23/05/2013

CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS

CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS

 
MOUSTAFA (e Maria e Bruno) – PARTE IV


Eu tinha 13 anos quando assumi a minha genialidade, primeiro perante a Maria e o Bruno, depois perante o mundo. Ou melhor, perante as raparigas da minha turma, mas que não deixava de ser o meu mundo.
Tinha acabado de saber que um tio meu classificava as namoradas num bloco, dando-lhes estrelas, consoante aquilo que ele chamava de 'performance'. No início não soube ao que ele se referia. Deduzi que fosse a arte de cozinhar que estivesse em avaliação ou, quando muito, a capacidade de responder 'sim' a qualquer questão que ele fizesse.
Durante semanas meditei sobre isso. Até que, num dia de Páscoa em que se afogou em álcool, eu tive oportunidade de lhe roubar o bloco para poder tirar as minhas ilações. Bem, na realidade, sim, ele afogou-se em álcool. Não que fosse um alcoólico porque nem bebe. Mas estava a assar chouriços e o Bruno esguichou um pouco de álcool para a mão, depois para o braço e por fim para o ombro. Ele queimou-se um bocadito, mas hoje em dia já não se nota - pelo menos quando está vestido. Por acaso fiz isso de propósito. Peguei numas bisnagas e enchi a minha de água e a do Bruno com álcool. E pronto, quando as labaredas estavam no auge - as chouriças tinham muita gordura e tinha sido a Maria que as fora comprar a meu mando, oferta minha à família com a meia mesada dela - eu gritei 'embora lá molhar o tio Nel'. 
E foi assim. Alguns choraram outros riram. Na verdade só eu é que comecei por rir, e depois a Maria e o Bruno. Houve quem tivesse levado o tio Nel ao hospital, se bem que outros repreenderam o Bruno, lavaram a cozinha ou correram à vez para o telefone a contar o que tinha acontecido. Esse foi auge da tarde, pois na sala de jantar eu estava só, no meio das iguarias. Estávamos ali... eu e o casaco do tio Nel. E adivinhem o que continha o bolso de dentro do lado do coração? O bloco.
Roubei-o e enfiei-me no quarto a lê-lo. Fiquei muito chocado na altura porque aquilo não tinha apenas estrelas. Continha também observações. Uma nojeira autêntica.
Depois de ter colocado de parte a hipótese dos cozinhados, conclui que a vida sexual do meu tio estava exposta ali, de forma crua e rude. E apesar de eu ser inexperiente nessa área, gostei da parte de expor e descrever as vidas alheias.
Resolvi, por isso, classificar as miúdas da minha turma, embora nunca tivesse dormido com elas. Diziam que não eram rãs para gostarem de sapos, algo muito idiota de se dizer, pois as rãs possuem um ovário vestigial e os sapos não. Ora, como eu me considero um macho-macho, para ser conhecido como um anfíbio ao menos que me chamem sapo - sou um sapo e com muito orgulho. Odeio sapos, mas descobri que odeio ainda mais as rãs.
Não tardou até que a Vanessa, a Teresa, a Rute, a Ana, a Margarida, a Rita I e a Rita II passassem a estar na minha mira. Avaliei-as com todo o meu poder. Tirei-lhes as medidas que nem um alfaiate, penetrei dentro delas que nem o fumo de um cigarro - cigarro, fumo, cancro... OK, esqueçam esta analogia que não sou um O-R-C-N-A-C.
Não dormi, portanto, com elas mas assim imaginei. Quando terminou o ano lectivo já eu tinha uma escala bem definida acerca das suas potencialidades. A Vanessa era a mais atrevida, a Teresa a que mais gritava. A Rute gostava de chamar pelo meu nome e a Ana gostava de variar. A Margarida atirava-se a mim sempre que estava de barriga cheia, a Rita I adorava lingerie vermelha e a Rita II queria sempre mais.
Eu era o maior, o mais vivido, uma espécie de rei da escola, como o meu tio Nel continuava a sê-lo, excepto quando se deslocava ao hospital para as consultas de oftalmologia... não, de reumatologia... hum, pediatria? Pronto! Quando se deslocava para a unidade dos queimados.
Mas onde estava a genialidade? Pois bem. A minha classificação não se baseava em estrelas. Isso seria uma coisa muito básica para mim. Eu inventei uma nova forma de classificar as mulheres. Vocês conhecessem a triagem de prioridades de Manchester? Claro que não. Mas é para isso que cá estou, para vos guiar. Esta coisa de Manchester define o grau de urgência aplicada nos hospitais: vermelho quando se está para morrer, laranja quando estamos um bocadinho mal, amarelo para entendermos que somos uns nabos porque tudo se resolveria com um Ben-U-Ron, verde para sermos gozados pelas auxiliares e seguranças e azul para passarmos a fazer parte da paisagem dos serviços.
Pois bem, esse senhor, o senhor Manchester - ou estará esta designação relacionada com aquela cidade irlandesa? Hm, irlandesa ou sueca? -, nada inventou!
Quem inventou essa escala fui eu! Sim senhor! Fui eu!
Eu classifiquei as miúdas dando-lhes uma cor em função do quão boas elas se revelavam nos meus sonhos! Por isso, todos os dias, à socapa, fazia cruzes com as minhas canetas que usava na escola nos casacos ou nas T-shirts delas, como que marcando-as para todo o sempre. As melhores, a Vanessa, a Rute e a Rita II levavam com o azul. À Margarida, à Teresa e à Ana oferecia-lhes a cor verde. Apenas a Rita I merecia o vermelho.
Mais tarde esta forma de classificar a performance foi espalhada. Tristemente nunca ninguém me tinha marcado, até que a Maria e o Bruno me levaram um dia ao paintball e dispararam sobre mim milhões de balas azuis. Esse foi o dia mais feliz da minha vida.


2 comentários:

Norma Gondar disse...

Cada vez melhor!!!

macy disse...

Ahahah isto promete!!!!