Alguns dos nossos comentários contém spoilers.
Comentário da Di
I enjoyed reading The Last Kabbalist of Lisbon because it is a very unique murder mystery that takes place during a specific historical time period. At times it’s hard to believe it’s even fiction at all because Zimler mixes fiction and fact so well. This novel shows us a glimpse of Portugal in 1506, when so many Jews were massacred. It was during Passover of this year that Jews were targetted and blamed for anything and everything. Some of the scenes in this book are really gruesome and horrific. Sometimes it’s hard to move on and turn the page because you feel numb and frozen in place. Berekiah Zarco is a Jew living in Lisbon during this time period, and when these riots begin,he comes home to find his uncle Abraham (an expert Kabbalist and book illustrator) dead and naked, next to the dead and naked body of an unknown young woman. We also get to see an exorcism in this book and we witness many homeopathic cures. While Berekiah tries to discover his uncle’s murderer, his quest is one filled with many obstacles that test his faith and will. Farid, Berekiah’s best friend, accompanies him on his quest to find Uncle Abraham’s killer. Their investigation leads them to believe that Abraham’s killer might be one of the “threshers” within their circle, so they are forced to question and suspect their close friends and loved ones as potential suspects. After these riots begin, many are left to fend for themselves, and many Jews are forced to run or hide who they are in order to escape from murder, assault, rape and many more indecencies and violence. Relationships, friendships and families are tested and strained or completely torn apart after these riots begin. Berekiah, his family and many other Jews in Portugal at this time struggle with trying to stay true to who they are, and I think this is the most important message that Zimler gives us in this book. Zimler talks about wearing masks in this novel and the message I got was that we can only be truly happy when we are accepted for who we are, without wearing any masks. I don’t think you need to be an expert on Kabbalah to understand this book; this book was more of a spiritual journey for me and I would definitely recommend it.
Comentário do Ângelo Marques
Judiaria Pequena, Lisboa, ano de 1506, Reinado de D. Manuel, Abril, Páscoa Judaica por essa altura Abraão Zarco, o último cabalista, é assassinado durante o designado massacre de Lisboa, massacre conduzido pelos frades dominicanos e que eliminou milhares de judeus com o alegado motivo que estes eram os causadores da peste e seca que se vivia em Lisboa por essa altura.
Berequias Zarco sobrinho de Abraão, sobrevivente desses massacres, empreende uma investigação meticulosa para descobrir quem assassinou o seu tio, todos serão suspeitos. Tem a seu lado Farid, amigo de infância, que o acompanhará e protegerá ao longo da sua investigação nesses dia tão complicados para os judeus, nesses dias que deveriam ser de alegria e celebração.
Muitos destes judeus já tinham sido expulsos de Castela em 1492, amargurados e torturados tentam em Portugal um refúgio, passados alguns anos e mesmo depois da sua conversão forçada para novos-cristãos sofrem este massacre sem que o reino (reinado de D. Manuel "O Venturoso") os proteja.
Descrições de Lisboa bastante pormenorizada fica-se com a sensação de estar lá, com bastante fluidez na leitura e ação, mesmo o dicionário inicial se torna desnecessário pois o autor por norma após a palavra descreve a o seu desígnio.
Zilmer comparo este escritor a um estilista, Zilmer é um estilista literário a sua escrita tem um corte agradável com uma certa beleza poética Gostei de ler este "O último cabalista de Lisboa" uma dúzia de personagens que Zilmer tem que preencher durante um período temporal muito reduzido. Gostei particularmente de Farid e de como o autor lhe impôs certos traços contraditórios do nosso estereótipo quotidiano. Berequias ou Pedro Zarco ficou um pouco aquém daquilo que esperava revelou uma imaturidade no decorrer do livro que não gostei. O pendor sexual de 1500 é bem vincado pelo autor, que se torna um pouco excessivo na minha opinião.
