30/10/2010

Leitura Conjunta "Nossa Senhora de Paris" II Volume

Esmeralda e Quasimodo
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Como estamos na última semana de Outubro, os membros do blogue já concluiram a leitura conjunta do II Volume do livro de Victor Hugo "Nossa Senhora de Paris".
Seguem-se as opiniões dos membros do blogue que leram o livro, os visitantes que quiserem participar podem colocar os seus comentários na caixa dos comentários deste post.
Atenção, porque as opiniões contem spoilers.
Comentário do Ângelo Marques
Este volume II inicia-se com um cortejar das donzelas presentes em casa de Flor-de-Lis à indiferença do jovem e belo Phobeus, a certo momento Flor-de-Lis chama por Esmeralda, que dançava na praça.
O espectáculo de Esmeralda enciuma as jovens e a cumplicidade na troca de olhares entre Phobeus e Esmeralda coleriza Flor-de-Lis, este episódio culmina na fuga de Esmeralda após a sua cabra Djali ter escrito o nome de Phobeus.
Frollo eleva o seu amor por Esmeralda para o patamar da paranóia, louco, procura saber mais sobre a bela cigana, descobre o seu relacionamento com Gringoire, fica tresloucado, mas mantendo a calma vai coleccionado informações vitais sobre Esmeralda, entre as quais que esta parece estar apaixonada por Phobeus, o belo capitão Phobeus.
Jehan irmão de Claude, boémio invertebrado, rouba Claude e com o dinheiro parte para a farra onde encontra Phobeus, por destino Frollo assiste a esse encontro, ao saber do encontro entre Phobeus e Esmeralda segue os parceiros da noite até Phobeus ficar só.
Claude Frollo interpola Phobeus, primeiro tenta evitar a realização do encontro não conseguindo ajuda Phobeus a ter o tão desejado encontro com Esmeralda. Transtornado, fora de si, Frollo que estava escondido numa divisão da pensão, apunhala Phobeus e foge do local deixando Esmeralda com o corpo inanimado.
Esmeralda é presa e acusada da morte de Phobeus, no julgamento é acusada e condenada à morte por enforcamento.
Frollo visita Esmeralda nos calabouços e suplica-lhe que o ame e assim terá a salvação (Vítor Hugo tem aqui uma das melhores descrições do amor de Frollo por Esmeralda) mas Esmeralda intransigente diz-lhe só estar interessada em Phobeus.
Já na praça e com o enforcamento à vista, Quasimodo como que um ser alado resgata Esmeralda da forca e carrega-a para a catedral de Notre-Dame, invocando o direito, muito usual nesses tempos, de santuário ficando assim a cigana protegida dos seus malfeitores, presa nessa catedral. O amor de Quasímodo por Esmeralda leva-o a protege-la e a cuidá-la, mas mesmo assim, grata por lhe salvar a vida, Esmeralda não consegue enfrentar a triste figura de Quasimodo.
Frollo ao tomar conhecimento da aventura de Quasimodo tenta entrar na cela onde Esmeralda vive mas é surpreendido por Quasimodo, quando este vê que é Frollo fica petrificado balança entre o amo e o amor.
O amor louco de Frollo por Esmeralda faz com que este planeie algo para ficar com ela. Convence Gringoire que as autoridades levantaram o estado de santidade para poderem ir buscar a Esmeralda e proceder ao seu enforcamento, a sua única salvação será se alguém fizer algo por ela antes de isto acontecer. Gringoire reúne e convence os vagabundos do Pátio dos Milagres a salvarem uma filha deles, Esmeralda, estes aceitam levar a cabo o assalto a Notre-Dame, mais pelas riquezas que esta contem do que pela vida de Esmeralda.
Após a chegada da noite os vagabundos da cité reúnem-se para o assalto, marcham como soldados até Notre-Dame, forçam a entrada, Quasimodo sobressaltado e confuso tenta resistir a este assalto, repele os vagabundos, estes contra-atacam e trava-se uma batalha mortífera. O rei que estava de visita a Paris, sabendo destes acontecimentos por Gringoire, é aconselhado a contra atacar esta rebelião popular visto ser um ataque a si próprio (eles atacam Notre-Dame, edifício do rei) assim o rei faz avançar o exército sobre os vagabundos, ordenado que no final enforcassem Esmeralda, fazendo ele aquilo que, pensava, que os vagabundos iriam fazer. O exército faz com que os vagabundos retirem após numerosas baixas nas sua fileiras. Enquanto esta luta era travada, Frollo e Gringoire, executavam a segunda parte do plano de salvarem eles Esmeralda, retiram Esmeralda da catedral, aqui Frollo não revela a sua identidade, através do rio sena.Quasimodo e o exército procuram por toda catedral por Esmeralda, espantados nada encontra o exército parte, Quasimodo insiste na procura.Frollo, Gringoire, Esmeralda e Djali, a cabra, chegados a terra avançam até à praça Grevé aqui Gringoire e Djali fogem, Frollo mostra-se a Esmeralda ameaçando-a de a entregar as autoridades se esta não o amar.
Esmeralda entrega-se à forca sem pestanejar, Frollo entrega Esmeralda a Gudule (mulher que vive na lucrana, na toca do rato), Frollo sabe do ódio desta mulher pela cigana, e parte para chamar o exército.
Esmeralda tenta convencer Gudule a liberta-la mas esta nega-se diz que a vai ver morrer. Diz-lhe que odeia as ciganas pois elas comeram a sua filha e mostra-lhe o sapato, a única recordarão que tem da existência da filha, Esmeralda ao ver o sapato estremece e mostra a Gudule o par do sapato, o olhar de um encontro tão desejado em moldes tão estranhos, mãe e filha.
Os soldados chegam à toca do rato onde Gudule esconde Esmeralda e tenta persuadir o preboste que a cigana fugiu, tudo está decorrer bem até Esmeralda ouvir Phobeus e sai da lucrana, o preboste ve-a e arranca da mãe para a forca.
Gudule tenta salvar a filha e num confronto com um soldado cai e morre.
Na torre da catedral virada para a praça encontram-se dois vultos, Frollo observa este espectáculo e Quasimodo observa Frollo. Quasimodo ao ver Esmeralda contorcer-se na forca fica paralisado, ouve nesse instante, Frollo soltar uma gargalhada grutal. Quasimodo ataca o padre empurrando o seu protector torre abaixo, este tenta sobreviver agarrando-se a saliências da torre, faltando-lhe as forças atira-se para a morte. Quasimodo desaparece para nunca mais ser visto. O tempo não pára, vai passando na sua cadência impenetrável, e Gringoire torna-se um escritor de renome sobre a alçada da tragédia, Phobeus casa-se com Flor-de-Lis o rei Luís XI morre, a vida vai desaguando no rio sena. Passados dois anos e 18 meses dos acontecimentos (mais um preciosismo do autor) no planalto de Montfalcon onde foi sepultada Esmeralda e durante a transladação do corpo de Oliver o Gamo foram encontrados dois esqueletos, um esqueleto deformado abraçando um esqueleto ainda jovem como um colar, sendo ainda visível restos de roupa possivelmente branca. Neste segundo volume as personagens, a história têm mais fluidez, vivem mais, têm mais alma o romance pouco para na sua sequência de acontecimentos, é sem dúvida este volume que torna esta obra na grande obra que é "A Nossa Senhora de Paris".
Vítor Hugo tenta introduzir, sem nunca o conseguir, diga-se em abono da verdade, uma vertente de mistério/policial ao romance, continua nas suas detalhadas descrições que se acentuam e agarram nos sentimentos das personagens, sendo num ou noutro caso fatigantes, quebrando a barreira do ideal passando ao exagerado e caindo no "ridículo". Mas em todo o caso nunca tão fastidiosas como no primeiro volume e deve-se entender que poderia ser esta a forma e o rumo que Vítor Hugo pretendia dar ao livro.
A universalidade do tema "amor" aliada à escrita fantástica de Vítor Hugo "arrumam" este livro para a prateleira dos grandes clássicos, sendo precursor de um estilo literário muito próprio. A força do povo a vastidão do poder monárquico que apavorado tenta aniquilar os seus vassalos, (a força sobre a razão) o autor demonstra uma afinidade com a realeza implementada na altura, esta parece querer mudar a sociedade, criticando a estrutura social existente desde a sociedade civil a episcopal.
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Comentário do Manuel Cardoso
Este segundo volume é claramente mais narrativo. Ufa! exclama o leitor ansioso por aventuras e desventuras de Quasimodo, Esmeralda e companhia! No entanto, mesmo por entre as peripécias mais ou menos empolgantes dos nossos heróis, nem por isso Victor Hugo resiste a incursões frequentes pela descrição de situações que depressa se tornam enfadonhas para o leitor mais ávido de acontecimentos do que de considerandos. Ao longo deste segundo livro, ganha forma um retrato idílico de Esmeralda, a bela cigana que despertará amores inesperados e impossíveis: Quasimodo e Claude Frollo, o sineiro corcunda e o padre alquimista disputarão os impossíveis favores do coração de Esmeralda. Obviamente, amor e tragédia caminharão de braço dado ao longo desta aventura. Esmeralda é jovem, bela, pura, ingénua, bondosa, alegre e inteligente. Que mais poderiam desejar um corcunda e um padre? Mas nem tudo (ou quase nada) são rosas na vida da bela cigana: a presença de uma cabra inteligente como companhia inseparável, a sua condição de cigana com todos os preconceitos e ódios que isso acarreta, fazem de Esmeralda uma candidata permanente à (in)justiça popular, eclesiástica e civil. Sem culpa formada, ela será sempre perseguida. Esmeralda é esse povo martirizado que se expressa nas terríveis e condenadas revoltas (ilustradas neste livro pela espectacular tentativa de libertação de Esmeralda) e que se expressa também nas gárgulas e nas torres imponentes da catedral gótica; nas pedras frias e medonhas que compõem a beleza do gótico. Na minha opinião, neste segundo volume e talvez mesmo em toda a obra, o personagem mais importante é Claude Frollo, o arcediago de Notre Dame. Ele é um clérigo que representa a tentativa de conciliação da ciência com a mais profunda superstição medieval – ele procura a grande quimera dos tempos medievais: fabricar ouro por processos químicos. Por outro lado, Frollo representa um clero retrógrado que nunca soube conciliar a religião com a bondade e compaixão que a deveriam caracterizar. É pregando a Bíblia que Claude pratica as mais atrozes injustiças, permitindo as torturas de Quasimodo e Esmeralda. Mau grado o amor que sente por Esmeralda, mau grado o afecto paternal por Quasimodo, Frollo é impiedoso na forma como permite os seus sacrifícios públicos, preferindo pactuar com a injustiça “oficial”. Victor Hugo exprime, através deste personagem toda a sua aversão ao Clero, bem como à maldade e ignorância que representa. Depois de permitir que Esmeralda fosse torturada e condenada à morte, depois de tentar assassinar o seu apaixonado, Claude faz uma arrebatada e inacreditável declaração de amor. É o culminar de uma hipocrisia que não é só sua; é de uma mentalidade e de uma sociedade baseadas no abuso da desigualdade, da injustiça e da ignorância. Depois de três quartos do romance composto por um clima lúgubre, triste e por vezes enfadonho devido a descrições e reflexões exaustivas, ganha forma o triângulo amoroso mais improvável (talvez) de toda a história da literatura: o padre Frollo, Quasimodo e Esmeralda. Este cenário quase dantesco expõe a verdadeira natureza irracional do ser humano: as paixões definem o homem, mais do que a sua racionalidade.
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Comentário da Paula T
Neste segundo volume de NSP, há uma narrativa mais alargada sobre a história em si. Como no primeiro volume não houve estória, mas só reflexão por parte de Victor Hugo, acho que neste volume, o autor não tendo opção para mais reflexões teve de dar início e desenvolvimento à sua estória. Ainda que parando aqui e ali para reflectir e divagar mais um pouco, enfim...
Esmeralda, Febo, Claude Frollo (o padre de Notre Dame) e Quasimodo passam a interagir.
Febo é um apaixonado pela vida, mas um ser egoísta.
Claude Frollo é um padre que caracteriza os padres de toda uma época (não sei é se será só daquela época...avant...), vê o seu sossego desfazer-se ao apaixonar-se por Esmeralda. Um amor avassalador que ou possui a amada ou prefere vê-la morta.
Esmeralda é vista como uma vítima da vida e dos preconceitos de um povo que não sabe viver sem os seus pensamentos mesquinhos e retrógrados. É uma sacrificada que não tem direito à palavra nem à defesa.
Quasimodo, o personagem que mais gostei desta narrativa é um ser ingénuo, capaz de se sacrificar para salvar quem mais ama, mesmo que a amada só lhe tenha indiferença.
Gostei claramente mais deste volume que o primeiro, no entanto foi uma leitura que fiz, mas que não me cativou. Só não desisti mesmo, porque foi realizada no âmbito de uma leitura conjunta, outro ponto que não me fez desistir foi o facto de ser a primeira obra que estava a ler de Victor Hugo e a curiosidade foi grande para ver até que ponto Victor Hugo ia continuar com as suas divagações e quando seria feita a ponte para o enredo.

