo" de Erico Veríssimo já está concluída por parte dos membros do blogue que aderiram à mesma (o Manuel, o Ângelo e a Paula), agora só falta mesmo trocarem impressões entre si ou com os visitantes.
A troca de idéias deverá ser colocada na zona dos comentários deste post.
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Aqui ficam os comentários
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NB: Os comentários que se seguem contêm spoilers
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Comentário de Manuel Cardoso
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"Erico Veríssimo é um dos mais conhecidos escritores brasileiros do século XX.
Faleceu em 1975 tendo publicado mais de 30 livros, entre romances, livros de viagens, biografias, contos e livros infanto-juvenis.
Olhai os Lírios do Campo é um dos seus primeiros grandes êxitos. Publicado em 1938, narra a vida de Eugénio, um jovem nascido na pobreza, que luta pela afirmação numa sociedade marcada pelas ambições materiais. A partir daí, Eugénio travará uma encarniçada batalha entre a ambição pelos bem materiais e a necessidade de repensar a sua própria personalidade, na busca da sua harmonia interior.
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O livro inicia-se num tom realista, típico da época, com traços bem nítidos de influência socialista na forma como se debruça sobre as injustiças sociais e as desigualdades. No entanto, desde logo Veríssimo vai mais longe, empreendendo uma viagem ao interior da alma de Eugénio, um ser complexo, perdido entre uma infância miserável, sofrida e uma idade adulta onde vagueia entre um casamento por interesse com Eunice (que lhe deu todos os confortos com que sonhara) e uma vida de médico modesto, ao serviço dos pobres.
Pelo meio, a paixão da sua vida, Olívia, aquela que lhe apontou as estrelas do céu e os lírios do campo, que, no entanto, na sua ânsia revoltada, Eugénio se vai recusando ver.
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Todo o livro é a história dessa intensa luta interior, dessa guerra que todos nós travamos entre o material e o espiritual, entre o nosso Eu que se perde constantemente, escondido muitas vezes nos sítios que, de tão óbvios, se tornam improváveis e o mundo lá de fora, que é sempre o mundo para onde olhamos com avidez, o mundo do dinheiro, do poder, da exterioridade.
Para Eugénio, a guerra torna-se insuportável, porque sabe que os Lírios e as estrelas estão ao seu alcance. Sofre porque não resiste à tentação de redimir a miséria com a conquista do poder, com a ganância, a tentação de uma vida fácil. No entanto, a alma de Eugénio anseia por paz; uma paz que ele não encontra no mundo material.
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Na infância, Eugénio convive com a miséria de um pai alfaiate pobre, um pai que ele não consegue amar porque o associa à miséria. Daí a humilhação. Na escola, na rua, ele é constantemente humilhado por ser miserável. E a raiva cresce. A pobreza torna-o insensível e egoísta; e os extremos tocam-se: em breve a humilhação se transforma em prepotência, numa ânsia freudiana de superioridade, de afirmação brutal sobre o mundo… um mundo tenebroso, que a mente sofrida de Eugénio vê em construções mentais tenebrosas, cheias de revolta e mesmo ódio…
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Eugénio tem vergonha. Vergonha da pobreza, da humilhação e… do pai. É nítida aqui a influência das teorias de Freud, em voga na época. Eugénio ama o pai pela piedade que este lhe desperta, mas detesta-o pela falta de ambição, de orgulho e pela humildade extrema. Durante a adolescência, na rua, Eugénio, junto dos amigos, finge que não conhece o pai. Estas e outras recordações negras marcarão a vida de Eugénio, que o atormentam constantemente.
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Eugénio é um ser que pensa. Ou seja, um ser que sofre. Não pára de encontrar contradições: trabalha e estuda para ter um futuro melhor que o dos pais; no entanto, recrimina-se por se achar superior aos pais.
Chegados a este ponto, velhas e profundas questões assolam a mente do leitor:
- É mais revoltante a pobreza causada pela injustiça social ou o desprezo que a sociedade dedica aos mais pobres, vendo-os como portadores de uma espécie de doença contagiosa?
- Perante estas injustiças, valerá a pena questionar a vida, pensar, problematizar? Não será mais feliz o idiota, o imbecil que nada questiona? Ou haverá uma espécie de meio termo entre o sofrimento de quem pensa e a idiotice de quem passa ao lado de tudo isto?
Olívia dará a resposta.
