CRÓNICAS
DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS
ROSALINA
– PARTE II
Hoje
é um dia diferente. Adoro estas ocasiões especiais. É em domingos
como este que mostro ao mundo, seja ele de quem for, quem é a
verdadeira Rosalina.
Pois bem, hoje é dia de casamento da filha de uma prima minha que
viveu em França durante uns vinte anos, mas que há um par deles
regressou às origens. Mal conheço a Tatiana, a noiva, e quanto ao
Jeremias, o felizardo, vi-o apenas uma vez, por altura da entrega do
convite e respectiva lista de casamento, da qual constava uma
playstation e um fim de semana num hotel-spa em
Trás-os-Montes. Modernices!
Portanto, em dia de festarola, acordei às 6h30. Vesti-me com um fato
de treino justo ao corpo e fui ao cabeleireiro para ser a primeira a
ser atendida. Durante duas horas, a dona, pois recuso-me ser atendida
por novatas, tratou-me do cabelo na perfeição, não obstante ele
apresentar um corte curto e simples. Mas fica bem quando pintado de
loiro, como a Julie Andrews – sabem? Aquela do “Música no
Coração!”; sempre adorei esse filme, mais pela música do que
pelo coração -; Assenta que nem uma luva na minha cara esguia e
bonita. A dona perguntou-me de que cor era o meu vestido e eu
expliquei-lhe que era a cor da moda. Ela ficou na mesma e eu também
ficaria, não fosse a rapariga que trabalhava na loja na qual o havia
comprado, duas semanas antes, mo ter confidenciado.
Quando
cheguei a casa, de cabelo tratado, perguntei ao marido se estava
bonita. Ele disse que sim com a cabeça. Afirmava sempre que sim.
Qualquer dia vou com ele ao parque e atiro-lhe uma bola de ténis
para ver quanto tempo demora a ir buscá-la e a trazê-la na boca.
Depois
vesti-me no meu quarto enquanto os miúdos e o meu marido faziam o
mesmo na sala. Íamos todos combinados, mas eu sobressaía. O meu
traje tinha sido adquirido no estabelecimento onde a noiva o havia
encomendado. Eu pedi que fosse similar ao dela, mas sem cauda e mais
sofisticado.
Saímos
de casa e fiz questão que fossemos os primeiros a chegar à igreja.
Fiquei logo feliz, porque o padre, um moço novo mas demasiado
bonitinho para o meu gosto, perguntou-me se eu era a noiva. Eu dei
uma gargalhada muito alta, para ver se alguém se questionava do
mesmo. Em vão.
Antes
de a cerimónia iniciar, sentei-me na primeira fila, que costumava
ser destinada aos familiares mais directos. Quando a minha prima
chegou, olhou-me de soslaio e eu dei-lhe um grande beijo, como se
sempre tivéssemos sido as melhores amigas. Ela não gostou da minha
presença ali, bem sei. Porém, quem se importaria? Com o meu teatro
parecíamos unha e carne, e, dessa forma, eu estaria ao alcance de
todos os olhares, até porque sou alta e os tacões de doze
centímetros também ajudavam.
Os
noivos lá enfiaram as anilhas nos dedos e trocaram uns beijos,
coisas que aborreciam qualquer um, e, antes de saírem da igreja,
quando toda a gente os esperava, eu agarrei o braço do emplastro e
antecipei-me. Nos segundos que antecederam a partida da casa de Deus,
eu e o marido saímos quando toda a gente aguardava pelos noivos e
gritei que eles vinham aí! Metade dos convidados caiu na esparrela e
quilos de arroz nos foram endossados. Eu ri e expliquei que, apesar
de estar tão elegante quanto a noiva e aparentar a sua idade, eles
se haviam equivocado.
Esse
acabou por ser um dos momentos do dia. Mas houve outros. Também
gostei quando apanhei o ramo da noiva – gesto que teve de ser
repetido por perceberem que eu não era solteira-; quando fiz questão
de mostrar a toda a gente que o meu presente havia sido um dos mais
caros; quando substitui a noiva e fiz um mini strip-tease para
angariar dinheiro para o início de uma vida nova por parte dos
pombinhos; quando dancei para toda a gente ver; quando pedi para
fazer três brindes; ou quando arranquei um beijo na boca ao noivo
depois de ter bebido em demasia. Até quando escorreguei na pista de
dança, fi-lo com estilo.
Em
suma, foi um casamento muito bonito e cheio de vida.
Cheguei
a casa às tantas da manhã e um pouco ressacada. Nada, porém, que
um bom sumo de laranja logo pela manhã não pudesse resolver.
6 comentários:
Esta Dra.advogada faz mesmo tudo em grande...e até tem estilo.Gosta de protagonismo,coitada...como tanta gentinha que anda por aí e que nós conhecemos às resmas!
Adorei,simplesmente.Fartei-me de rir KKKKK...
Magistral!
Parabéns. Está com o nível que nos habituaste. Em frente...
ai Rosalina, Rosalina... dever ir a muitos casamentos com essa atitude, deves mesmo.
bom trabalho Vasco.
Ao ler esta parte vi verfeitamente pessoas reais. O ano passado uma senhora ao mostrar-nos as fotos de um casamento a que tinha ido, o Eduardo disse`CARAMBA, PARECIA A NOIVA`. a que ela respondeu toda feliz com uma alta gargalhada ``POIS MUITAS PESSOAS DISSERAM O MESMO`. Eu fiquei caladinha, porque aquele vestido, cheio de tecido, cor de vinho no seu corpo pouco elegante, ficava horroroso. O tecido a mais, o cauda nao muito grande e o xaile do mesmo tecido, so deixavam ver mesmo a cara dela e o penteado... o resto era so tecido cor de vinho...parabens, adorei.
Ah desculpa mas tens um pequeno lapso, aqui ( penso eu) ``olhou-me se soslaio e eu dei-lhe um grande beijo`` acho que nao e` SE mas DE... nao leves a mal, mas a mim acontece-me o mesmo e isso nao mal. Fico a espera do proximo capitulo.
Sabem como é...escrever ao correr da pena...E às vezes lemos vezes sem conta e não damos pelo erro!
A próxima crónica, que deve ser a Sra. Dra.advogada novamente, que nos irá aprontar?!...
Na quinta-feira como é habitual veremos!
Pois Guiomar nem imagina quantas vezes releio o que escrevo e muitas vezes tambem contiuo a encontrar erros. as vezes peco ao meu marido, ve la se tem algum erro, e' que eu ja nao vejo nenhum... mas as vezes esta la... estou a gostar muito destas cronicas, sao muito muito boas
Enviar um comentário