O Estranho Caso do Cão Morto - Mark Haddon

A minha opinião: Esta é uma história contada na 1ª pessoa, por um adolescente de 15 anos, chama-se Christopher e sofre de autismo. A história inicia-se quando Christopher, ao atravessar a rua vê o cão do seu vizinho morto/"assassinado". Ao tentar desvendar a morte do cão, Christopher vai descobrir muitas outras coisas sobre parte da sua vida que desconhecia. É um adolescente difícil de criar e educar devido ao autismo, a calma nem sempre reinou em casa e foi causa de várias discussões por parte da família. Contudo o pai, o elemento mais calmo do seio familiar sempre soube lidar com a situação. Mas mesmo assim será que sempre agiu da melhor forma? Excelente aluno a Matemática e Ciências, Christopher é possuidor de uma memória fotográfica fantástica, mas tem uma grande dificuldade: entender os humanos e a linguagem ambígua que usam. A exactidão da matemática dá-lhe paz e a solidão transmite-lhe segurança, a sua rotina é crucial! Contudo, perante uma descoberta que faz, Christopher ultrapassa todos os seus limites e vai em busca das suas certezas. Esta também é uma história de opções. Opções que se tomam em detrimento de outras. A dúvida da opção acertada/errada sempre paira... Uma leitura cativante, que nos envolve em pensamentos sobre acções da vida real, sobre os problemas que muitas vezes não são os nossos, são os dos outros, mas que podiam ser muito bem os nossos. Que nos faz pensar na coragem e no amor de educar uma criança como Christopher e todas as dificuldades que isto implica. . Uma leitura que aconselho :)

Novo livro de Paul Auster - Sunset Park

Sunset Park de Paul Auster Edição/reimpressão: 2010 Páginas: 232 Editor: Edições Asa ISBN: 9789892310206 .
Sinopse: Durante os meses sombrios do colapso económico de 2008, quatro jovens ocupam ilegalmente uma casa abandonada em Sunset Park, um bairro perigoso de Brooklyn. Bing, o cabecilha, toca bateria e dirige o Hospital das Coisas Escangalhadas, onde conserta relíquias de um passado mais próspero. Ellen, uma artista melancólica, é assaltada por visões eróticas. Alice está a fazer uma tese sobre a forma como a cultura popular encarava o sexo no pós-guerra. Miles vive consumido por uma culpa que o leva a cortar todos os laços familiares. Em comum têm a busca por coerência, beleza e contacto humano.São quatro vidas que Paul Auster entrelaça em tantas outras para criar uma complexa teia de relações humanas, num romance sobre a América contemporânea e os seus fantasmas