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No final da formatura, Olívia e Eugénio aparecem-nos unidos pela humilhação da sociedade e pela pobreza. Juntos na infelicidade manifestam, no entanto, atitudes completamente diferentes: Eugénio procurará vingar-se da vida, construir o seu império, dominar, triunfar, ser rico…
Olívia, essa, tenta que Eugénio veja os lírios do campo e as estrelas do céu. Mas a sua ânsia de poder é imparável. E vai sofrendo: com os pacientes que morrem, com os miseráveis que tenta curar a ajudar, com as guerras e revoluções. À sua volta persiste a miséria e a injustiça. E ele próprio não consegue sair dela. E pensa. E sofre.
Conhece Eunice, filha de um grande empresário e casa com ela. Ama Olívia mas tem de a sacrificar para conseguir a ambicionada riqueza, o estatuto social, o reconhecimento e a desnecessidade de trabalhar. Operários morrem na fábrica do sogro, outros trabalham em condições miseráveis, mas na alta sociedade não se fala de sentimentos; isso é “coisa de pobre”.
Tudo se passa como se Eugénio fosse um somatório de dois “Eus” que não se encontram por serem contraditórios: Eugénio foge de si; não pára para ver as estrelas. E até ao final do livro, Eugénio lutará.
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Mas estrelas hão-de triunfar. Para Eugénio ainda haverá redenção. Olívia morrerá. Mas não a vida. Anamaria, a filha de ambos será a porta-voz dessa redenção. Eugénio deixará de “escarafunchar” as feridas; deixará de procurar a culpa; deixará de procurar vingar-se da vida. Descobrirá a verdadeira vida, após a morte de Olívia. A vida simples de quem se despe da vaidade e do egoísmo. A paz de quem recusa o materialismo capitalista e uma sociedade feita de aparências e injustiças. A paz de quem vive com os outros e para os outros."
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Comentário de Ângelo Marques:
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"Triste fado este, o meu, predestinado por Eugênio Fontes para os indivíduos apelidados de Ângelo, pois também sou Português, pai e por vezes alfaiate (já cozi algumas peças de roupa).
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Eugênio Fontes, personagem principal deste romance, recebe uma chamada do hospital contendo notícias sobre Olívia, sua amada, este parte sem demora em direcção ao hospital com um breve anúncio a Eunice Sintra (sua esposa), nesta viagem Eugênio, entre sua casa e o hostipal, vai recordando todo o seu passado, deambulando entre narrações, muito bem conseguidas, sobre a viagem que esta encetar e a sua vida passada. Seus pensamentos vagueiam pela sua triste e dura infância, a vivência familiar a pena deste perante o Pai Ângelo, o alfaiate. As personagens de referência da sua infância como o Dr. Seixas ou Sr. Florismal estão bem vincadas nas suas memórias. Tudo aquilo em que se transformou, as decisões que tomou.
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Numa vivacidade voraz este romance fica dividido em três partes claramente distintas, marcadas pela vivência e decisões do personagem central, Eugênio Fontes. Erico Veríssimo impõe um ritmo forte na primeira parte da narrativa, uma velocidade que acompanha o próprio romance. Uma leitura cativante, mesmo viciante prende o leitor a cada linha destas páginas iniciais. As constantes idas e voltas de Eugênio ao seu passado mostrando o país que atravessa um grande choque cultural, económico e social, a procura deste país em encontrar um modelo de referência na Europa ficam vincadas neste romance.A pureza da juventude, o amadurecimento através da escolaridade com a moldagem do pensamento onde, ainda, persiste a névoa de que o amor é para seres inferiores, menos cultos os pobres da sociedade.
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A segunda parte fica marcada por uma fase de introspecção de Eugênio uma procura interior do seu bem-estar, a cadência nesta parte é bastante inferior à primeira, momentos filosófico de Eugênio são constantes.Nesta fase as discussões "intelectuais", muito ao estilo de Paris à data, tidas no circulo de amigos já não fazem sentido para Eugênio, o cair da realidade criada na sua ilusão do seu amor por Eunice Sintra, a tomada consciência daquilo que fez, mas não deveria ter feito, do que não fez, mas o deveria ter feito. A sensação que ainda pode recuperar a sua vida, o desfazer de enganos a procura pela felicidade esbarram nos preconceitos da sociedade e só com determinação, amor e força poderá vencer.
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O retomar da felicidade é possível e está a um passo.
