"O Décimo Terceiro Conto", de Diane Setterield (Editorial Presença)
Opinião (Ana Nunes):
Já há alguns anos que este livro estava na minha estante, à espera de
ser lido. Reeditado recentemente, a minha edição é ainda a primeira, com
a capa mais bonita (a dos livros).
O Décimo Terceiro Conto, ao contrário do que o título e a capa
possa sugerir, não é um livro sobre livros. É antes um livro sobre uma
escritora e a sua verdadeira história, e também de uma leitora, mas não
tanto sobre os livros que elas lêem ou que marcaram as suas vidas.
A trama é surpreendente, na medida em que leva o leitor a acreditar numa
coisa e depois, de forma muito brilhante, revela que, afinal de contas,
não era bem como se esperava. Adorei a reviravolta final e não me senti
atraiçoada pela obra. Afinal as pistas estavam lá. Bastava olhar com um
pouco de mais atenção.
Contando a história de uma família muito disfuncional, numa casa que se
torna, também ela, anormal. Desde o início que sabemos que esta história
será uma sucessão de tragédias e, efectivamente, esse é tanto o ponto
forte, como o ponto fraco do livro. A autora consegue fazer o leitor
sentir mas não há nada de bom no meio, para compensar. Essa falta de
felicidade torna a obra muito pesada, em determinados momentos e no
geral. Só mesmo no fim temos um vislumbre de possível mudança, mas é tão
breve que não chega para quebrar a fatalidade de toda a história.
Só achei duas coisas mal no desfecho: o facto de nunca se descobrir o
que aconteceu a Emmeline/Adeline, ou seja, quem sobreviveu; o facto de
não haver qualquer razão para a Vida ter abandonado o Ambrose, depois de
ter apregoado o quanto o amava e sentia que ele era parte dela.
A nível de personagens, Vida é, sem sombra de dúvida, a alma do livro.
Ou não fosse esta a sua história. Por outro lado, Lea é das
protagonistas mais aborrecidas que conheci. No início era interessante,
com o seu amor por livros, a sua família em cacos, e uma curiosidade
nata. No entanto, à medida que o livro ia avançando, ela tornou-se mais e
mais repetitiva, mais e mais uma espectadora cuja presença passou a ser
quase banal, inconsequente. Não fosse o facto de ela ser o elo com o
Ambrose, eu diria que ela se tornou prescindível. E já que falo no
Ambrose, aí está outra personagem que me cativou, apesar de achar que
merecia mais páginas.
Ainda assim, Vida foi soberba. A sua dor, a sua
relutância em contar a verdade. Tudo foi muito bem conseguido,
envolvendo o leitor até ele se sentir parte do seu relato.
A prosa da autora é muito rica e detalhada, dando vida a um role de
personagens interessantes e a uma mansão que parecia, ela própria, uma
personagem. A forma como leva o leitor a crer numa coisa, ignorando
todos os sinais de outra coisa, é fascinante. Gostei muito da escrita,
tendo marcado várias passagens.
Contudo, achei que podiam ter ligado melhor a história de vida da autora com a
sua obra. Fazia mais sentido, tendo em conta o título do livro.
Em suma, O Décimo Terceiro Conto é uma belíssima obra, uma história que merece ser apreciada, devagarinho. Só me arrependo de não o ter lido antes.
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