29/10/2010

As Fogueiras da Inquisição - Ana Cristina Silva

Mais do que um romance, este livro constitui um testemunho histórico impressionante. As perseguições aos judeus, tanto pela tenebrosa Inquisição como pelo não menos cruel preconceito arreigado nas convicções populares, constituem algumas das páginas mais negras e brutais do nosso passado.
O Império que então se construía (reinados de D. Manuel I e D. João III) fazia de Portugal o país mais rico da Europa; no entanto, essa riqueza era um disfarce para a fome que ainda se passava no nosso país e, acima de tudo, a ignorância que grassava.
O Estado, na sua ânsia de justificar os erros de má governação, não só tolerava como incentivava o ódio aos judeus para sobre eles fazer recair as culpas de todas as desgraças.
Por outro lado, o Estado perseguia os judeus com a intenção de se apropriar dos seus bens. No entanto, até nesse aspecto se revelou a má governação que parece ser um traço comum de quase toda a nossa história: ao perseguir os judeus apropriou-se de algumas fortunas mas, ao mesmo tempo, provocou a saída para os países nórdicos (mais liberais) de muitas outras famílias endinheiradas.
Mas estes dramas políticos não se podiam comparar aos inenarráveis dramas humanos que a intolerância provocava.
A vida de Ester (avó de Sara que espera a morte na prisão) alerta o leitor para uma realidade muitas vezes esquecida: o monstro da Inquisição não se limitou aos milhares de mortos nas fogueiras; foram muitos mais os que se viram destruídos por torturas cruéis e muitos outros ainda que viveram tolhidos pelo medo, aterrorizados por uma absoluta maldade, praticada com requintes de crueldade, em nome de Deus.
Que Deus é esse que permite crimes tão hediondos? É uma pergunta que ficará eternamente por responder. No entanto, estes não foram os crimes de Deus; foram crimes de homens cegos pelo fanatismo e pelo egoísmo de quem se julga dono de verdades que, de tão absurdas, só a eles podiam convencer.
Notável é também o esforço da escritora para compreender o espírito do Inquisidor (D. João de Bragança). É difícil compreender como a crueldade e mesmo a maldade mais sádica pode esconder-se por detrás da convicção de que se está a praticar o bem.
Uma nota curiosa mas fundamental: ao longo de todo o enredo, são as mulheres que transportam os maiores sofrimentos e, ao mesmo tempo, o maior heroísmo. Se a História de Portugal está cheia de injustiças, foram sempre as mulheres as maiores vítimas. Por isso, serão sempre elas as maiores heroínas.
E no fim de tudo, por maior que seja a desgraça, há sempre uma luz triunfante que está para lá de qualquer dor: “haverá sempre uma luz que brilhará para lá da noite”.
Em suma: um livro triste, revoltante, mas que vale a pena ler porque a maldade tem de ser lembrada. Os maiores erros e crimes do passado assentavam na ignorância, na cegueira que Saramago tanto denunciou. E hoje, será diferente? Já não há fogueiras, mas seremos nós capazes de vencer as trevas do preconceito?

Texto anteriormente publicado em http://aminhaestante.blogspot.com/

Novo Livro de José Rodrigues dos Santos

O Anjo Branco de José Rodrigues dos Santos Edição/reimpressão: 2010 Páginas: 680 Editor: Gradiva Publicações ISBN: 9789896163907 .
Sinopse: A vida de José Branco mudou no dia em que entrou naquela aldeia perdida no coração de África e se deparou com o terrível segredo. O médico tinha ido viver na década de 1960 para Moçambique, onde, confrontado com inúmeros problemas sanitários, teve uma ideia revolucionária: criar o Serviço Médico Aéreo. No seu pequeno avião, José cruza diariamente um vasto território para levar ajuda aos recantos mais longínquos da província. O seu trabalho depressa atrai as atenções e o médico que chega do céu vestido de branco transforma-se numa lenda no mato. Chamam-lhe o Anjo Branco. Mas a guerra colonial rebenta e um dia, no decurso de mais uma missão sanitária, José cruza-se com aquele que se vai tornar o mais aterrador segredo de Portugal no Ultramar. Inspirado em factos reais e desfilando uma galeria de personagens digna de uma grande produção, O Anjo Branco afirma-se como o mais pujante romance jamais publicado sobre a Guerra Colonial - e, acima de tudo, sobre os últimos anos da presença portuguesa em África.
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«José Rodrigues dos Santos mantém o leitor colado à história.»Corriere della Sera, Itália
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«Um estilo de escrita prodigiosamente poético e melódico que enfeitiça o leitor.»Literaturzirkel Belletristik, Alemanha
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«Dos mais inteligentes romances da literatura contemporânea.»Standart, Bulgária
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«As histórias de José Rodrigues dos Santos estão cheias de substância e a sua leitura é galvanizante.»La Opinión, Espanha
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«Escrito com bom humor e uma erudição que resultam numa linguagem fluida.»Bravo, Brasil
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«José Rodrigues dos Santos fascina e informa, ao mesmo tempo que entretém.»Shelf Awareness , Estados Unidos
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«Um romance com profundidade.»Misdaadromans, Holanda

Caderneta de Cromos - Nuno Markl

Sinopse: A enciclopédia definitiva sobre o que nos deliciava nos anos 70 e 80 (e que é mais saudável que um granizado Fã, embora deva ter a mesma quantidade de tinta). Em O Homem Que Mordeu o Cão, Nuno Markl contou histórias muito bizarras. Mas haverá história mais bizarra do que crescer nas décadas de 70 e 80? Dos microfones da Rádio Comercial para as páginas profusamente ilustradas desta edição, eis a Caderneta de Cromos – reunindo uma centena dos mais bombásticos e inesquecíveis cromos não só da rubrica, como da nossa infância e juventude! Uma colecção que responde a questões pertinentes, tais como… - Samantha Fox e Kim Wilde: qual delas para casar? - Qual delas para coiso? - Quantas maneiras haviam de comer as bolachas Belinhas? - Usar um blaser branco igual ao do Don Johnson no Miami Vice, resulta na vida real quando se é caixa de óculos. - Como é que os kalkitos são uma metáfora para as relações sexuais sem amor? - Porque é que o Fizz Limão é o D. Sebastião da indústria dos gelados? - Como se resolve, afinal, o Cubo Mágico?”
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A minha opinião: O que dizer sobre este livro? Leiam e divirtam-se!
. Cromos que nos levam à infância e trazem recordações já esquecidas. Identifiquei-me com quase todos os cromos menos os dedicados exclusivamente aos rapazes, como os bonecos da Playmobil, pois nunca ansiei pelo barco pirata, mas... - colori as minhas pastilhas elásticas com pontas de lápis e ficavam lindas e muito coloridas, únicas :P; - brinquei ao elástico; - fumei cigarros de chocolate; - adorava o fizz limão; - e entre muitas outras coisas também fiz pastilhas elásticas de cola :P Como diz Nuno Markl, fizémos tudo isto e muito mais e ainda estamos vivos. . Uma leitura imperdível que o levará a fortes gargalhadas.

Novidades Livraria Civilização Editora

No Seu Mundo de Jodi Picoult O seu filho não consegue olha-la nos olhos. Será culpado? Edição/reimpressão: 2010 Páginas: 624 Editor: Livraria Civilização Editora ISBN: 9789722631877 . Sinopse: Jacob Hunter é um adolescente: brilhante a Matemática, sentido de humor aguçado, extraordinariamente bem organizado, incapaz de seguir as regras sociais. Jacob tem síndrome de Asperger. Está preso no seu próprio mundo - consciente do mundo exterior e querendo relacionar-se com ele. Jacob tenta ser um rapaz como os outros mas não sabe como o conseguir. Quando o seu tutor é encontrado morto, todos os sinais típicos da síndrome de Asperger – não olhar as pessoas nos olhos, movimentos descontrolados, acções inapropriadas – são identificados pela Polícia como sinais de culpa. E a mãe de Jacob tem de fazer a si própria a pergunta mais difícil do mundo: será o seu filho capaz de matar?
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Uma Semana em Dezembro de Sebastian Faulks Edição/reimpressão: 2010 Páginas: 424 Editor: Livraria Civilização Editora ISBN: 9789722632522 .
Sinopse: Londres, a semana antes do Natal de 2007. Durante sete dias, seguimos as vidas de sete personagens principais: o gestor de uma firma de investimentos que está a tentar fechar o melhor negócio da sua carreira; um futebolista profissional acabado de chegar da Polónia; um jovem advogado com pouco trabalho e demasiado tempo para pensar; um estudante que se deixou levar por teorias islâmicas; um crítico de literatura; um jovem estudante viciado em jogos e reality shows; e, finalmente, uma condutora de metro, cuja Linha Circular une estas vidas e muitas outras a cada dia. Com talento e humor feroz, Uma Semana em Dezembro explora os padrões e cruzamentos complexos da vida urbana moderna. À medida que o romance se encaminha para o final, as suas personagens, uma por uma, são forçadas a confrontar a verdadeira natureza do mundo que elas – e todas as pessoas – habitam.
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Centelhas de Hyatt Bass Edição/reimpressão: 2010 Páginas: 352 Editor: Livraria Civilização Editora ISBN: 9789722624763 .
Sinopse: Bonitos, talentosos e com uma família adorável, os Aschers parecem ter tudo. Joe e Laura são celebridades em Nova Iorque - um dramaturgo bem-sucedido e uma actriz talentosa. Mas, numa noite de Inverno, Thomas, o filho do casal com apenas dezassete anos de idade, morre, e os Aschers perdem tudo. Cerca de dez anos mais tarde, e à medida que o casamento da sua filha, Emily, se aproxima, a família anseia para se reconciliar. Mas, para o fazer, Joe, Laura e Emily terão primeiro de enfrentar o emaranhado de culpa e segredos antigos que os separou.Viajando entre o passado e o presente ao longo de dezasseis anos, Centelhas é a história emocionante e arrebatadora de uma família que luta para quase reconciliar com o passado e abraçar o futuro.
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Críticas da imprensa: “Mergulhando num complexo labirinto familiar, Hyatt Bass retrata de forma elegante a bonita confusão que é a família.”Publishers Weekly
“Um romance de estreia audaz e encantador.”Elle.com