A última parte deste romance é claramente um apogeu fantástico da forma como todos nós devemos conduzir as nossas vidas.
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Um romance muito bom, com referências intrínsecas a Machado de Assis, em muitos aspectos assemelha-se a Jorge Amado (talvez pela proximidade temporal). A exploração do momento em que Veríssimo escreveu o romance (1938), com a universalidade de outros temas faz com que este romance perdure perante o tempo.Considero este romance um romance "Megatérioco"."
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Comentário de Paula T:
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"Dr Eugénio é o nosso personagem principal que é marcado desde tenra idade pelos preconceitos da sociedade em relação à pobreza, em que vivia e da qual não se consegue libertar. Primeiro uma pobreza material, depois uma pobreza interior. Tornando-se na idade adulta uma pessoa infeliz e constantemente insegura. Enquanto criança nunca se orgulhou do pai, um alfaiate pobre que trabalhava muito, mas que só conseguia trazer para casa pouco mais do que dívidas. Por este homem que o colocou no mundo, nunca conseguiu nutrir sentimentos. Na sua casa nunca faltaram valores, educação, comida e estudos, porém a roupa escasseava e Eugénio tinha de andar vestido com calças surradas o que lhe envergonhava diante dos amigos.
Dadas as condições em que vive na sua infância, Eugénio impõe um objectivo de vida: formar-se e sair da pobreza. Um dos objectivos é alcançado, o outro não e a sua frustração continua.
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Eugénio ama Olívia, sua colega de faculdade. No entanto, procura a sua felicidade fora da pobreza casando com Eunice. Na sua mente junta o útil ao agradável, Eunice é rica e bonita logo pode (no seu pensamento) proporcionar-lhe o complemento do seu objectivo: uma vez que já está formado, agora pode também ser rico e “logicamente” feliz. Quando finalmente pensa que tem tudo, vê que afinal não tem nada e então a sua vida torna-se um lamento entediante para si e para os outros que o rodeiam. É que Eugénio nem procura felicidade no que tem, faz questão de enaltecer o que não tem e fazer disso um novo lema de vida: pensar na sua infelicidade, pensar no seu passado e no quanto poderia ter sido feliz com Olívia.
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A maneira como o romance se inicia é bastante cativante e até “inquietante” pela curiosidade com que ficamos. Há uma chamada para o Dr. Eugénio, avisando de que Olívia vai morrer e quer falar com ele. É durante a viagem que Eugénio faz de sua casa ao Hospital que recorda (em flash-backs) e nos dá a conhecer toda a sua infância e juventude inclusive todo o seu amor por Olívia. Assim a primeira parte do livro vai alternando entre presente e passado.
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Só quando sente a morte a rondar Olívia é que tem a certeza da felicidade e da segurança que aquela mulher que tanto ama e amou lhe traz e continua a trazer.
Olívia é a paz, a segurança e o amor seguro e tranquilo. Um amor que só dá e nada pede em troca. Aliás, pede/impõe apenas à pessoa amada que seja confiante e segura de si
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Durante a sua vida de estudante universitário, embora mantivesse um relacionamento amoroso com Olívia, preferiu acreditar por puro egoísmo que a colega não o amava, apenas o consolava nas suas crises. E isto tudo porquê? Porque ficando com Olívia não poderia desfrutar das riquezas materiais da vida, “apenas” poderia ter um amor sincero, desfrutar de paz e alegria, mas nunca de bens materiais e posição social e isto não fazia parte dos planos do nosso médico. Assim, casa com Eunice e o calvário começa após poucos meses de casamento. Ele casa para ascender socialmente, ela casa para o salvar da pobreza. Os seus lamentos são longos e, na minha opinião, um pouco excessivos.
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O passaporte que o faz mudar de rumo na vida é a sua filha, q.ue teve com Olívia. Mas note-se que esta mudança ainda veio a muito custo e após muito pensar. Afinal ia ser novamente o médico dos pobres. No entanto, com a sua filha descobre que os bens materiais (são importantes mas…) não passam de acessórios da vida e que o amor sincero por si e pelos outros são o caminho para a felicidade.
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Em todo o romance Erico Veríssimo mostra a importância e influencia das relações humanas no ser a nível positivo e negativo, bem como a importância das opções e a complexidade que elas acarretam no ser que opta.