São destes gritos, desta força literária que necessitamos. Temos de entender aquilo que fomos não só compreender e saber as descobertas e boas ações dos nossos navegantes que tanto estimamos e impomos a nos próprios, livros assim que expõem a nu o nosso fanatismo, a nossa estupidez, e não pensem que hoje somos muito diferentes de 1500 evoluímos, sim sem dúvida que sim, mas evitamos falar do nosso passado negro e quando se contraria a nossa moldagem ainda temos estes acessos de loucura. Não devemos ter vergonha do nosso passado, devemos tentar compreender porque aconteceu e corrigir futuras ações/gerações, e ter a humildade de pedir perdão pelas nossas ações.
Um livro recomendado, onde sobressai a linearidade de escrita de Zilmer.
Comentário do Luís Miguel
O Último Cabalista de Lisboa é um livro escrito por Richard Zimler com base em três de entre vários manuscritos encontrados numa casa antiga em Istambul. Estes relatam a saga da família de Berequias Zarco durante o pogrom de Lisboa, em Abril de 1506, mas centram-se, principalmente, na sua procura pelo assassino de seu amado tio e mentor, Abraão Zarco, um cabalista e destacado membro da comunidade judaica de Lisboa.
O Último Cabalista de Lisboa é um livro escrito por Richard Zimler com base em três de entre vários manuscritos encontrados numa casa antiga em Istambul. Estes relatam a saga da família de Berequias Zarco durante o pogrom de Lisboa, em Abril de 1506, mas centram-se, principalmente, na sua procura pelo assassino de seu amado tio e mentor, Abraão Zarco, um cabalista e destacado membro da comunidade judaica de Lisboa.
Para termos uma visão mais clara sobre aquela época, devemos referir que a comunidade judaica que vivia em Portugal, na altura, no princípio do século XVI, tinha sido forçada a converter-se ao cristianismo, condição obrigatória para poderem permanecer no nosso país, sendo denominados de cristãos-novos.
Tendo como pano de fundo esses tristes acontecimentos de Abril de 1506, em Lisboa, onde cerca de dois mil cristãos-novos foram mortos, na sua maioria queimados em fogueiras gigantescas no Rossio, este livro é mais um testemunho da perseguição movida aos judeus ao longo dos séculos. Neste caso em concreto, essas perseguições aconteceram em Portugal, ao longo dos séculos XV a XVIII, muito por influência e pressão dos nossos vizinhos de Castela, onde os judeus já eram perseguidos e estavam a ser expulsos do reino há mais tempo. A força das alianças impede o nosso rei D. Manuel I de seguir a sua vontade e faz com que siga uma política imposta por Castela. Podemos também referir que a Inquisição foi instaurada em Portugal 50 anos depois de ter sido implantada em Espanha.
Ao longo do seu relato, Berequias Zarco faz-nos um retrato da sociedade lisboeta da época, onde imperam a intolerância e a superstição. A comunidade judaica, mistificada e incompreendida, é responsabilizada pela peste e pela seca que grassam na cidade sendo que, num momento de loucura colectiva, a populaça, instigada por frades dominicanos, lança-se numa perseguição louca e impiedosa aos cristãos-novos, matando-os às centenas e cometendo actos de extrema violência.
Este é o cenário em que Berequias Zarco se encontra quando se depara com o seu tio morto. Trata-se de um assassínio misterioso e intrigante pois o seu tio é encontrado morto na sua cave, as portas estão fechadas, ao seu lado jaz o corpo de uma jovem rapariga, ambos estão nus, ambos têm o pescoço cortado. Quem poderá ter cometido tão infame acto? Terão sido os cristãos-velhos ou algum membro da sua própria comunidade? Tudo é possível e Berequias lança-se de imediato na perseguição do assassino. A sua tarefa é duplamente arriscada naquelas ruas tumultuosas onde qualquer judeu identificado tem a sua vida em risco.
Berequias é um jovem judeu que conhece bem as tradições da sua religião, mas que não deixa de a questionar, de ter as suas dúvidas. Por outro lado, é iniciado no cabalismo por seu tio e mentor, a pessoa mais importante da sua vida, o que lhe dá uma visão mais ampla do ser humano no universo. Após a morte deste, nota-se que a sua sede de vingança o domina, nada mais lhe interessa nem o deixa desviar-se do seu caminho, da sua busca.