Novidade Contraponto - A Primeira Noite - Marc Levy

A Primeira Noite de Marc Levy O autor francês mais lido em todo o mundo. Edição/reimpressão: 2010 Páginas: 352 Editor: Contraponto ISBN: 9789896660642 . O amor é a derradeira aventura – mas todas as aventuras implicam perigos. Do alto dos planaltos da Etiópia às paisagens glaciais dos Urais, Marc Levy conclui com o seu novo romance – A Primeira noite - a epopeia iniciada em O Primeiro Dia. Excerto:
«Há uma lenda que conta que a criança no ventre de sua mãe conhece todo o mistério da Criação, da origem do mundo até ao fim dos tempos. Ao nascer, um mensageiro passa por cima do berço e põe um dedo sobre os seus lábios para que a criança nunca revele o segredo que lhe foi confiado, o segredo da vida… (…) Este dedo pousado que apaga para sempre a memória da criança deixa uma marca. Essa marca todos nós a temos sobre o lábio superior, excepto eu.
No dia em que nasci, o mensageiro esqueceu-se de me visitar, e eu lembro-me de tudo.»
. «O romantismo deste livro é uma autêntica aventura.» Le Parisien «Um triunfo.» France Soir

26/10/2010

A Metamorfose - Franz Kafka

Gregor acorda transformado num enorme e repugnante insecto e assim vive os seus últimos dias. Há neste livro qualquer coisa de quase mágico: o enredo baseia-se num acontecimento completamente absurdo, impossível. No entanto, lê-se como se se tratasse de uma realidade, de algo perfeitamente natural e lógico. O leitor é levado a embrenhar-se no enredo, a seguir os sentimentos de Gregor, com a maior das naturalidades. Gregor era um caixeiro viajante que sustentava a família (absolutamente parasita) e suportava um patrão insensível e mesquinho. Inicialmente, a metamorfose parece significar a libertação em relação às obrigações e alienações de Gregor: o trabalho e a família. Mas, aos poucos, ela transforma-se numa terrível prisão que condena Gregor ao mais terrível dos castigos: uma absoluta e cruel solidão. A partir daí Gregor é vítima do desprezo por parte daqueles em função dos quais vivera: a família. Passa a ser considerado um peso, um encargo e nem mesmo a sua morte despertará a compaixão daqueles que tanto amara.

Anteriormente publicado em http://aminhaestante.blogspot.com/
Imagem retirada daqui.

24/10/2010

22/10/2010

O Remorso de Baltazar Serapião - Valter Hugo Mãe

José Saramago não andava longe da verdade quando afirmou que este livro era um verdadeiro “tsunami” na literatura portuguesa. A força, a violência da escrita, a desordem emocional que provoca no leitor, o desmascarar de fantasmas que persistem na memória colectiva portuguesa, são vagas de fundo que se escondem por detrás das 174 páginas deste livrinho e que emergem constantemente, para assaltar violentamente a mente de quem lê.
Primeira marca d’água sensível ao leitor: o estilo; a ausência de maiúsculas não é arrebique de escritor novato à procura de distinção; é o sinal de que a escrita corre como um rio e a leitura quer-se simples e corrediça. O falar do povo é o estilo do escritor; inovador mas com o sentido profundo da alma de gente.
O enredo decorre na Idade Média, tempo de El-rei D. Dinis, um tempo de pobreza e profundas desigualdades sociais; o herói da estória é Baltazar Serapião, da família Sarga, alcunha que advém do nome da vaca da família, ela própria figura central do enredo. Os Sarga confundem-se com a vaca e o povo encara-os como filhos da vaca, ou da terra, ou do pecado, ou da loucura. Serapião é um homem revoltado, filho da sociedade senhorial do seu tempo, em que os Senhores dispõem da vida da gente.
No meio de tudo há a mulher e o amor; mas a mulher, que desempenha o sagrado papel de servir o Homem que serve o Senhor, recebe no corpo e na alma a consequência lógica da cadeia hierárquica da violência: o Senhor é dono da vida do servo, como a mulher é propriedade do homem – a serva universal.
A violência sobre a mulher, é a ponta do iceberg de uma sociedade dominada pela força mas também por uma revoltante miséria espiritual, onde a ignorância é transversal aos vários estratos sociais: todos cultivam a superstição de forma quase religiosa. É a força bruta da ignorância a comandar a vidas das gentes e a mulher, ente sagrado e amado, é o alvo final de toda a violência de que o mundo é feito.
Um livro pungente, revoltante, enérgico, bruto. Real. Os medos e a estupidez que nós, homens do século XXI apontamos acusadores à Idade Média, prevalecem na nossa mente e o escritor faz-nos sentir isso; este não é um livro sobre a Idade Média nem um romance histórico; é um livro sobre os nossos monstros e fantasmas. É um livro real, medonho, onde matar uma mulher é castigo quase divino, onde uma vaca pode ser sagrada e amada, uma vaca que é mais que gente! A revolta exprime-se na violência e a hierarquia estende-se para a mulher.
É também um livro sobre o absurdo e o irracional do amor; do amor até à morte…
Também publicado em http://aminhaestante.blogspot.com/

