07/03/2013

CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS


CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS


ROSALINA – PARTE II

Hoje é um dia diferente. Adoro estas ocasiões especiais. É em domingos como este que mostro ao mundo, seja ele de quem for, quem é a verdadeira Rosalina.
Pois bem, hoje é dia de casamento da filha de uma prima minha que viveu em França durante uns vinte anos, mas que há um par deles regressou às origens. Mal conheço a Tatiana, a noiva, e quanto ao Jeremias, o felizardo, vi-o apenas uma vez, por altura da entrega do convite e respectiva lista de casamento, da qual constava uma playstation e um fim de semana num hotel-spa em Trás-os-Montes. Modernices!
Portanto, em dia de festarola, acordei às 6h30. Vesti-me com um fato de treino justo ao corpo e fui ao cabeleireiro para ser a primeira a ser atendida. Durante duas horas, a dona, pois recuso-me ser atendida por novatas, tratou-me do cabelo na perfeição, não obstante ele apresentar um corte curto e simples. Mas fica bem quando pintado de loiro, como a Julie Andrews – sabem? Aquela do “Música no Coração!”; sempre adorei esse filme, mais pela música do que pelo coração -; Assenta que nem uma luva na minha cara esguia e bonita. A dona perguntou-me de que cor era o meu vestido e eu expliquei-lhe que era a cor da moda. Ela ficou na mesma e eu também ficaria, não fosse a rapariga que trabalhava na loja na qual o havia comprado, duas semanas antes, mo ter confidenciado.
Quando cheguei a casa, de cabelo tratado, perguntei ao marido se estava bonita. Ele disse que sim com a cabeça. Afirmava sempre que sim. Qualquer dia vou com ele ao parque e atiro-lhe uma bola de ténis para ver quanto tempo demora a ir buscá-la e a trazê-la na boca.
Depois vesti-me no meu quarto enquanto os miúdos e o meu marido faziam o mesmo na sala. Íamos todos combinados, mas eu sobressaía. O meu traje tinha sido adquirido no estabelecimento onde a noiva o havia encomendado. Eu pedi que fosse similar ao dela, mas sem cauda e mais sofisticado.
Saímos de casa e fiz questão que fossemos os primeiros a chegar à igreja. Fiquei logo feliz, porque o padre, um moço novo mas demasiado bonitinho para o meu gosto, perguntou-me se eu era a noiva. Eu dei uma gargalhada muito alta, para ver se alguém se questionava do mesmo. Em vão.
Antes de a cerimónia iniciar, sentei-me na primeira fila, que costumava ser destinada aos familiares mais directos. Quando a minha prima chegou, olhou-me de soslaio e eu dei-lhe um grande beijo, como se sempre tivéssemos sido as melhores amigas. Ela não gostou da minha presença ali, bem sei. Porém, quem se importaria? Com o meu teatro parecíamos unha e carne, e, dessa forma, eu estaria ao alcance de todos os olhares, até porque sou alta e os tacões de doze centímetros também ajudavam.
Os noivos lá enfiaram as anilhas nos dedos e trocaram uns beijos, coisas que aborreciam qualquer um, e, antes de saírem da igreja, quando toda a gente os esperava, eu agarrei o braço do emplastro e antecipei-me. Nos segundos que antecederam a partida da casa de Deus, eu e o marido saímos quando toda a gente aguardava pelos noivos e gritei que eles vinham aí! Metade dos convidados caiu na esparrela e quilos de arroz nos foram endossados. Eu ri e expliquei que, apesar de estar tão elegante quanto a noiva e aparentar a sua idade, eles se haviam equivocado.
Esse acabou por ser um dos momentos do dia. Mas houve outros. Também gostei quando apanhei o ramo da noiva – gesto que teve de ser repetido por perceberem que eu não era solteira-; quando fiz questão de mostrar a toda a gente que o meu presente havia sido um dos mais caros; quando substitui a noiva e fiz um mini strip-tease para angariar dinheiro para o início de uma vida nova por parte dos pombinhos; quando dancei para toda a gente ver; quando pedi para fazer três brindes; ou quando arranquei um beijo na boca ao noivo depois de ter bebido em demasia. Até quando escorreguei na pista de dança, fi-lo com estilo.
Em suma, foi um casamento muito bonito e cheio de vida.
Cheguei a casa às tantas da manhã e um pouco ressacada. Nada, porém, que um bom sumo de laranja logo pela manhã não pudesse resolver.

6 comentários:

Guiomar Ricardo disse...

Esta Dra.advogada faz mesmo tudo em grande...e até tem estilo.Gosta de protagonismo,coitada...como tanta gentinha que anda por aí e que nós conhecemos às resmas!
Adorei,simplesmente.Fartei-me de rir KKKKK...
Magistral!

Guiomar Ricardo disse...

Parabéns. Está com o nível que nos habituaste. Em frente...

Ângelo Marques disse...

ai Rosalina, Rosalina... dever ir a muitos casamentos com essa atitude, deves mesmo.
bom trabalho Vasco.

Fernanda R-Mesquita disse...

Ao ler esta parte vi verfeitamente pessoas reais. O ano passado uma senhora ao mostrar-nos as fotos de um casamento a que tinha ido, o Eduardo disse`CARAMBA, PARECIA A NOIVA`. a que ela respondeu toda feliz com uma alta gargalhada ``POIS MUITAS PESSOAS DISSERAM O MESMO`. Eu fiquei caladinha, porque aquele vestido, cheio de tecido, cor de vinho no seu corpo pouco elegante, ficava horroroso. O tecido a mais, o cauda nao muito grande e o xaile do mesmo tecido, so deixavam ver mesmo a cara dela e o penteado... o resto era so tecido cor de vinho...parabens, adorei.

Ah desculpa mas tens um pequeno lapso, aqui ( penso eu) ``olhou-me se soslaio e eu dei-lhe um grande beijo`` acho que nao e` SE mas DE... nao leves a mal, mas a mim acontece-me o mesmo e isso nao mal. Fico a espera do proximo capitulo.

Guiomar Ricardo disse...

Sabem como é...escrever ao correr da pena...E às vezes lemos vezes sem conta e não damos pelo erro!
A próxima crónica, que deve ser a Sra. Dra.advogada novamente, que nos irá aprontar?!...
Na quinta-feira como é habitual veremos!

Fernanda R-Mesquita disse...

Pois Guiomar nem imagina quantas vezes releio o que escrevo e muitas vezes tambem contiuo a encontrar erros. as vezes peco ao meu marido, ve la se tem algum erro, e' que eu ja nao vejo nenhum... mas as vezes esta la... estou a gostar muito destas cronicas, sao muito muito boas