O desígnio de Abraão Zarco em que este vê o seu sobrinho como o salvador dos judeus de Portugal revela a Berequias o real objectivo deste seu relato, assim, toma consciência que os seus manuscritos têm como finalidade alertar a comunidade judaica para a crescente insegurança para aqueles que permanecem em Portugal e outros países católicos europeus, devido à crescente perseguição que lhes é movida, facto agravado com a instauração da “Santa” Inquisição. Berequias como que exorta os seus compatriotas a fugirem para países muçulmanos, como a Turquia, onde são bem acolhidos e onde podem encontrar, por fim, alguma paz e segurança.
A objectividade desta história e a vontade de também nós querermos saber o que realmente sucedeu leva-nos a percorrer as páginas fluidamente, aproveitando também para conhecermos um pouco mais sobre uma época da nossa história que devemos relembrar e reflectir.
Comentário da Paula
Tendo como pano de fundo esses tristes acontecimentos de Abril de 1506, em Lisboa, onde cerca de dois mil cristãos-novos foram mortos, na sua maioria queimados em fogueiras gigantescas no Rossio, este livro é mais um testemunho da perseguição movida aos judeus ao longo dos séculos. Neste caso em concreto, essas perseguições aconteceram em Portugal, ao longo dos séculos XV a XVIII, muito por influência e pressão dos nossos vizinhos de Castela, onde os judeus já eram perseguidos e estavam a ser expulsos do reino há mais tempo. A força das alianças impede o nosso rei D. Manuel I de seguir a sua vontade e faz com que siga uma política imposta por Castela. Podemos também referir que a Inquisição foi instaurada em Portugal 50 anos depois de ter sido implantada em Espanha.
Ao longo do seu relato, Berequias Zarco faz-nos um retrato da sociedade lisboeta da época, onde imperam a intolerância e a superstição. A comunidade judaica, mistificada e incompreendida, é responsabilizada pela peste e pela seca que grassam na cidade sendo que, num momento de loucura colectiva, a populaça, instigada por frades dominicanos, lança-se numa perseguição louca e impiedosa aos cristãos-novos, matando-os às centenas e cometendo actos de extrema violência.
Este é o cenário em que Berequias Zarco se encontra quando se depara com o seu tio morto. Trata-se de um assassínio misterioso e intrigante pois o seu tio é encontrado morto na sua cave, as portas estão fechadas, ao seu lado jaz o corpo de uma jovem rapariga, ambos estão nus, ambos têm o pescoço cortado. Quem poderá ter cometido tão infame acto? Terão sido os cristãos-velhos ou algum membro da sua própria comunidade? Tudo é possível e Berequias lança-se de imediato na perseguição do assassino. A sua tarefa é duplamente arriscada naquelas ruas tumultuosas onde qualquer judeu identificado tem a sua vida em risco.
Berequias é um jovem judeu que conhece bem as tradições da sua religião, mas que não deixa de a questionar, de ter as suas dúvidas. Por outro lado, é iniciado no cabalismo por seu tio e mentor, a pessoa mais importante da sua vida, o que lhe dá uma visão mais ampla do ser humano no universo. Após a morte deste, nota-se que a sua sede de vingança o domina, nada mais lhe interessa nem o deixa desviar-se do seu caminho, da sua busca.
O desígnio de Abraão Zarco em que este vê o seu sobrinho como o salvador dos judeus de Portugal revela a Berequias o real objectivo deste seu relato, assim, toma consciência que os seus manuscritos têm como finalidade alertar a comunidade judaica para a crescente insegurança para aqueles que permanecem em Portugal e outros países católicos europeus, devido à crescente perseguição que lhes é movida, facto agravado com a instauração da “Santa” Inquisição. Berequias como que exorta os seus compatriotas a fugirem para países muçulmanos, como a Turquia, onde são bem acolhidos e onde podem encontrar, por fim, alguma paz e segurança.