21/10/2010

A Queda dos Gigantes - Ken Follett

Ken Follett apresenta-nos um romance histórico que relata um determinado período, nomeadamente a I Grande Guerra, devidamente enquadrada nos anos que a precedem (desde 1911) e os anos que se seguiram (até 1925). Os factos são relatados com grande pormenor e exactidão e, ao que me pareceu, pouco deve ter escapado ao estudo de Ken Follett, tamanhas são as descrições, os planos, as estratégias antes da guerra, durante a guerra e pós guerra. O leitor deve estar a pensar “bem, ela não gostou do que leu”. Não! Pelo contrário, adorei e aprendi imenso. Quero apenas deixar claro que ao pegar neste livro, o leitor vai encontrar essencialmente informações sobre a I Guerra Mundial. Este, se não me engano, também foi o principal objectivo de Follett, daí que o nome da trilogia seja “O Século”. Faz todo o sentido a informação histórica que aqui encontramos. Agora, todas as personagens que compõem a narrativa são marcantes. Quase todas têm um papel fundamental no desenrolar da história, não esqueçamos que é neste período 1911/1925 que se dá grandes transformações e evoluções a vários níveis nos países mais poderosos da Europa da altura: França, Inglaterra, Alemanha, Império Austro-Húngaro e Rússia. Pois, os EUA já se destacavam destes pela sua economia que era cada vez mais próspera. Inúmeros personagens são apresentados, várias famílias interagem, no entanto 5 famílias sobressaem e têm um papel fundamental na obra.
O romance tem o seu início com a apresentação da família Williams, uma família galesa que vive do trabalho nas minas. Billy o filho mais novo inicia-se no trabalho das minas com apenas 13 anos, um trabalho duro, perigoso e pouco saudável. A família Williams representa toda a sociedade que depende das minhas de carvão para a sua sobrevivência. Onde a pobreza permanece e a fé é uma constante. A fé e a esperança são a mola mestre da vida destas gentes.Nesta família há que salientar o papel de Billy enquanto ser religioso. Pois, a determinada altura apercebe-se da incoerência das pessoas crentes. Crêem, têm fé, cumprem os mandamentos de Deus e na prática agem de diferente forma. Desiludido com os seus, abandona a Igreja para não mais voltar. Através de Maud (irmã do conde Fitz) e Ethel, Ken Follet mostra-nos os primeiros passos de lutam que as mulheres deram para alcançarem alguns direitos que eram privilégios somente dos homens, tais como, o direito ao voto e um salário digno do trabalho que desempenham.
Maud, é uma verdadeira lufada de ar fresco nesta obra, ela representa as feministas que aparecem nesta data. Apesar de pertencer a uma família conservadora, ela é uma lutadora pelos direitos das mulheres, luta pelos seus objectivos e ideias, mesmo que isto escandalize a sociedade e a sua própria família.Ethel Williams que no início da obra é uma simples empregada, amante do conde, é uma das personagens que tem uma tremenda evolução no decorrer da narrativa. Ela e Maud fundam um jornal no qual publicam toda a informação que o governo quer esconder. Fitz, um dos personagens principais da história, é um conde conservador, possuidor de riqueza e título, no entanto reconhece nada ter feito que justifique tudo o que tem. Casado com Bea, de origem russa, também ela conservadora da sua cultura. As personagens alemãs a destacar são Otto Ulrich e Walter Ulrich. Otto é diplomata, conservador, intransigente à mudança, seu filho Walter é um jovem progressista que se apaixona por Maud (inglesa sufragista). Toda a Rússia é-nos apresentada através de Grigori e Lev. Uma Rússia decadente, onde o povo odeia o seu Czar e por conseguinte a nobreza e o clero.Grigori e Lev, enquanto crianças, assistem à morte do seu pai em terras da princesa Bea. Mais tarde, é também apresentada mais uma família russa, mas esta prospera em terras de riqueza, nomeadamente os EUA. O país do sonho, do trabalho, da fartura…Ken Follet, cria assim uma teia perspicaz entre os seus personagens. Com o crescente interesse pelo petróleo do México, começam a dar-se os primeiros indícios da guerra.
Inglaterra compra petróleo ao México para substituir o carvão que tanto utiliza. No entanto, a Alemanha também manifesta grande interesse pela mesma fonte de energia e vende armas ao México para a comprar. Assim, dão-se os primeiros desentendimentos entre EUA e Alemanha. Em todo o romance conseguimos perceber que o início da guerra e o seu fim depende dos desejos e interesses pessoais daqueles que detêm o poder. Um exemplo deste facto é o próprio conde Fitz que vê a guerra como uma necessidade para se sentir útil, para justificar o que tem, nem que isto represente a morte de milhares de vidas. Por sua vez, Otto defende que a Alemanha jamais deverá ceder à paz, porque se assim fosse a morte dos seus soldados teria sido em vão.
Quem está no terreno (os soldados), a partir de determinada altura já não entende os objectivos da sua luta. Sente fome, frio, desalento, abandono e solidão.A solidão é tanta que os inimigos interagem entre si. Jogam à bola em pleno terreno de guerra, fazem-se amizades, falam nas famílias, na saudade. Mas no fim da noite, cada grupo volta ao terreno, para as suas trincheiras. O fim da guerra é anunciado com o repicar dos sinos (não podia deixar de ser) em Londres. A guerra terminou, mas muito há a fazer… Ken Follet, nas suas últimas páginas dá-nos uma pista para o seu segundo volume da trilogia “…a revolução em Munique acabou (…) apanharam o líder. É Adolfo Hitler.”
. Este é um romance hisórico excelente, recomendo a quem ama o género!
(Comentário também publicado no ...viajar pela leitura...)

20/10/2010

A Queda dos Gigantes - Ken Follett

Há muito tempo não encontrava um livro que tentasse de forma tão declarada cruzar a realidade histórica com a ficção. O risco que Follett correu foi enorme. A História, ainda mais numa época tão polémica como a da Primeira Guerra Mundial dificilmente se compadece com esta miscelânea de factos e estórias.[Image]A ideia base faz lembrar o eterno Guerra e Paz. No entanto, nem a ficção se aproxima da criatividade e simbolismo de Tolstoi nem a análise histórica faz sombra à clarividência e profundidade do mestre russo.Ao longo de quase mil páginas, Follett parte para esta abordagem com um enquadramento de cinco famílias em locais estrategicamente significativos: - A família do jovem mineiro Billy, em Gales, que representa a grande massa anónima que faz as guerras, faz a História e alimenta o mundo; Billy, a irmã Ethel, “guerreira” pela causa sufragista e o pai sindicalista simbolizam a classe operária explorada e, no entanto, triunfadora na entrada da modernidade que o século XX viria anunciar.- A família de Fitz, inglês, representa a aristocracia tradicional, conservadora e arreigada ao preconceito, alimentando-se da injustiça social.- A família de Walther, alemão, alto funcionário governamental, envolve o mais tacanho tradicionalismo alemão, representado pelo pai, Otto, em contraste com as ideias modernas, democráticas de Walther.- A família Pechkov, na Rússia acompanha todo o processo conturbado de derrube do regime czarista e de instauração do bolchevismo soviético. Grigori é o revolucionário convicto, vítima das maiores atrocidades por parte do czarismo e Lev é o irmão oportunista que envereda pela trafulhice mais pérfida como forma de afirmação pessoal e vingança perante um passado de injustiça.- Nos Estados Unidos da América, Gus, assistente do presidente Wilson é a imagem da América como a terra prometida dos tempos modernos, o país cor de rosa em que todos os sonhos são possíveis.Por detrás da história de ficção, Follett apresenta-nos uma análise histórica que, em alguns aspectos, se revela muito interessante e inovadora:Os destinos do mundo, por vezes, dependem de conveniências pessoais; veja-se como alguns personagens são contra a guerra porque estão apaixonados; outros são a favor do conflito por egoísmo, vaidade ou por conveniência pessoal.Também a Guerra civil na Rússia, como outras guerras, é movida por interesses. Aliás, um dos méritos deste livro reside na atenção dada a um aspecto que a historiografia tem desprezado: o apoio (absurdo em termos ideológicos) da Alemanha ao bolchevismo e da Inglaterra às forças contra-revolucionárias.O autor opta por aproximar perigosamente os personagens ficcionais aos reais, causando situações pouco verosímeis, como a conversa do soldado Grigori com Kerenski ou de Lenine com os conservadores alemães. A tentativa de fidelidade histórica é por vezes obsessiva, o que retira interesse à narrativa ficcional. Follett procura, até à exaustão, ser rigoroso historicamente; isso leva-o a descrições demasiado pormenorizadas, principalmente da situação política na Rússia. Pelo contrário, despreza por completo os inúmeros combates que se deram nas colónias, principalmente em África. Nem sequer refere esse aspecto, o que constitui uma lacuna grave.O autor cai também em alguns exageros, como a importância da aviação na primeira guerra mundial (estava nos primórdios), a importância dos submarinos e o apoio financeiro (pouco verosímil) dos conservadores alemães a Lenine.No final da guerra fica a ideia de um certo idealismo em relação aos EUA – o país onde um politico pode casar com uma jornalista anarquista; o país da liberdade e da prosperidade. No entanto, esse é também o país onde Lev se torna o criminoso triunfante.Como curiosidade, gostava de realçar o desprezo total pela participação portuguesa na guerra. Portugal só é referido uma vez e em termos muito depreciativos: o delegado português à Conferência da Paz intervém uma vez para solicitar que o texto final inclua uma referência a Deus, sendo por isso alvo de chacota por parte dos outros delegados. Afinal de contas nada de estranho se considerarmos que Follett é inglês…No final da obra sobressai a grande ideia que se assume como uma espécie de lição de moral: o fim da Primeira Guerra Mundial lança o início da segunda; os vencedores da guerra procuraram cobrar à Alemanha todas as despesas e prejuízos, numa atitude de arrogância vingativa que acabou por alimentar o grande monstro chamado Nazismo. E o mundo pagaria caro por essa arrogância.A quem interessar esta temática aconselho o filme baseado na obra magnífica de Erich Maria Remarque, "A Oeste Nada de Novo".
Também publicado em http://aminhaestante.blogspot.com/

