Esmeralda e Quasimodo
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Como estamos na última semana de Outubro, os membros do blogue já concluiram a leitura conjunta do II Volume do livro de Victor Hugo "Nossa Senhora de Paris".
Seguem-se as opiniões dos membros do blogue que leram o livro, os visitantes que quiserem participar podem colocar os seus comentários na caixa dos comentários deste post.
Atenção, porque as opiniões contem spoilers.
Comentário do Ângelo Marques
Este volume II inicia-se com um cortejar das donzelas presentes em casa de Flor-de-Lis à indiferença do jovem e belo Phobeus, a certo momento Flor-de-Lis chama por Esmeralda, que dançava na praça.
O espectáculo de Esmeralda enciuma as jovens e a cumplicidade na troca de olhares entre Phobeus e Esmeralda coleriza Flor-de-Lis, este episódio culmina na fuga de Esmeralda após a sua cabra Djali ter escrito o nome de Phobeus.
Frollo eleva o seu amor por Esmeralda para o patamar da paranóia, louco, procura saber mais sobre a bela cigana, descobre o seu relacionamento com Gringoire, fica tresloucado, mas mantendo a calma vai coleccionado informações vitais sobre Esmeralda, entre as quais que esta parece estar apaixonada por Phobeus, o belo capitão Phobeus.
Jehan irmão de Claude, boémio invertebrado, rouba Claude e com o dinheiro parte para a farra onde encontra Phobeus, por destino Frollo assiste a esse encontro, ao saber do encontro entre Phobeus e Esmeralda segue os parceiros da noite até Phobeus ficar só.
Claude Frollo interpola Phobeus, primeiro tenta evitar a realização do encontro não conseguindo ajuda Phobeus a ter o tão desejado encontro com Esmeralda. Transtornado, fora de si, Frollo que estava escondido numa divisão da pensão, apunhala Phobeus e foge do local deixando Esmeralda com o corpo inanimado.
Esmeralda é presa e acusada da morte de Phobeus, no julgamento é acusada e condenada à morte por enforcamento.
Frollo visita Esmeralda nos calabouços e suplica-lhe que o ame e assim terá a salvação (Vítor Hugo tem aqui uma das melhores descrições do amor de Frollo por Esmeralda) mas Esmeralda intransigente diz-lhe só estar interessada em Phobeus.
Já na praça e com o enforcamento à vista, Quasimodo como que um ser alado resgata Esmeralda da forca e carrega-a para a catedral de Notre-Dame, invocando o direito, muito usual nesses tempos, de santuário ficando assim a cigana protegida dos seus malfeitores, presa nessa catedral.
O amor de Quasímodo por Esmeralda leva-o a protege-la e a cuidá-la, mas mesmo assim, grata por lhe salvar a vida, Esmeralda não consegue enfrentar a triste figura de Quasimodo.
Frollo ao tomar conhecimento da aventura de Quasimodo tenta entrar na cela onde Esmeralda vive mas é surpreendido por Quasimodo, quando este vê que é Frollo fica petrificado balança entre o amo e o amor.
O amor louco de Frollo por Esmeralda faz com que este planeie algo para ficar com ela. Convence Gringoire que as autoridades levantaram o estado de santidade para poderem ir buscar a Esmeralda e proceder ao seu enforcamento, a sua única salvação será se alguém fizer algo por ela antes de isto acontecer. Gringoire reúne e convence os vagabundos do Pátio dos Milagres a salvarem uma filha deles, Esmeralda, estes aceitam levar a cabo o assalto a Notre-Dame, mais pelas riquezas que esta contem do que pela vida de Esmeralda.
Após a chegada da noite os vagabundos da cité reúnem-se para o assalto, marcham como soldados até Notre-Dame, forçam a entrada, Quasimodo sobressaltado e confuso tenta resistir a este assalto, repele os vagabundos, estes contra-atacam e trava-se uma batalha mortífera.
O rei que estava de visita a Paris, sabendo destes acontecimentos por Gringoire, é aconselhado a contra atacar esta rebelião popular visto ser um ataque a si próprio (eles atacam Notre-Dame, edifício do rei) assim o rei faz avançar o exército sobre os vagabundos, ordenado que no final enforcassem Esmeralda, fazendo ele aquilo que, pensava, que os vagabundos iriam fazer. O exército faz com que os vagabundos retirem após numerosas baixas nas sua fileiras.