Neste romance há algo que é mencionado várias vezes e acho que até propositadamente: o “Megatério” (edifico de vários andares que é visto por todos os personagens de vários pontos da cidade). Eu diria que representa o elemento máximo do materialismo neste romance. É um edifício pomposo que parece olhar todos de cima para baixo, ignorando sentimentos e valores, assim como aquele que o construiu.
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Dora é filha do dono do Magatério, e é apaixonada por um Judeu. Ama-o estoicamente, entregando-se na paz e na tranquilidade dos seus sentimentos acabando por engravidar. Através deste casal o autor mostra-nos os sentimentos que o povo daquela altura nutria por esta raça que considerava “maldita”. Assim, a infelicidade ou a vergonha instala-se por momentos nesta família. Pois Dora morre após ter feito um aborto imposto pelo pai da criança. Este tem consciência das dificuldades de integração que a criança terá. As dificuldade que ele também tem em movimentar-se numa sociedade que não esquece de escarnecer dos Judeus.
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Simão tal como Eugénio toma uma decisão egoísta, não pensa nas consequências dos seus actos, apenas no resultado final e Dora acaba morrendo com uma hemorragia.
Os pais choram a filha, mas cedo encontram conforto no seu Magatério e nos futuros projectos.
Mais uma vez os personagens são vítimas das suas opções, Simão quase enlouquece e o Dr. Eugénio fica remoendo a culpa de não ter salvo Dora.
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Este é um grande romance, um romance que vale a pena ler, pois Erico Veríssimo vai ao âmago do ser, tocar-lhe na “ferida” e por em evidência que normalmente o homem sabe que decisões tomar, mas que também normalmente opta sempre pelas opções erradas. Quando as tenta remediar o resultado já não é o mesmo. "
11 comentários:
Ãngelo: tu és Ângelo e eu sou filho de Alfaiate :)
Mais comentários, só amanhã :)
Manuel,
Uma dissecação fantástica ao livro e já agora também ao autor num dos melhores laboratórios da net :)
Paula,
Sempre focada nos pormenores, realças passagem do livro que o autor por vezes esconde ;)
Quem ler as vossas opiniões fica com o livro na mão (agora é só abrirem o livro com a outra mão e lerem)
Um abraço
Também gostei muito dos vossos textos. Aliás, se não nos elogiarmos uns aos outros, quem nos elogiará? :)
Ângelo,
não te pareceu que em grande parte do enredo, Eugénio não passava de um lamechas passivo, um chato, incapaz de se decidir?
Às vezes não tiveste a sensação de que ele precisava de um valente par de estalos e um grito: "Acorda, ó burro"?
Olá Paula T. :)
Tu, que és admiradora do também brasileiro Augusto Cury, não ficaste com a sensação que o "Saga de um Pensador" parece uma sequência deste livro, ao fazer a apologia da modéstia, da humildade, como caminhos para uma verdadeira felicidade?
Parabéns aos meus colegas do blogue pelos excelentes textos aqui colocados :)
Gostaria ainda de partilhar com vocês uma pequena consideração:
Logo no início da narrativa Erico Verissimo apresenta-nos uma grande característica do nosso personagem principal: o egoísmo
Pois, quando Eugénio recebe o telefonema sobre a possível morte de Olívia, ele apenas pensa em si, na sua posição social, pensa na mulher que vai descobrir tudo, que desculpa vai ter de dar para sair de casa e entretanto Olívia está às portas da morte aflita para falar com ele. Sobre ele, sobre a filha que ficará sozinha se ele não conseguir dar um grande passo.
Uma questão para o Ângelo:
Dizes: "Retomar a felicidade é possível e está a um passo"
O facto é que esta felicidade sempre esteve a um passo de ser alcançada, só que agora quase que se apresenta como uma imposição da qual Eugénio não poderá fugir. Pois este sente-se em dívida para com Olívia e para com a sua filha.
Respondendo ao Manuel Cardoso,
"A Saga de Um Pensador" a sequência deste livro...?
Talvez, uma vez que com a sua filhota Eugénio já começa a dar valor às pequenas coisas da vida. E isto é o que faltava ao Eugénio no início da história.
Eugénio era uma pessoa tremendamente negativa. Não era capaz de ver nenhuma felicidade naquilo que tinha, era um verdadeiro pessimista.
Interessante, essa ideia, Paula: Eugénio quase só é feliz quando a felicidade lhe é praticamente imposta!