18/10/2010

Novidades ASA - Os Cadernos Secretos de Agatha Christie

Título: Os Cadernos Secretos de Agatha ChristieCinquenta anos de Mistérios Autor: John Curran Págs.: 496 Nas livrarias em Novembro
“Um livro indispensável para todos os fãs de Agatha Christie.” .
John Curran desvenda os grandes segredos da Rainha do CrimeInclui duas histórias inéditas: “O Incidente da Bola do Cão” e “A Captura de Cérbero” Em 1976, aos oitenta e cinco anos de idade, morria Agatha Christie, a escritora mais famosa do mundo.
A sua obra estava publicada em mais de cem países e os seus livros haviam vendido cerca de dois mil milhões de exemplares. Agatha Christie conseguira o impossível: desde a década de 1920 que escrevia mais de um livro por ano, e todos eles eram incríveis bestsellers mundiais. A sua imaginação prodigiosa, bem como o seu alucinante ritmo de trabalho, causam ainda hoje grande perplexidade. As pistas para os seus métodos e personalidade veriam a luz do dia em 2004, ano da morte de Rosalind, filha da autora. Na mansão da família, foram encontrados os cadernos privados de Agatha Christie: um extraordinário legado de setenta e três volumes escritos à mão! Mas foi apenas quando o arquivista John Curran começou a decifrá-los que a verdadeira dimensão deste tesouro se tornou óbvia. Neste livro, ele desvenda os grandes segredos da Rainha do Crime: as origens dos seus carismáticos detectives e enigmas surpreendentes, enredos alternativos, cenas eliminadas, e até mesmo planos para livros que não chegou a escrever. A investigação de John Curran revela uma grande quantidade de material nunca antes publicado, e inclui duas histórias completamente inéditas: “O Incidente da Bola do Cão” e “A Captura de Cérbero”. .
John Curran foi durante toda a sua vida um grande fã de Agatha Christie. Foi responsável durante anos pela newsletter oficial da Rainha do Crime e consultor do National Trust do Reino Unido durante a restauração de Greenway House, a imponente casa de campo de Agatha Christie. Tem trabalhado de perto com Mathew Prichard, neto da autora, para estabelecer o Arquivo de Agatha Christie, e está actualmente a escrever a sua tese de doutoramento sobre a escritora no Trinity College, em Dublin.

Quando menos esperamos... - Sarah Dunn

Sinopse: Holly Frick é uma escritora nova-iorquina de trinta e cinco anos, inteligente e divertida, que se vê confrontada com a separação do marido. Alex, por quem ainda está apaixonada. No seu círculo de amigos todos parecem capazes de retirar algum prazer da situação de vida em que se encontram, e Holly decide fazer o mesmo. Compra um cão e envolve-se com um rapaz bastante mais novo. O quotidiano de Holly e dos seus amigos, as amizades, os casos amorosos e as aventuras sexuais, a busca incessante da felicidade do amor e as dificuldades em manter uma relação estável formam um complexo padrão afectivo e emocional que é aqui retratado com profundidade, subtileza e muito humor. . A minha opinião: Esta é uma leitura agradável e que se faz rápida. De início, pode parecer que a mensagem é simples e pouco profunda, no entanto e com o decorrer da leitura vamos dando conta de uma reflexão que se faz despercebida, mas que persiste e que vai de encontro a uma mensagem implicita no livro: Vive o dia-a-dia como se não houvesse amanhã! No entanto, os personagens que seguem este pensamento, não conseguem deixar de pensar nas suas acções em prol da sociedade, da cultura e dos costumes. Assim, Amanda, Holly, Betsy e Leonard tentam seguir o caminho que lhes parece trazer mais felicidade, mas isto não lhes impede de duvidar e questionar este mesmo caminho. . Uma leitura leve, que aconselho para um fim de semana.
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Comentário também publicado no ...viajar pela leitura...

15/10/2010

BLUEBEARD'S EGG by Margaret Atwood

Brief Synopsis -
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Bluebeard's Egg is a book of twelve short stories. The short stories touch upon childhood memories and the cruelty men and women inflict upon themselves and each other. One of these short stories is entitled "Bluebeard's Egg," where the Bluebeard legend is retold as an ironic tale of marital deception. Atwood's humour and compassion seeps through the pages of this book and you can't help but tip your hat off once again to her writing style and creativity.

My Opinion -

I enjoyed the book from the very beginning, partly because I am a big fan of the short story genre. Each story captured my imagination and her injection of humour kept me intrigued and always wanting more. Some of the stories creatively portray some of the love/hate relationships between men and women. I liked how Atwood played with stereotypes and assigned them to the opposite character that these stereotypes are generally attached to. The stories in this book were stories of life, rich in imagery and language. Her stories were a comment on society today and I would definitely recommend this book to anyone looking for an engaging quick read.

lol?? !!

O outro dia estava eu numa loja, na fila para pagar, atrás de mim estavam duas miúdas e às tantas ouço uma dizer à outra a meio da conversa "lol". Fiquei embasbacada!
Esclareçam-me vocês, "lol" não é linguagem escrita e restrita da net ??
Ou ando eu desactualizada e já se diz "lol" por tudo e por nada a meio de um diálogo onde as pessoas estão presentes? (o que também já começa a ser raro)

14/10/2010

Alma - Luísa Castel-Branco

"Na noite em que nasceste madrugada adentro coisas estranhas aconteceram". "Começa assim a história de Alma. Depois dessa madrugada, o destino da criança de cabelos cor de fogo estava traçado. Particularmente dotada, inteligente, sensível e com uma percepção paranormal da realidade, Alma é olhada na pequena aldeia como um ser estranho. Rejeitada pela família e pelo povo, encontra refúgio junto de uma velha mulher, a Ti Ifigénia, também ela isolada e considerada bruxa.
Num dia de Outono, a mãe de Alma, que tinha como verdade assente que a filha era um caso perdido, envia-a para Lisboa como criada de servir. Na casa de Dona Sofia, a menina de cabelos cor do fogo é acolhida e educada como uma filha e pela primeira vez Alma sente-se amada e desejada. A partir dali, o seu futuro será, para o bem e para o mal, para o melhor e para o pior, completamente diferente do seu passado".
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A minha opinião:
Quando iniciei a leitura de "Alma" achei que ia ser interessante, com o decorrer da história dei conta de que todos os acontecimentos interessantes rapidamente terminavam, ou seja, quando pensava que algo ia chegar ao "auge" um personagem morria e passava-se ao acontecimento seguinte.
Quando cheguei ao fim do livro, comecei a questionar onde estava realmente a história principal e só a poucas páginas do fim é que realmente o romance tomou aquela proporção que se espera, pelo menos eu, e aí sim, não consegui parar de ler e confesso que chorei. A história decorre no período da ditadura em Portugal, mostra-nos as mentalidades "fechadas" cheias de superstições, tanto na classe baixa como na classe alta, em relação a tudo o que fugia à regra e ao estereótipo na altura. Gostei de ler Alma, mas não foi uma leitura que me tivesse apaixonado :(
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Comentário anteriormente publicado no blogue ...viajar pela leitura

13/10/2010

No Mundo das Maravilhas - Joaquim Magalhães de Castro

A minha opinião:
Eis uma obra especial, para quem gosta de viajar pelo passado. Mas não é propriamente de passado que nos fala este livro; é de memórias. Memórias de uma História, a do nosso país, que se espraiou pelo mundo. De Sacramento, na América do sul às portas de Meca, Portugal esteve e está presente.A “viagem” inclui lugares fascinantes e cheios de significado histórico como por exemplo: a antiga colónia de Sacramento, fundada pelos portugueses em pleno território do actual Uruguai; no Brasil, as fascinantes paisagens de Minas Gerais, região do sul do Brasil onde os portugueses fizeram fortuna com o açúcar, explorado por escravos negros, depois o ouro e mais tarde o café.
Na segunda parte do livro explora-se o sul de África, mais exactamente Moçambique, com a sua ilha e a memorável Quíloa, importante ponto de passagem das naus da carreira da Índia, de onde traziam as especiarias. Pelo sul da actual Arábia Saudita, o autor conduz-nos depois até às portas da cidade de Meca.
Mas, mais do que um livro de viagens, este é um livro de memórias. As memórias, afinal, não são só passado; são também um presente colorido que este livro nos faz testemunhar através de magníficas fotografias daqueles lugares distantes e que, afinal, foram Portugal.
Joaquim Magalhães de Castro constrói nesta obra um autêntico roteiro de viagem onde combina de forma muito atractiva, muito visual, três elementos essenciais: a nossa história, os testemunhos dos povos que hoje se podem encontrar nesses lugares e o elemento visual: fotografias de grande qualidade, que nos apaixonam pela cor e pelo significado; fotos do presente que são testemunhos do passado grandioso de Portugal; fotos impressionantes pela beleza paisagística e, acima de tudo, fotos que são testemunhos de gente. Porque o património não é feito de pedras ou tijolos; é feito de pessoas que o moldaram.
Em suma, um livro muito atractivo pela excelente qualidade visual, com testemunhos que podem ajudar a compreender aquela que foi a missão portuguesa no mundo e, afinal de contas, a nossa identidade nacional como um povo cosmopolita, um povo de viajantes.Assim, para quem gosta de ler sobre viagens este é o livro ideal.
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(comentário anteriormente publicado no blogue ...viajar pela leitura...)