A objectividade desta história e a vontade de também nós querermos saber o que realmente sucedeu leva-nos a percorrer as páginas fluidamente, aproveitando também para conhecermos um pouco mais sobre uma época da nossa história que devemos relembrar e reflectir.
Comentário da Paula
O que dizer sobre um livro que se adorou ler?
Tenho sempre alguma dificuldade em “dissertar” sobre um livro de que gostei muito e que me prendeu, isto tudo porque as palavras serão poucas para exprimir o quanto gostei de o ler!
Esta é uma narrativa baseada em factos verídicos – Em Abril de 1506 durante as celebrações da Páscoa, cerca de dois mil cristãos-novos foram mortos em Lisboa e os seus corpos queimados no Rossio. Este é um tema que apesar de muito triste, gosto de ler pela informação histórica dos factos que se adquire e também porque a cultura judaica de certa forma fascina-me. Admiro a sua força e preserverança. A forma como incutem as suas tradições aos seus descendentes.
Muitas vezes Igreja católica cometeu crimes horrendos, crimes estes que jamais devem ser esquecidos. No entanto, devemos saber separar os representantes da igreja do ser superior em que acreditamos. Na minha modesta opinião, um não tem nada a ver com o outro (mas este é um tema que dava um outro post).
Zimler, é um mestre na escrita. Neste livro, para além de todo o conteúdo histórico que nos transmite, aproxima-nos dos personagens e leva-nos por vários trilhos de acções cheias de tensão e mistério, sem nunca perder o fio condutor da narrativa e sem nunca desiludir o leitor!
Excelente, recomendo sem reservas!
Comentário de Manuel Cardoso
O Último Cabalista de Lisboa baseia-se num acontecimento verídico, um grande massacre de cristãos-novos e judeus ocorrido em Lisboa no reinado de D. Manuel, em 1506, na Páscoa judaica. A fome e a peste atingiam a capital sem piedade e o povo, fanatizado pelas pregações anti-semitas dos frades dominicanos, encarando os judeus como responsáveis pela ira de Deus, levou à morte milhares deles. O rei, pouco corajoso, foi complacente com os acontecimentos, permitindo inclusivamente grandes fogueiras no rossio, onde muitos judeus foram queimados.
Na ficção de Zimler, Abraão Zarco é morto nesse dia mas por um cristão-novo. Berequias Zarco, o sobrinho de Abraão é o herói da nossa estória e levará a cabo uma investigação emocionante e recheada de perigos.
Trata-se de um livro bastante negro: é visível a amargura com que Zimler descreve este terrível fenómeno histórico que é o anti-semitismo. Uma das grandes manchas negras da história da humanidade, que se mantém até ao século XX e com reflexos ainda na realidade actual.
Mas nem tudo é sombrio neste livro: um dos aspectos mais interessantes deste livro é o facto de o maior amigo de Berequias, Farid, ser um muçulmano. A amizade entre os dois é muito intensa e é visível a boa convivência entre judeus ou cristãos-novos (aqueles que haviam sido forçados à conversão) e os mouros, em oposição ao fanatismo e violência insana dos cristãos.
Se bem que se trate de uma obra de ficção, é bom que se diga que o ambiente retratado tem, infelizmente, uma grande base de realidade: a porcaria dos corpos e das almas grassava em Portugal: o fanatismo, a estupidez, a barbárie total. De todos os problemas do reino eram atribuídas culpas aos judeus. O ódio reinava e a própria Igreja Católica alimentava-o. Por medo ou pró convicção, o povo transformava o ódio na violência mais absurda que se possa imaginar. Muitos destes judeus tinham sido expulsos de Castela, em 1492 de onde o Rei Fernando (cognominado O Católico) os havia expulsado. Mas não é a paz que eles encontram em Portugal. É a insanidade total de um ódio tão cego quanto inexplicável.
Um livro triste, chocante, mas também emocionante e que nos faz pensar. E até ter uma certa vergonha de sermos “filhos” desta nação e desta cultura de raiz cristã que nos moldou…