Por outro lado, esse egoísmo de que falas, é curioso: um egoísmo quase masoquista... quero eu dizer: ele até no sofrimento é egocêntrico, como se cultivasse o sofrimento, não é?
Quanto ao Cury, não quis dizer que é uma sequência deste livro mas que parece...
Primeiro que tudo saúdo a vossa iniciativa numa Leitura Conjunta da qual sou acérrimo defensor pois, acredito, que uma troca de sensações, considerações e percepções de vários leitores acerca da obra em causa, levam, invariavelmente a opiniões diferentes e a visões próprias que enriquecem a cultura literária de cada um. No entanto, penso eu, há que ser democrata e aceitar as diferentes opiniões.
Em relação a esta obra "Olhai os Lírios do Campo", é apenas e só um dos meus livros favoritos e um dos que aconselho sempre que me solicitam opinião sobre Grandes Livros. Um livro belíssimo de uma ternura tão grande que nos entranha na carne e é impossível não chorarmos com as dores de Eugénio.
Fosse Érico Veríssimo inglês, francês ou norte-americano e este livro estava no mesmo patamar de "As Vinhas da Ira", David Copperfield" ou "O Vermelho e o Negro".
Mais uma vez, parabéns pela iniciativa!
Concordo com o Manuel quanto aos elogios e não me canso de dizer (escrever) que os vossos textos são fantásticos
Manuel tens razão em relação ao ..."lamechas passivo, um chato, incapaz de se decidir?"... a certa altura comecei a questionar se Veríssimo andava as voltas, como o rabinho da pescada, à procura de um final para o livro, mas não ele já tinha o final resolvido, foi pura lamechice
Paula em espasmos temporais Eugênio, é feliz, vejo momentos de felicidade na sua infância ou quando encontra Olívia, entendo mas não compreendo a tomada de outros caminhos até atingir a felicidade.
Fico sempre com o pensamento a navegar ...como seria viver nos anos 30... penetrar na mente de Veríssimo, hoje posso falar/escrever contigo Paula e com o Manuel e a resposta é imediata e nos anos 30 qual a velocidade da informação, quem tinha acesso a essa informação?.
Não me canso de dar este exemplo quando o assunto são crianças e o seu comportamento ontem/hoje "na minha infância eu sabia lá o que era a "NET" hoje a minha filha de 3 anos já me pede para ir para a "NET", evolução dos tempos, por outro lado já é mais difícil explicar o que é um rato (o animal)".
Em aproximadamente 100 anos tudo que nos rodeia foi exponenciado nesse número, mas infelizmente a nossa mentalidade não consegue acompanhar tamanha evolução, por isso temas como racismo, holocausto, intolerâncias, perduram no tempo e formam esta nuvem cinzenta entre gerações/sociedades.
Até pareço o chato do Eugênio em indecisões e introspecções insignificantes, como diz o Manuel "Acorda! chato".
Olá Iceman,
Também gosto de leituras conjuntas e concordo contigo enriquecem-nos, mas é preciso respeitar a opinião de todos.
Em relação ao livro em questão "Olhai os Lírios do Campo" é um livro que nos toca daí que não podemos ficar indiferentes aos sofrimentos de Eugénio.
Referes dois livros que tenho e que ainda não li, mas que estão numa lista a ler que já começa a ser infinita...
São eles: As vinhas da Ira e O Vermelho e o Negro. Este último sempre me chamou a atenção não sei porquê...
Ângelo,
dizes: "entendo mas não compreendo a tomada de outros caminhos até atingir a felicidade." E quem entende por vezes estes caminhos não é mesmo?
O ser é assim, tem atitudes que nem sempre estão em conformidade com aquilo que quer e deseja.
Olá Iceman
uma opinião tua, expressa dessa forma noutro sítio (no teu blog, talvez) foi uma das razões que me levou a ficar entusiasmado com a leitura deste livro.
E tinhas toda a razão. Só não fiquei plenamente satisfeito porque senti que a passividade do Eugénio durante grande parte do enredo foi demasiado enfatizada pelo autor. Mas isso não retira brilhantismo à obra. Eu diria que é um livro de nota 9 de um a dez.
Um abraço.
Parabéns pelas críticas.
Tenho 17 anos e li essa obra (que para mim foi prima) e posso dizer que ela mudou minha vida. O questionamento, a espera, o ponto de ruptura, a decisão e a redenção do nosso "mártir" Engênio é simplesmente atemporal, introspectiva e fascinante.
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