Selecção: a revolução tranquila

Antes de mais, devo dizer que tenho tanto respeito pelos/as comerciantes de peixe como por qualquer outra profissão, desde que exercida com honestidade. No entanto, não há expressão que melhor defina o que se está a passar com a selecção nacional do que esta: acabou a peixeirada, a selecção começou a jogar futebol e a ganhar jogos.
Paulo Bento diz que o mérito é dos jogadores. Mas não só: o mérito é também dele próprio que sabe estar calado como ninguém. Afinal de contas, ele trouxe a tão propalada “tranquilidade”.
As polémicas em torno de Carlos Queirós atingiram os píncaros do ridículo, desde o debate em torno da definição teórica do que é considerado “palavrão” até a insinuações sobre as opções partidárias do seleccionador (é sabido como estas coisas ainda contam para algumas mentes menores).
Vivemos num país que adora polémicas e por isso o conceito de “espectáculo” envolve também grandes debates nacionais como “as mulheres de Cristiano Ronaldo”ou “os palavrões de Queirós”. Por todo o lado, interesses particulares determinam opções e fazem nascer polémicas onde a competência das pessoas é o que menos pesa na balança. Em vários aspectos da vida nacional, caminhamos de olhos vendados para a estupidificação da sociedade. O que se passou na selecção passa-se em toda a vida nacional: promovem-se guerras para promover vinganças pessoais, instalam-se polémicas para favorecer este ou aquele. Depois, alguma imprensa sensacionalista parece cada vez mais apostada em alinhar nestas polémicas de espectáculo mediático, fugindo a sete pés daquilo que mais ameaça os poderes instalados: a verdade dos factos. Um exemplo muito simples: hoje, no dia em que escrevo, todos os noticiários falam do heróico e espectacular salvamento dos mineiros no Chile. Mas toda a gente ignora que a empresa mineira afirmou não ter dinheiro para lhes pagar os salários. Se daqui a um ou dois meses muitos destes “heróis” estiverem a passar fome, isso não aparecerá nos noticiários; porque não dá espectáculo!
(caricatura de Paulo Bento retirada do site http://www.goncaricaturas.com/)

11/10/2010

Livros e Sons - Nº 14

A Obra ao Negro - Marguerite Yourcenar

Inquietante, perturbadora, a espera da morte. Zenão será perseguido; por ela e pela ignorância. Das duas, qual a mais tétrica, a mais terrível e impiedosa? Zenão será condenado por ter sido sempre fiel a si próprio, à sua humanidade, ao bem universal, à verdade. Ao bem por si só! Mas é vítima do ódio, do egoísmo, da cegueira. Do obscurantismo. A Obra ao Negro é um testemunho histórico impressionante, de uma época (início do séc. XVI) em que se cruzam a cegueira medieval e os conflitos dos tempos modernos, com a afirmação de novos regimes e Estado, perdidos em constantes guerras e conflitos. A visão radiosa do Renascimento é abafada pelos conflitos absurdos em torno da questão religioso (fruto da reforma protestante e contra-reforma). Zenão, vítima da sua qualidade de bastardo e de uma família obcecada pelo poder, abandona-se a uma mescla de hedonismo e solidariedade cristã, cultivando a reflexão interior, temperada com o espírito pragmático do renascimento. Tudo isto só poderia ter um fim: as teias da Inquisição. Impressionante o estilo. As palavras soam como música, numa linguagem fiel à época, encantadora! As descrições de Yourcenar brilham pelo realismo. O enredo não deixa escapar uma tremenda profundidade dos sentimentos. As reflexões filosóficas são constantes e profundas. Uma obra magnífica!
Texto publicado em http://aminhaestante.blogspot.com/ Julho de 2004
E o som deste livro é:

09/10/2010

08/10/2010

Venenos de Deus, Remédios do Diabo - Mia Couto

“A zanga é a nossa jura de amor”. Assim falava Munda Sozinha, companheira de vida do velho Bartolomeu Sozinho. Ele, velho mecânico de navios onde outrora calcorreou mares, agora não se limita a ficar em casa; ele é a casa; “depois de tantos anos, deixamos de viver em casa e passamos a ser a casa onde vivemos”. Depois de uma vida inteira no mar, só a casa lhe dá o ser; ou melhor, o quarto, a sua Nação, onde governa, gere a dívida externa e exonera administradores.
Um dos aspectos mais encantadores desta obra é o peculiar sentido de humor, simples e ingénuo, vindo da alma do povo e carregado com a sabedoria ancestral.
Fumando a tristeza, Bartolomeu sonha enquanto espera a morte. Sidónio, médico português voluntário, espera Deolinda. A vila inteira, Vila Cacimba, espera o futuro que tarda. Todos, sem futuro, brincam com o presente, como se a única alegria se fizesse nas partidas que ainda podem pregar à vida.
No meio da espera, o amor parece ser um ponto perdido no tempo; um alvo abstracto de todas as vidas, um final de enredo que apenas se antevê, apenas se sonha.
O amor, por vezes, é mesmo um lugar estranho. O amor e o sonho, ditos pelos homens soam por vezes com nome de pecado e crime: violação, incesto, infidelidade… muitos venenos, ou remédios? Coisas de Deus ou do Diabo? Cura ou castigo? Pouco importa… pouco importa, também, quem se alimenta desses venenos ou remédios com que se engana o tempo, porque para a vida não há remédio.
Apenas a espera, não necessariamente da morte. Talvez de um renascer para mais tarde remorrer…

#16 Llosa

Porque sim, hoje parafraseando o mais recente nobel da literatura, o grande Llosa, aquando recebeu a notícia que tinha ganho disse ...Pensé que era una broma... O obituário prematuro do livro. Porquê Literatura? Tantas vezes me aconteceu, em feiras de livros ou em livrarias, que um cavalheiro se aproxima de mim e me pede um autógrafo. "É para minha esposa, minha filha, ou minha mãe", explica ele. "Ela é uma grande leitora e ama a literatura." Imediatamente, eu lhe pergunto: "E você não gosta de ler?" A resposta é quase sempre a mesma: "Claro que eu gosto de ler, mas eu sou uma pessoa muito ocupada." Eu ouvi esta explicação dezenas de vezes: este homem e muitos milhares de homens como ele tem tantas coisas importantes para fazer, tantas obrigações, tantas responsabilidades na vida, que não pode desperdiçar seu precioso tempo "enterrado" em um romance, um livro de poesia ou um ensaio literário por horas e horas. Segundo essa concepção difundida, a literatura é uma actividade dispensável, sem dúvida e uma actividade nobre e útil para cultivar a sensibilidade e as boas maneiras, mas, essencialmente, é um entretenimento, um adorno que as pessoas só com muito tempo de lazer podem pagar. É algo para encaixar no meio dos desportos, do cinema, um jogo de bridge ou xadrez, e ela (leitura) pode ser sacrificada sem escrúpulos quando se "prioriza" as tarefas e os deveres que são indispensáveis na luta da vida. Artigo Completo, em Inglês (aqui) http://www.robinprior.net/items/vargasllosa.htm Noticia via blog Revista LER (aqui) http://ler.blogs.sapo.pt/

07/10/2010

Gonçalo M. Tavares (Novos livros)

Feira do Livro de Frankfurt 2010: Gonçalo M. Tavares Em Frankfurt, apresentam-se dois novos livros de Gonçalo M. Tavares. Na LeYa, Uma Viagem à Índia (Caminho) e na Porto Editora Matteo Perdeu o Emprego. Noticia via Blotailors, mais aqui. No site Blogtailors pode acompanhar todas as novidades desta feira. Que inveja.

