04/04/2013

CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS


CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS


ROSALINA – PARTE VII


Branco. Rosalina Branco.
Podem tratar-me desta forma durante esta semana.
Isto porque, ontem à noite, às 11h57, quando encarei o meu Gucci – que não é Gucci mas antes Gusci - soube que ia transformar-me num ícone do mundo de espionagem. Bem, num pequeno ícone, e apenas do meu mundo. Embora nada me impeça de utilizar a expressão. Sim, porque nós advogados somos peritos em brincar com as palavras. Por exemplo, assumir que 'hoje tive um caso com o pintor que está a renovar o muro da minha casa' e 'hoje (tive um caso com) o pintor (que) está a renovar o muro da minha casa'. Vêem? Não menti, apenas omiti. Logo se dissesse a frase completa ao meu marido e omitisse o que está em parêntesis, repetindo para mim mesma as palavras ocultas e prendo-as dentro da minha cabeça para sempre, não estaria necessariamente a faltar à verdade. É uma técnica muito usual no meu meio. Mas, atenção! Só estava a exemplificar, não tive caso algum com o pintor, embora ele não seja de desdenhar. E não! Eu andei a serpentear pelo jardim e pela rua, mas ele estava muito compenetrado a cantar a música do pisca-pisca da autoria de uma moça loira cujo nome me esqueci por momentos. De tal forma que nem reparou em mim.
Mas adiante!
O que interessa aqui referir? Pois. Branco. Rosalina Branco.
Então, às 11h58, depois de ter encarado o meu Gusci, perdão, GUCCI, vi o meu sorriso pela última vez reflectido no espelho da casa de banho naquela noite. Eu estava vestida de preto, que nem um ninja e, decidida, puxei para baixo um daqueles gorros que tapam a cabeça toda à excepção dos olhos e da boca. Costumava usá-lo quando ia esquiar nas estância de Inverno situadas no Jura – sabem? Aquela cadeia montanhosa nos Alpes Suíços, não muito longe da Covilhã – mas naquela noite a máscara teve outro propósito. Oh, se teve!
Então, às 00h01 do dia seguinte, quando todos estavam a dormir na minha casa, eu saí. Olhei para um lado e para o outro da rua para verificar se alguém passava. Ninguém – o que não era difícil parque a minha rua não tem saída e localiza-se numa zona verde bastante agradável, para além de que só lá existem quatro habitações: a minha, a de um casal que vive no estrangeiro, a da minha vizinha-inimiga e outra que está à venda.
Escapuli-me pela rua – apenas dez metros – até chegar à casa da vizinha-inimiga, aquela vaca! Galguei o muro de meio metro e rastejei pela vegetação. Dei duas cambalhotas e encostei-me a uma das paredes da casa. Pé ante pé, desloquei-me para junto da porta. Felizmente não precisei de comprar gazuas no mercado negro – elas custam uma pipa de massa, não que precisasse delas, apenas me haviam contado um dia destes – pois tinha a chave da entrada. Não que tenha feito uma cópia. Na realidade, ela, a vizinha-inimiga, deixava-me sempre a sua chave para regar as plantas quando viajava – o que era o caso.
Enfiei a chave na fechadura, abri a porta e entrei. Saquei a lanterna do bolso e subi as escadas à procura da prova do crime, que eu sabia onde encontrar. Subi até ao escritório e liguei o computador. Depois do ecrã acender, fui ao histórico e abri o e-mail. E rezei. Quando percebi que a password estava gravada deixei de rezar, dado que já não precisava de Deus.
Não foi difícil de encontrar o que desejava, bastou pesquisar duas ou três palavras específicas.
Et Voilà!
Ri que nem uma louca quando obtive o que queria. A vaca tinha-me dito que viajara para a Phuket. No entanto, estava ali, eu encontrara o e-mail que confirmava que tinha ida para Benidorm, e para um hotel de 3 estrelas, a um quilómetro da linha do mar.
Onde já se viu isto? Exibicionista! Ela sabia que a Tailândia era o meu destino de sonho!
Reencaminhei a mensagem proveniente da agência de viagens para o meu e-mail e saí. Mais tarde criaria uma conta anónima e espalharia pelo povo a novidade. Afinal, as pessoas não devem mentir.
Quando voltei a encarar o espelho era 00h22 e o meu sorriso estava ainda mais belo.
Seria servida a vingança por ela ter escrito 'ADVOGADA DO DIABO' no meu muro, com letras bem gordas e vermelhas – quer dizer, tenho quase a certeza que foi a vizinha-inimiga depois de me ter apanhado a roubar laranjas do seu quintal. Na altura pensei em levá-la a tribunal, mas teria de provar as acusações e só Deus sabe quando o processo terminaria. Até porque a justiça em Portugal está de rastos e nem tudo se pode resolver dessa forma.
Portanto, qual James Bond qual quê? Branco. Rosalina Branco. E venha daí um uísque não-sei-quantos anos que Martini é para mariquinhas.




2 comentários:

Helena disse...

Ah, ah, ah! Viva a boa disposição!!! Estava mesmo a precisar de uns minutos de descontração!

Fernanda R-Mesquita disse...

Vive a grande esta Rosalina Branco... Esquiar na Suica, uísque, quanto mais velho mnelhor, mas maior vive a sua imaginaca e parece que a sua auto estima... tem juizo Rosalinazinha e um pouco de honestidade nao ficava mal... eheh