Enquanto esta luta era travada, Frollo e Gringoire, executavam a segunda parte do plano de salvarem eles Esmeralda, retiram Esmeralda da catedral, aqui Frollo não revela a sua identidade, através do rio sena.Quasimodo e o exército procuram por toda catedral por Esmeralda, espantados nada encontra o exército parte, Quasimodo insiste na procura.Frollo, Gringoire, Esmeralda e Djali, a cabra, chegados a terra avançam até à praça Grevé aqui Gringoire e Djali fogem, Frollo mostra-se a Esmeralda ameaçando-a de a entregar as autoridades se esta não o amar.
Esmeralda entrega-se à forca sem pestanejar, Frollo entrega Esmeralda a Gudule (mulher que vive na lucrana, na toca do rato), Frollo sabe do ódio desta mulher pela cigana, e parte para chamar o exército.
Esmeralda tenta convencer Gudule a liberta-la mas esta nega-se diz que a vai ver morrer. Diz-lhe que odeia as ciganas pois elas comeram a sua filha e mostra-lhe o sapato, a única recordarão que tem da existência da filha, Esmeralda ao ver o sapato estremece e mostra a Gudule o par do sapato, o olhar de um encontro tão desejado em moldes tão estranhos, mãe e filha.
Os soldados chegam à toca do rato onde Gudule esconde Esmeralda e tenta persuadir o preboste que a cigana fugiu, tudo está decorrer bem até Esmeralda ouvir Phobeus e sai da lucrana, o preboste ve-a e arranca da mãe para a forca.
Gudule tenta salvar a filha e num confronto com um soldado cai e morre.
Na torre da catedral virada para a praça encontram-se dois vultos, Frollo observa este espectáculo e Quasimodo observa Frollo. Quasimodo ao ver Esmeralda contorcer-se na forca fica paralisado, ouve nesse instante, Frollo soltar uma gargalhada grutal. Quasimodo ataca o padre empurrando o seu protector torre abaixo, este tenta sobreviver agarrando-se a saliências da torre, faltando-lhe as forças atira-se para a morte. Quasimodo desaparece para nunca mais ser visto.
O tempo não pára, vai passando na sua cadência impenetrável, e Gringoire torna-se um escritor de renome sobre a alçada da tragédia, Phobeus casa-se com Flor-de-Lis o rei Luís XI morre, a vida vai desaguando no rio sena. Passados dois anos e 18 meses dos acontecimentos (mais um preciosismo do autor) no planalto de Montfalcon onde foi sepultada Esmeralda e durante a transladação do corpo de Oliver o Gamo foram encontrados dois esqueletos, um esqueleto deformado abraçando um esqueleto ainda jovem como um colar, sendo ainda visível restos de roupa possivelmente branca. Neste segundo volume as personagens, a história têm mais fluidez, vivem mais, têm mais alma o romance pouco para na sua sequência de acontecimentos, é sem dúvida este volume que torna esta obra na grande obra que é "A Nossa Senhora de Paris".
Vítor Hugo tenta introduzir, sem nunca o conseguir, diga-se em abono da verdade, uma vertente de mistério/policial ao romance, continua nas suas detalhadas descrições que se acentuam e agarram nos sentimentos das personagens, sendo num ou noutro caso fatigantes, quebrando a barreira do ideal passando ao exagerado e caindo no "ridículo". Mas em todo o caso nunca tão fastidiosas como no primeiro volume e deve-se entender que poderia ser esta a forma e o rumo que Vítor Hugo pretendia dar ao livro.
A universalidade do tema "amor" aliada à escrita fantástica de Vítor Hugo "arrumam" este livro para a prateleira dos grandes clássicos, sendo precursor de um estilo literário muito próprio.
A força do povo a vastidão do poder monárquico que apavorado tenta aniquilar os seus vassalos, (a força sobre a razão) o autor demonstra uma afinidade com a realeza implementada na altura, esta parece querer mudar a sociedade, criticando a estrutura social existente desde a sociedade civil a episcopal.
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Comentário do Manuel Cardoso
Este segundo volume é claramente mais narrativo. Ufa! exclama o leitor ansioso por aventuras e desventuras de Quasimodo, Esmeralda e companhia! No entanto, mesmo por entre as peripécias mais ou menos empolgantes dos nossos heróis, nem por isso Victor Hugo resiste a incursões frequentes pela descrição de situações que depressa se tornam enfadonhas para o leitor mais ávido de acontecimentos do que de considerandos.