06/10/2010

Livro - José Luís Peixoto

O Livro narra a saga da demandada dos Portugueses para França tendo como suporte uma vila do interior de Portugal, o autor criou uma vasta gama de personagens que lhe permitem criar um enredo absolutamente fantástico, personagens como Ilídio, Cosme, Galopim, Adelaide, Josué, Lubélia ou até mesmo Libânia perduraram na memória do leitor durante bastante tempo (até os nomes, escolhidos a dedo, são tão belos e misteriosos que nos remetem num segundo para a época descrita). O livro "fala-nos" do abandono de Ilídio, por parte da mãe, esse filho sem pai, criado por Josué, apaixona-se por Adelaide num amor impossível que a tia de Adelaide, Lubélia, se encarrega de executar esse predestino. Somos levados a viver o sacrifício daqueles que enfrentaram uma viagem entre Portugal e Paris, um salto mortal sem rede. Mais do que a beleza da história quero salientar que o livro esta repleto de deliciosos pormenores, desde a data para a inauguração da fonte nova até ao timing de desligar a telefonia em dias mais quentes a construção da casa da guarda a história do palheiro entre muitas outras. Um livro dividido em duas partes completamente distintas, a primeira, essa narração fantástica, uma história que nos prende, absorve neste enredo de personagens simples mas de carácter. Uma linguagem simples fluida e uma história cativante, cheguei a não reconhecer José Luís Peixoto nesta parte do livro, fiquei intrigado e com uma pulga atrás da orelha, pensei é bonito é bom mas não é extraordinário. Viramos a página, remetemo-nos na segunda parte do livro, viramos a página, viramos a história, viramos o livro, a pulga sai detrás da orelha, reconhecemos o autor, José Luís Peixoto, com o avançar sentimos o músculo da sua força o romance passa de bom a extraordinário. José Luís Peixoto, extrapola-se, sai do próprio livro junta-se ao leitor, enfim é um de nós e assim é difícil não gostar.

Para acompanhar este livro só posso recomendar um vinho do Porto, um Vintage de 1994 pois este foi um ano «monumental» para os vintage.

P.S. (Para os leitores bracarenses) Apresentações e sessões de autógrafos de "Livro", por JLP 31/10, 15h30 - BRAGA - Livraria Bertrand do Braga Parque

Vencedor do Passatempo - Grácia Nasi

O blogue e a Esfera dos Livros agradecem a todos os que tentaram a sua sorte no passatempo Grácia Nasi de Esther Mucznik.
O passatempo contou com 127 participações.
. As respostas correctas às questões colocadas são: . 1- Grácia Nasi não teve medo de desafiar quem? R- Homens, papas, reis e o seu próprio destino. 2- Em que ano nasceu Grácia Nasi? R- 1510 3- Como se chama a autora do livro? R-Esther Mucznik . O vencedor do passatempo é: 97 - Susana Madeira . Parabéns ao vencedor e boas leituras :)

Cinco Tempos, Quatro Intervalos

Resumo:
Uma menina gordinha chamada Dulce encontrou sete gatinhos na escola, quase afogados, e por isso faltou a uma das aulas por isso. Mas há um pequenino problema que a põe muito triste: os pais não a deixam ter nem sequer um gato em casa e a Dulce gostou muito de um gato todo cinzento. Haviam três pretos, três pretos e brancos e um cinzento e Dulce ficou com um amor ao gato cinzento. Será que vai consegui convencer os pais?
Opinião:
É uma história triste porque Dulce é gozada por todos por ser um pouco mais gorda que o normal.
Eu acho que a autora do livro, Ana Saldanha devia continuar a história para contar o que aconteceu aos gatos se ela ficou com o gato ou não...
Mas até gostei de ler a história.
Boas Leituras! :D

05/10/2010

Lote 12-2º Frente - Alice Vieira


Resumo: Mariana é uma menina de doze anos que vive num apartamento alugado, mas que numa noite a mãe diz-lhe que se vão mudar, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Mas Mariana não concarda em se mudar pois ela viveu doze anos naquela casa e gosta tanto dela como se fosse dela, o que não é porque é alugada. Quando Mariana chega á sua casa nova e dela, pois os pais vão comprá-la e não aluga-la, sente que a casa não é dela. Ela diz que não cheira a ela nem a ninguém da família, cheira sim a tinta, achão encerado... A sua irmã, Rosa, não se importa, mas até ajuda a que a casa seja mais de "gente". Mariana sente que deixou algo importante para trás e que as novas pessaoas que irão alugar a sua antiga casa terão já lá memórias e recordações, enquanto que naquela casa, lote 12-2º frente, não há nada apenas tinta nova, chão novo, paredes novas... Mas Mariana ao longo de meses e meses a conviver com os vizinhos, vai começar a aprender a gostar daquela casa e com o tempo o lote 12-2º frente irá cheirar a "gente" e irá entrar no coração daquela feliz família! Opinião: Eu gostei muito desta história, talvez até a história que eu gostei mais, pois ensina-nos a gostar e a aprender que a vida muda e anda para a frénte e nós também temos que andar. Esta história sem dúvida devia ser lida por todos: Crianças, adolescentes, adultos, idosos, todos pois tenho a certeza que todos os que lerem irão gostar. Espero que leiam e que gostem tanto quanto eu gostei!!! Boas Leituras!!!

04/10/2010

Diário de uma Totó - Rachel Renée Russel

Resumo:
Nikki é uma adolescente problemática, que entrou numa escola onde as raparigas mais fixes e populares lhe fazem a vida negra!! Mas com a ajuda de duas amigas fantásticas ela conseguirá ultrapassar tudo e mostrar que é muito melhor que todas as populares juntas e que pode ser até mais popular que elas.
Opinião:
É um livro muito engraçado que fala um pouca da vida "miserével" de uma adolesecente. É um livro que recomendo para adolescentes e crianças. Este livro mostra que com as amizades tudo se pode resolver, pois a amizade vence todas as barreiras!!!

02/10/2010

Livro - José Luís Peixoto

José Luís Peixoto é já um caso sério na literatura portuguesa. Este Livro é a prova definitiva da sua maturidade literária; diria mais, da sua afirmação como o melhor escritor português da actualidade a par de António Lobo Antunes.
Livro é uma obra claramente dividida em duas partes, bem distintas. Na primeira narra-se a saga de Ilídio e Adelaide, num ambiente rural que atravessa os míseros anos da ditadura salazarista. Tempos de miséria e de fome. Fome de pão mas também de liberdade. Para Ilídio e Adelaide a felicidade era proibida pelo preconceito, pelo medo, pela pobreza de pão e de espírito.
Por todo o lado, a PIDE, o medo, a fome e a ignorância.
Neste reino de injustiça e obscurantismo a emigração ilegal para França, estimulada pelo fantasma de uma guerra colonial (que ninguém entendia) surge como a ponte para a salvação. Uma ponte de esperança mas também envolta em medos e perigos.
Ao longo destas páginas, vamos vivendo a luta permanente destes heróis da miséria e sorvendo com emoção a sensibilidade que Peixoto transpõe para as palavras. Mau grado o ambiente negro que se vivia, Peixoto consegue povoar a narrativa com um sentido de humor discreto mas encantador, que não encontramos nas suas obras anteriores. Talvez este seja o livro em que Peixoto melhor consegue encaixar a poesia que o caracteriza numa narrativa cheia de emoção e incerteza para o leitor.
Na segunda parte do Livro, todo o tom da narrativa se modifica: a esperança renasce; a vida adquire tons mais vivos; o mundo ilumina-se. E o marco dessa mudança é o 25 de Abril. O amor de Ilídio e Adelaide ressurgirá finalmente; a vida passa a ser escrita na cor da esperança. O autor do livro brinca com o narrador e com o leitor, em jogos de palavras e de enredo que encantam quem lê, como se diz na contracapa do livro, “onde se ultrapassam as fronteiras da literatura”.
Nesta segunda parte, a qualidade literária da escrita e a sensibilidade do autor foram capazes de fazer estremecer de emoção e assombro este modesto leitor.
Faltam os adjectivos para descrever esta emoção.
Mais do que cativante, mais do que genial, a escrita de Peixoto é absolutamente mágica. Há episódios que me provocaram um arrepiante estado de deslumbramento que nunca sentira em qualquer outro livro. A não ser talvez esse profundo Voyage au but de la nuit que o próprio José Luís Peixoto tão abundantemente refere nesta obra, mas sem cair nos tons negros, quase apocalípticos de Celine.
Em suma, Livro é O Livro! Talvez o melhor livro escrito em Portugal após o Memorial do Convento e Ontem não te vi em Babilónia.
E termino este comentário com a sensação de que faltam palavras; tudo o que poderia escrever seria insuficiente para exprimir a onda de emoção que este livro me provocou.
Obrigado, José Luís Peixoto!
(texto também piblicado em http://aminhaestante.blogspot.com/)