Ao longo deste segundo livro, ganha forma um retrato idílico de Esmeralda, a bela cigana que despertará amores inesperados e impossíveis: Quasimodo e Claude Frollo, o sineiro corcunda e o padre alquimista disputarão os impossíveis favores do coração de Esmeralda. Obviamente, amor e tragédia caminharão de braço dado ao longo desta aventura.
Esmeralda é jovem, bela, pura, ingénua, bondosa, alegre e inteligente. Que mais poderiam desejar um corcunda e um padre? Mas nem tudo (ou quase nada) são rosas na vida da bela cigana: a presença de uma cabra inteligente como companhia inseparável, a sua condição de cigana com todos os preconceitos e ódios que isso acarreta, fazem de Esmeralda uma candidata permanente à (in)justiça popular, eclesiástica e civil. Sem culpa formada, ela será sempre perseguida.
Esmeralda é esse povo martirizado que se expressa nas terríveis e condenadas revoltas (ilustradas neste livro pela espectacular tentativa de libertação de Esmeralda) e que se expressa também nas gárgulas e nas torres imponentes da catedral gótica; nas pedras frias e medonhas que compõem a beleza do gótico.
Na minha opinião, neste segundo volume e talvez mesmo em toda a obra, o personagem mais importante é Claude Frollo, o arcediago de Notre Dame. Ele é um clérigo que representa a tentativa de conciliação da ciência com a mais profunda superstição medieval – ele procura a grande quimera dos tempos medievais: fabricar ouro por processos químicos. Por outro lado, Frollo representa um clero retrógrado que nunca soube conciliar a religião com a bondade e compaixão que a deveriam caracterizar. É pregando a Bíblia que Claude pratica as mais atrozes injustiças, permitindo as torturas de Quasimodo e Esmeralda. Mau grado o amor que sente por Esmeralda, mau grado o afecto paternal por Quasimodo, Frollo é impiedoso na forma como permite os seus sacrifícios públicos, preferindo pactuar com a injustiça “oficial”. Victor Hugo exprime, através deste personagem toda a sua aversão ao Clero, bem como à maldade e ignorância que representa.
Depois de permitir que Esmeralda fosse torturada e condenada à morte, depois de tentar assassinar o seu apaixonado, Claude faz uma arrebatada e inacreditável declaração de amor. É o culminar de uma hipocrisia que não é só sua; é de uma mentalidade e de uma sociedade baseadas no abuso da desigualdade, da injustiça e da ignorância.
Depois de três quartos do romance composto por um clima lúgubre, triste e por vezes enfadonho devido a descrições e reflexões exaustivas, ganha forma o triângulo amoroso mais improvável (talvez) de toda a história da literatura: o padre Frollo, Quasimodo e Esmeralda. Este cenário quase dantesco expõe a verdadeira natureza irracional do ser humano: as paixões definem o homem, mais do que a sua racionalidade.
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Comentário da Paula T
Neste segundo volume de NSP, há uma narrativa mais alargada sobre a história em si. Como no primeiro volume não houve estória, mas só reflexão por parte de Victor Hugo, acho que neste volume, o autor não tendo opção para mais reflexões teve de dar início e desenvolvimento à sua estória. Ainda que parando aqui e ali para reflectir e divagar mais um pouco, enfim...
Esmeralda, Febo, Claude Frollo (o padre de Notre Dame) e Quasimodo passam a interagir.
Febo é um apaixonado pela vida, mas um ser egoísta.
Claude Frollo é um padre que caracteriza os padres de toda uma época (não sei é se será só daquela época...avant...), vê o seu sossego desfazer-se ao apaixonar-se por Esmeralda. Um amor avassalador que ou possui a amada ou prefere vê-la morta.
Esmeralda é vista como uma vítima da vida e dos preconceitos de um povo que não sabe viver sem os seus pensamentos mesquinhos e retrógrados. É uma sacrificada que não tem direito à palavra nem à defesa.
Quasimodo, o personagem que mais gostei desta narrativa é um ser ingénuo, capaz de se sacrificar para salvar quem mais ama, mesmo que a amada só lhe tenha indiferença.
Gostei claramente mais deste volume que o primeiro, no entanto foi uma leitura que fiz, mas que não me cativou. Só não desisti mesmo, porque foi realizada no âmbito de uma leitura conjunta, outro ponto que não me fez desistir foi o facto de ser a primeira obra que estava a ler de Victor Hugo e a curiosidade foi grande para ver até que ponto Victor Hugo ia continuar com as suas divagações e quando seria feita a ponte para o enredo.